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segunda-feira, outubro 17, 2016

...ENTRE VIZINHAS


Em certo dia de Outono
Encontraram-se lá na quinta
A vindima e a desfolhada:

- Como vai, ó Desfolhada?

- Ando triste, amiga minha
Sinto-me muito sozinha
Sinto-me abandonada!...
Já fui alegria nas eiras
Com cantares ao desafio
Em despiques bem picantes
E rapazes e moçoilas
Desnudando espigas loiras
Trocavam olhares provocantes.
Se o milho-rei aparecia
Havia grande alegria
Muitos beijos e abraços...
E hoje..., amiga minha,
Sinto a tristeza na alma,
Sinto o cansaço nos braços!..

-Ó vizinha, tenha calma!

Já fui danças, já fui risos,
E fui palco de emoções:
Rapazes e raparigas
Despindo as loiras espigas
Soltavam os corações.
Havia grande alegria,
Muitos beijos e abraços...
E hoje..., amiga minha,
Sinto a tristeza na alma,
Sinto o cansaço nos braços!...

- Olhe para mim, Desfolhada:
Acha que sou o que fui?
Da faina alegre dos campos
Eu fui, no Outono, a rainha!
Gente, em alegres ranchos,
Percorria campos e vinhas
E ia cortando os cachos
De uvas boas… docinhas…
E enquanto enchiam os cestos
De uvas negras e douradas
Repercutiam-se nos ares
Suas vozes cristalinas
E sadias gargalhadas.

Às estradas e caminhos,
Dei magia, dei encanto.
Num passo forte e marcado,
Entoando mágico canto,
Os homens, em carreirinha,
Transportavam cestos vindimos
De uvas bem madurinhas...

E os carros de bois a chiar,
Com as dornas a abarrotar,
De uvas brancas e pretas,
Espalhavam pelo ar
Novo som a acrescentar
À fantástica sinfonia
Desse tempo de magia.

E à noite, nos lagares,
Fui alegria, fui música,
Fui desgarradas, cantares...
Espalhei contentamento
E gargalhadas no ar!...

Ó Desfolhada..., por Deus!
Não desespere, assim!
Fomos importantes p’rás gentes.
Fomos prazer, alegria...
E deixámos lindas lembranças
Nos velhos, jovens, crianças
Que nos viveram um dia!

As nossas vidas foram belas!
(Tanto a sua, quanto a minha.)
E os que nos viveram, recordam
Com Amor e nostalgia
A Vindima e a Desfolhada
Alegres! Bem animadas!
Como já foram, um dia.

Este poema foi escrito há muitos anos. 
Hoje apeteceu-me fazer uma busca pelo baú das antiguidades...
Jeracina Gonçalves

domingo, outubro 16, 2016

QUADRAS SOLTAS


O Outono bate à porta
Vem em boa companhia
Traz consigo uvas e nozes
Castanhas e muita alegria!

Riem nos soutos ouriços
Sobe um fuminho no ar
Fura-se o pipo na adega
Saltam castanhas no lar!

Dos ouriços sorridentes
Soltam-se, rodopiam no ar,
Belos e brilhantes pingentes:
A boa castanha p´rá assar!

As castanhas na fogueira
Já começam a estrondear
Entremos na brincadeira
Vamos cantar e dançar!

Castanhas e sal no centro do fogo:
Castanha a saltar, o sal a estalar...
Abraça a fogueira e entra no jogo
É tempo de rir, cantar e brincar.
Jeracina Gonçalves
"1N" JANELA ABERTA

sexta-feira, outubro 07, 2016

NAS MARGENS DO DOURO


A Natureza em mudança
borda agora um novo manto
vistoso, cheio de encanto,
em musselina esmeralda
bordada com fios de ouro
e pedras de turmalina.

Nesse manto-tesouro
nesse manto verde e ouro
matizado de rubi,
manto de rara beleza,
envolve-se a Natureza
tal e qual mulher garrida
da sua beleza orgulhosa.

A Natureza, assim vestida,
encantadora e vistosa,
mira, então, a sua imagem
no cristal das suas águas:
Esplêndida miragem!
Que fiel reprodução!

É assim a Natureza:
Sempre mágica, atraente,
com um encanto diferente
                   ao longo de cada estação.
Jeracina Gonçalves
"in" Janela Aberta