Pesquisar neste blogue

segunda-feira, novembro 14, 2011

A INFIDELIDADE

Um jovem advogado senta-se à minha frente do outro lado da mesa, com a sua companheira, e a conversa começa a desenvolver-se sobre banalidades, até que surge o tema “infidelidade”
“A infidelidade feminina é muito mais grave que a masculina” – diz.
Fito-o, incrédula! E assusto-me com o que oiço. Um homem civilizado, jovem, a falar-me nestes termos sobre infidelidade?!
Em que século estamos?
Em que país vivemos?
Nos tempos de hoje, princípios do século XXI, em Portugal, país da Europa, como é possível um jovem advogado ter o mesmo pensamento machista de seu pai ou de seu avô?
Não posso acreditar.
“O homem tem relações com uma mulher, sai dali e, pouco depois, já nem se lembra do nome dela.
A mulher não. Antes de ter relações já o homem lhe anda na cabeça há muito tempo” – continua.
Não, não é possível! Os homens têm de evoluir. Essa forma de agir e de estar pertence a um passado que agora não tem lugar.
Não deve, nem pode ter lugar na relação homem/mulher. É uma questão de respeito.
O respeito que deve existir entre duas pessoas que se amam e se confiam.
E tal forma de pensar, na cabeça de um advogado, é ainda muito mais negativa e assustadora.
Pois, a meu ver, tem responsabilidades acrescidas, na medida em que vai ter influência nas sentenças - defesa ou acusação - e na forma como se criminalizem as ações relativas ao relacionamento homem/mulher.
Se um homem insulta, bate ou mata por ciúme é menos criminoso que uma mulher que faça o mesmo, pelo mesmo motivo?!
Os homens têm de entender (e as mulheres também) que a infidelidade é uma falta grave para com o outro, a não ser que nem um, nem o outro se importem com as atitudes e comportamentos relacionais do parceiro nesse campo. E tenham a tal,  agora, chamada relação aberta, não querendo saber quem dorme com quem. De contrário é um crime. Seja a masculina, seja a feminina.
É um crime praticado contra o outro, pela dor, pelo sofrimento que lhe inflige.
Em alguns casos é quase um homicídio: assassina um pedaço da alma do que é traído.
É uma falta de dignidade própria e uma falta de respeito por si e pelo outro, que em si confia.
O homem e a mulher não são animais irracionais. Não podem dar satisfação a todos os seus impulsos do instinto. São dotados de vontade e de inteligência para poderem resistir aos impulsos impostos pelo instinto.
Como não pode matar, também não pode trair a pessoa à qual jurou fidelidade.
Se o sentimento acabou, se há outra pessoa que cala mais fundo e começa a ocupar o lugar que antes pertencia ao parceiro, com dignidade, com lealdade, com verdade, fala-se, expõe-se a situação e toma-se a decisão digna entre pessoas que se respeitam.
A infidelidade é igualmente ignóbil, quer seja a masculina, quer seja a feminina.
Jeracina Gonçalves