Quando ontem, no noticiário da manhã, fui confrontada com esta frase “Vanessa morreu por queimaduras graves, resultantes de ter sido metida numa banheira de água a ferver, sendo depois atirada ao rio Douro”, todo o meu corpo vibrou num frémito de revolta e de horror, imaginando o sofrimento daquela criança.
Tenho netas. Daria a minha vida para as defender. E, para mim própria, formulei indignada a pergunta: com é possível haver alguém capaz de cometer tais atrocidades contra uma criança indefesa, ainda mais, um pai e uma avó, seres com o dever de protegerem-na?!
Não, não lhes chamo seres humanos. Não posso dar-lhes esse atributo. No meu entendimento são apenas feras selvagens, e das mais ferozes, que devem ficar engaioladas numa jaula de grades de aço, bem fortes, para o resto da vida.
Senhores psicólogos, senhores psiquiatras, senhores sociólogos, que explicações têm para o que está a acontecer com a sociedade dos nossos tempos? Que está a acontecer à sociedade contemporânea, em que pais, mães, avós... matam filhos e netos, crianças espancam até à morte desgraçados indefesos, como aconteceu no Porto há uns tempos, alunos atacam escolas e matam professores e colegas, como tem acontecido por esse mundo fora…
É um não findar de atrocidades que se praticam e nos chegam todos os dias através dos noticiários, e nos deixam apavorados com caminho tomado pela humanidade.
Algo está acontecer de muito assustador à raça humana.
Ou será que estas coisas também aconteciam em igual ritmo no passado, mas não tomávamos conhecimento delas? Tudo agora se sabe, em todo o mundo, quase no minuto seguinte a terem acontecido, graças a facilidade de comunicações.
Será apenas isso? A raça humana sempre foi assim cruel e feroz para com os seus pares indefesos, só que esses acontecimentos não chegavam até nós?
É possível. É possível que sempre tenha sido assim. Mas tenho algumas dúvidas; tenho alguma dificuldade em crê-lo. Toda a minha vida lidei com crianças dos seis aos catorze anos. Aqui e em Angola. Muitas centenas me passaram pela mão: crianças brancas, negras, mestiças…, oriundas dos ambientes mais diversos, muitas vezes desestabilizados e muito precários precários, e não creio que, alguma vez, qualquer dessas crianças fosse capaz de levar a cabo aquele acto de crueldade e sadismo, praticado por aquelas 14 crianças, no Porto, contra o desgraçado do sem-abrigo…
Jeracina Gonçalves