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quarta-feira, novembro 15, 2006

À BEIRA DO RIO




Neste recanto de paz, vibrante em cor e odores,
dançam os ramos com os godos refulgentes
do fundo do leito do rio. Dançam e fazem desenhos,
belas alegorias de cor. Reflectem toda a beleza,
oferta da Mãe-Natureza, que m'arrebata os sentidos,
alaga o meu  olhar, inspira-me... Faz-me sonhar!
JG

quarta-feira, novembro 01, 2006

O PICO, NA ILHA DO PICO





Mama da Terra, poderosa e pródiga, cingida em novelos de vaporoso tule,
mamilo a descoberto em oferta ao infinito.

Assim é o Pico, na ilha do Pico, neste exacto momento em que escrevo, nesse seu jogo de esconde-esconde com os turistas, que, de olhar ávido, perscrutam a névoa na ânsia de surpreenderem a sua nudez total. E, às vezes... poucas vezes, desnuda-se despudoradamente.
Mas por pouco tempo. No segundo seguinte, envergonhado pela ousadia, esconde-se por detrás de uma cortina enovelada e cinza, por vezes multicolorida, negando-se a mostrar a sua nudez aos olhares que o procuram avidamente através da névoa.

Agosto/06
JG

segunda-feira, outubro 23, 2006

A VINDIMA NO ALTO DOURO

Risos crepitam, soltos, em cascata,
pelos ares…
– risos de criança
ceifam-se cachos de pérolas e rubis
dos corpos fecundados dos altares da esperança
doces ternuras
amores secretos
brandas esperanças em noites de luar…
risonhas auroras
vozes soltas, alegres
arremessadas à imensidão do ar
alegres, brejeiros e doces abraços
corações a cantar
éteres embriagantes
bafos quentes – mosto a fermentar
doce “Lágrima”, mel dourado
nas cubas e nos lagares.

Alto Douro Vinhateiro
esse manto verde trigueiro
salpicado de cores quentes
que veste agora teus altares
refulge, nas águas serenas
matizes resplandecentes de lava a crepitar
cambiantes de poentes…
O sol a morrer no mar.

Jeracina Gonçalves

sexta-feira, setembro 29, 2006

MENINA TRAQUINA

Esta menina traquina,
travessa e buliçosa
tem o jeito da andorinha
tem o perfume da rosa.

Interessada e curiosa
mexe em tudo o que vê
fala de tudo o que toca
é imagem do passado
que meu coração invoca.
JG

quinta-feira, setembro 21, 2006

PALAVRAS

Palavras podem ser pedras
Dilaceram e rasgam a carne
Se arremessadas com fúria
Cavam feridas profundas
Que sangram e podem matar.

JG
Setembro/06

sábado, setembro 16, 2006

PAZ

Beijos de espuma acarinham meus pés
No horizonte azul uma pomba branca
Música tangida nas cordas do mar
Pálpebras decidas cerram meu olhar
Olho a distância, que minha alma alcança
Doce candura, olhar de criança.

JG

quinta-feira, agosto 10, 2006

O MEU PAÍS

Um país que crianças elimina
e não ouve o clamor dos esquecidos.
Onde nunca os humildes são ouvidos
e uma elite sem Deus é que domina.
Que permite um estupro em cada esquina
e a certeza da dúvida infeliz,
onde quem tem razão baixa a cerviz
e maltratam o negro e a mulher,
pode ser um país de quem quiser,
mas não é, com certeza, o Meu País.

Um país onde as leis são descartáveis
por ausência de códigos correctos
com 90 milhões de analfabetos
e multidão maior de miseráveis
um país onde os homens confiáveis
não têm voz, não têm vez, nem directriz,
mas corruptos têm voz, têm vez, têm bis
e o respaldo de um estímulo incomum
pode ser o país de qualquer um,
mas não é, com certeza, o Meu País.

Um país que os seus índios discrimina,
e a ciência e a arte não respeita,
um país que ainda morre de maleita
por atraso geral da medicina,
um país onde a escola não ensina
e o hospital não dispõe de raio-x
onde o povo da vila só é feliz
quando tem água de chuva e luz de sol
pode ser o país do futebol,
mas não é, com certeza, o Meu País.

Um país que é doente, não se cura,
quer ficar sempre no terceiro mundo
Que do poço fatal chegou ao fundo,
sem saber emergir da noite escura.
Um país que perdeu a compostura,
atendendo a políticos subtis,
que dividem o Brasil em mil "Brasis",
para melhor assaltar de ponta-a-ponta,
pode ser um país de faz-de-conta,
mas não é, com certeza, o Meu País.

Um país que perdeu a identidade,
sepultou o idioma português
aprendeu a falar pornô e inglês,
aderindo à global vulgaridade.
Um país que não tem capacidade
de saber o que pensa e o que diz.
E não sabe curar a cicatriz
desse povo tão bom que vive mal,
pode ser o país do Carnaval,
mas não é, com certeza, o Meu País.

(Orlando Tejo / Edvaldo Chaves / Divaldo Alves)

quinta-feira, agosto 03, 2006

SOU O ESPAÇO

Sob a quietude da imensidade azul
Chega até mim o sussurro do mar:
Minha alma se agita, se abre d’encanto
Ao beijo do sol, ao mar e ao seu canto.

Rubra almofada, bem fofa e macia,
Em leito de pétalas sustém o meu ser
Cativa os meus sentidos um celeste olor
Do beijo do sol, do mar e da sua cor.

Embriagados os meus sentidos
Minha alma, alada e solta,
Liberta dos grilhões da minha humanidade,
Sem peso e sem matéria,
Ascende à liberdade do tempo e do espaço.
Habito a luz em meu abraço
Sem contornos… sem limites…
Veste-me o azul. Sou o Espaço!

Jeracina Gonçalves

quinta-feira, julho 27, 2006

ESPELHO


A Natureza exuberante, viva
saudável e bela
grita de alegria e, em esplendor,

a pujança do seu Amor!
Curia, Junho/96



Posted by Picasa

domingo, julho 09, 2006

UTOPIA?... TALVEZ…


Portugal é o quarto melhor do mundo em futebol. E isso é bom.
Tudo o que der ao povo português um sentimento de orgulho nacional é bom. Precisamos dessa corrente de energia positiva, que nos ligue como força e eleve o ego nacional; mas precisamos de transportar o exemplo que nos foi dado pela nossa Seleção para as nossas empresas, para as nossas escolas, para os nossos partidos políticos, para os nossos ministérios, para o nosso dia-a-dia e tirarmos o nosso país do marasmo económico e cultural em que se encontra.
Todos juntos. Cada um no seu local de trabalho.  Seja na escola, na fábrica, no hospital, no centro de saúde, no restaurante, no hotel…Em qualquer posto de trabalho. O que é importante é que cada um tenha em mente colocá-lo entre os melhores do mundo. 
Seja qual for o local do nosso trabalho. Seja qual  for o  nosso trabalho, trabalhemos com um sentimento de união, sem pensarmos no que cada um receberá agora; mas pensando no País que poderemos e queremos construir para todos; para os nossos filhos e para os nossos netos. Trabalhemos como se todos estivéssemos a trabalhar para cada um de nós, e não cada um a pensar que está a trabalhar para o outro. Se o país for rico, educado, desenvolvido, todos seremos beneficiários dessa riqueza, desse crescimento. Não é com greves nas empresas, nas escolas, nos hospitais, e por ai fora, que as condições económicas, sociais, educacionais, de saúde, e todas as que possamos imaginar, melhorarão. As greves, numa época de economia tão precária e de globalização, em que somos invadidos por produtos vindos de fora, muito mais baratos, enfraquecem o poder da nossa  economia, das nossas empresas e, quantas vezes, levam-nas à falência. E se é uma grande empresa estrangeira, fecha. Simplesmente. Como, aliás, tem acontecido. E seremos mais uns tantos a ir para o Fundo de Desemprego. E seremos cada vez menos a produzir fundos para o Fundo de Desemprego, para a Segurança Social, para o Fundo de Pensões...
Uma empresa que vai à falência arrasta consigo outra e outra e outras: empresas fornecedoras, que deixarão de receber o pagamento dos seus fornecimentos e, consequentemente, acabarão também por falir. E a corrente no Fundo de Desemprego engrossa…
E é assim que o tecido económico e, por arrastamento, o tecido social, o tecido educacional, e por ai fora, se vão deteriorando cada vez mais.
Demos as mãos. Todos. Todos sabemos que há reformas que precisam de ser feitas, deixemos que o Governo as faça. E os partidos políticos têm muito a fazer nesse campo.
Em momentos de crise não pode, não deve haver opções partidárias; deve haver opções nacionais. Juntem-se os melhores de cada partido com o Governo e colaborem nas reformas que precisam de ser feitas. Esqueçam que são do PS, PSD, CDS, PC, BE, Verdes… Sejam Portugueses!
Única e simplesmente, sejam Portugueses!
E a Comunicação Social tem muito a fazer também:
Se o Governo não age com honestidade, com responsabilidade, denuncie. Denuncie os corruptos. Denuncie todos aqueles que ocupem lugares de poder, pagos por todos nós, e que se aproveitem deles em benefício próprio. Denuncie, mas seja correta e responsável ao fazê-lo: em muitos casos, nas suas mãos está a guerra ou a paz.
E também os dirigentes Sindicais.
Também eles têm aqui grande responsabilidade e grande poder (o poder exercido com honestidade, traz grande responsabilidade), alertando os seus associados para o perigo atual das greves e de determinadas reivindicações.
Vamos criar riqueza com todas as forças vigilantes e unidas no mesmo objetivo. Depois exijamos o direito de usufruirmos dela com equidade.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/POrtugal

terça-feira, julho 04, 2006

A MENTIRA

“Horácio, um rapaz de 14 anos, pastor, gostava de brincar com a solidariedade e os bons sentimentos dos aldeões e, quando lhe dava na realíssima gana, gritava por socorro, dizendo que andava lobo a atacar-lhe o rebanho, e fazia com que os camponeses deixassem os seus trabalhos e corressem para lhe acudir. Depois ria-se deles. Gozava-os sem o menor pudor, nem respeito pelos seus bons sentimentos, nem pela solidariedade que lhe demonstravam.
Até que um dia o lobo chegou.
Pediu auxílio, mas já ninguém acorreu ao seu apelo.
Ninguém acreditou na veracidade do seu pedido de ajuda e teve de se defender, e ao rebanho, do lobo, sozinho, não conseguindo evitar que este lhe levasse o melhor cordeiro.”
É uma história antiga. Vinha no meu livro da 4ª classe.
A meu ver, ilustra bem as consequências da mentira para quem a pratica, e o sentido da mesma em relação ao outro, àquele que a sofre.
A mentira é falsidade, é traição, é desrespeito... É desconsideração pelo outro.
A mentira denuncia o mau carácter e os baixos sentimentos de quem dela se utiliza.
O mentiroso engana, trafulha, ofende.
O mentiroso é um cobarde. É um traidor. Atraiçoa a confiança que o outro nele deposita. Induz o outro em erro.
Confesso que lido pessimamente com a mentira (seja de que tipo for), e com o mentiroso.
Mas, infelizmente, cada vez mais faz parte do quotidiano das sociedades contemporâneas.
Entrou na corrente do dia-a-dia da vida. Usa-se e abusa-se dela: é a mentira inocente, a mentira piedosa, a mentira social…
Tudo expressões para desculpabilizar a mentira.
E mente-se nos negócios, mente-se no amor, mente-se nas relações sociais…
Aldraba-se, ludibria-se, ilude-se… e, tudo isto, muitas vezes, sob a bandeira da boa educação.
A mentira é mentira. E seja qual for o tipo de relação em que entre, mina, destrói e mata, mais cedo ou mais tarde,  qualquer relação: seja de amor, seja de amizade, seja de negócios...
Nenhuma relação resistirá, durante muito tempo, em meu entender, num ambiente de mentira.
A hipocrisia, a dissimulação, o disfarce assentaram arraiais, onde devia haver lealdade, franqueza, honestidade, verdade, que são, a meu ver, os pilares básicos de uma sociedade coesa, forte e dinâmica.
JGonçalves
Barcelos/Portugal

quinta-feira, junho 22, 2006

PARA LÁ DO MARÃO

Nascida dos montes
(para lá do Marão)
traçada na rudeza da fraga
na limpidez da água
na leveza do ar...
temperada na dureza da criação
é nobre, é viril
sensível, gentil...
a alma formada em tal condição!

Não sabe usar máscaras
nem vãos artifícios;
não compra
não vende
nem se deixa comprar.

Franca e frontal
abomina a mentira
a ignóbil traição...
É digna. É leal.

Firme e constante no jeito de amar
o rico ou o pobre
para si é igual.
Não faz distinção.
É apenas irmão.
Jeracina Gonçalves

domingo, junho 18, 2006

Que está a acontecer com a sociedade dos nossos tempos?

Quando ontem, no noticiário da manhã, fui confrontada com esta frase “Vanessa morreu por queimaduras graves, resultantes de ter sido metida numa banheira de água a ferver, sendo depois atirada ao rio Douro”, todo o meu corpo vibrou num frémito de revolta e de horror, imaginando o sofrimento daquela criança.
Tenho netas. Daria a minha vida para as defender. E, para mim própria, formulei indignada a pergunta: com é possível haver alguém capaz de cometer tais atrocidades contra uma criança indefesa, ainda mais, um pai e uma avó, seres com o dever de protegerem-na?!
Não, não lhes chamo seres humanos. Não posso dar-lhes esse atributo. No meu entendimento são apenas feras selvagens, e das mais ferozes, que devem ficar engaioladas numa jaula de grades de aço, bem fortes, para o resto da vida.
Senhores psicólogos, senhores psiquiatras, senhores sociólogos, que explicações têm para o que está a acontecer com a sociedade dos nossos tempos? Que está a acontecer à sociedade contemporânea, em que pais, mães, avós... matam filhos e netos, crianças espancam até à morte desgraçados indefesos, como aconteceu no Porto há uns tempos, alunos atacam escolas e matam professores e colegas, como tem acontecido por esse mundo fora…
É um não findar de atrocidades que se praticam e nos chegam todos os dias através dos noticiários, e nos deixam apavorados com caminho tomado pela humanidade. 
Algo está acontecer de muito assustador à raça humana.
Ou será que estas coisas também aconteciam em igual ritmo no passado, mas não tomávamos conhecimento delas? Tudo agora se sabe, em todo o mundo, quase no minuto seguinte a terem acontecido, graças a facilidade de comunicações.
Será apenas isso? A raça humana sempre foi assim cruel e feroz para com os seus pares indefesos, só que esses acontecimentos não chegavam até nós?
É possível. É possível que sempre tenha sido assim. Mas tenho algumas dúvidas; tenho alguma dificuldade em crê-lo. Toda a minha vida lidei com crianças dos seis aos catorze anos. Aqui e em Angola. Muitas centenas me passaram pela mão: crianças brancas, negras, mestiças…, oriundas dos ambientes mais diversos, muitas vezes desestabilizados e muito precários precários, e não creio que, alguma vez, qualquer dessas crianças fosse capaz de levar a cabo aquele acto de crueldade e sadismo, praticado por aquelas 14 crianças, no Porto, contra o desgraçado do sem-abrigo…                                                             
Jeracina Gonçalves