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sexta-feira, agosto 24, 2018

Hoje a minha alma só tem olhos para ti.
Não vejo as flores a iluminarem o canteiro
As árvores a sorrirem no jardim
Ou o melro de bico amarelo,
Passeando-se sob a japoneira lustrosa,
A piscar o olho para mim.
Hoje a minha alma só tem olhos para ti.
Acordaste-me com um beijo suave em minha face
Os os teus dedos, carinhosos,
Passearam-se entre os meus cabelos revoltos
Acariciaram os meus ombros docemente
E, suavemente, puxaram-me para ti…
Hoje a minha alma só tem olhos para ti.
Está em ti toda a beleza que a minha alma encanta.
Já não vejo a beleza plantada em volta de mim
Toda a beleza que a minha alma aspira está em ti.
Jeracina Gonçalves
24/08/2018
Barcelos, Braga, Portugal


segunda-feira, agosto 13, 2018

DOIS LIVROS SOLIDÁRIOS

 
O livro "A VIAGEM", lançado em julho de 2017 e o  livro "HISTÓRIAS DE  GENTE SIMPLES", publicado em julho de 2018, são dois livros solidários, cujo produto total se  destina ao Projeto de  Bolsas de Estudo do Lions Clube de Barcelos.
Poderá pedi-los e informar-se sobre o preço, enviando um mail para: jeracina.g@gmail.com. Ser-lhe-ão enviados pelo correio. Obrigada
Jeracina Gonçalves
Barcelos-Braga-Portugal
13/09/18


quarta-feira, agosto 08, 2018

…"pela manhã, no açude, entre a ramagem protetora dos freixos e dos amieiros frondosos! 
Parece-lhe sentir ainda o frémito de frescura e de prazer, que lhe percorria o corpo nu ao mergulhá-lo nas águas límpidas, fluentes e doces, porque aquelas águas eram doces; tinham um aroma e um sabor adocicado, que guarda até hoje na memória.
Ali, naquele rio, trocara o seu primeiro beijo de amor; fora ele, também, o palco da sua primeira paixão. Tinha então treze anos e ela um pouco menos.
Era filha de um casal, amigo dos pais, uns primos afastados que viviam em França, e viera passar umas férias de verão com eles.
Era linda! Muito loura, com uma pele de veludo e uns grandes olhos da cor da água do rio a refletir o azul límpido do céu. Era tão linda que se apaixonara no primeiro cruzamento de olhares, tomado por um turbilhão de sensações até aí completamente desconhecidas, mal aqueles olhos da cor de céu tocaram os seus. E foram inesquecíveis as férias que passaram juntos. Idílicas! Diz-se que nunca se esquece o primeiro amor e está inclinado a aceitar esse dito como uma verdade inquestionável. Aquele primeiro amor foi curto e inocente, mas intenso e arrebatador como nunca sentiu outro. E, quando as férias acabaram, regressou ao colégio de coração partido e ela a França, para junto dos pais. 
Durante vários anos não voltaram a ver-se e cada qual seguiu o seu rumo na vida. Outros amores vieram e partiram: uns passageiros e leves como a brisa que passa, outros intensos, cavando fundo e arrasando a consciência; mas aquele primeiro ficou ali guardado como uma pétala macia a aconchegar o coração"...

"Memórias"
"in" HISTÓRIAS DE GENTE SIMPLES
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Braga/Portugal




O espaço em meu redor veste-se da música dos pássaros e do riso das flores.
Abre-se-me em abraços de luz através das coisas que tocam a minha alma.
A luz mansa do crepúsculo enrosca-se no forte cromatismo das nuvens
e despede-se, lentamente,
como lava em cascata a deslizar por entre os desfiladeiros da montanha.
                            
                             Jeracina Gonçalves
                            Barcelos/Portugal

terça-feira, agosto 07, 2018

…"Atirado, assim, aos pontapés da vida, com apenas doze anos: a idade que tinha quando a minha mãe morreu naquela tarde indelével na minha memória, levada nos braços traiçoeiros do mar, que é pai, que é amigo, mas é também verdugo, conforme o estado de espírito que o domina.
O mar é o meu passado, o meu presente, o meu futuro. Não imagino a minha vida a desenvolver-se numa qualquer atividade ou em qualquer lugar longe do mar. Nunca poderia dar certo. Concebido ao ritmo das ondas da borda do mar, o mar é o meu espaço como de um peixe ou de um qualquer mamífero marítimo ou outro qualquer ser vivente do mar. Dele me alimentei, na sua fímbria e em seu seio cresci, ri, brinquei, chorei e sofri: gritei de medo e aos céus me dirigi em súplica, pedindo proteção contra a sua fúria devastadora e cruel; adormeci e sonhei ao som doce do seu marulhar; sob o seu brilho, o seu colorido, a sua voz doce ou tenebrosa, foi educada a minha sensibilidade e a minha arte e foi induzido o meu trabalho: a profissão que exerço. Aprendi a temê-lo, a respeitá-lo e a amá-lo. E, hoje, tiro dele o sustento para mim, para a minha família e para tantas outras famílias que comigo trabalham. Enfurece-me de raiva e de desespero quando destrói o que com as minhas mãos, com a minha vontade e zelo e com o meu coração construí. Acalma-me e dulcifica a minha alma quando o procuro com o coração em pedaços e ele, manso, terno, amigo, me afaga e me recebe em seu seio e, envolvendo-me afetuosamente com seus braços carinhosos, dá vigor aos meus, que em braçadas fortes o percorrem e dele arrecadam o alento que me harmoniza e pacifica."...
"Aos Pontapés da Vida"
"in" HISTÓRIAS DE GENTE SIMPLES
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal

Gosto
Com

segunda-feira, agosto 06, 2018

…"O mar é o meu espaço
Onde me sinto e me abraço
Ao coração que sinto pulsar
De anseio por outro mar
Que este mar venha tocar
Para abraçar o meu mar.



Fui concebido no mar.
Ao sabor das ondas doces
Meu pai, uma borboleta,
A sua semente deixou
Na minha mãe em flor
E pelo mundo voou.

O mar faz parte de mim. Foi o útero, o berço, a escola onde me criei, cresci e aprendi a viver. É a minha vida. O meu sangue. O pulsar do meu coração a desenvolver-se, a aperfeiçoar-se desde o primeiro momento. Desde quando um espermatozoide se escapuliu por entre os milhões que o acompanhavam e, mais veloz e mais forte que qualquer outro, fecundou o óvulo e originou a primeira célula do meu ser no mar quente do útero da minha mãe. Logo desdobrada em duas, quatro, oito…, e assim se foram multiplicando… multiplicando… multiplicando e aperfeiçoando durante"... 

"Aos Pontapés da Vida"
"in" HISTÓRIAS DE GENTE SIMPLES
Jeracina Gonçalves

domingo, agosto 05, 2018

DESILUSÃO


Nas minhas mãos vazias de ti
Resta apenas a lembrança
De um tempo feito esperança
Sumido na areia da praia
Sem cânticos, sem rosas, sem luz…

Sentada na borda do mar
Esperei ver-te voltar
Abraçado às ondas bravas
Com que enrolas o meu olhar.

As ondas do mar devassei
Com o meu olhar. Perscrutei
Cada pico, cada baixio
E todo o seu derramar
Na hora d’areia beijar.
Se voltaste… não te vi.
Nas ondas do mar me perdi.
                                    Jeracina Gonçalves


sábado, agosto 04, 2018


"...Criara oito filhos. Uma família grande. E agora está só. Só e sem saúde. O marido morrera há muitos anos num desabamento da mina onde trabalhava. Ficaram lá cinco soterrados na galeria. Ele e mais quatro. Foi uma grande desgraça que aconteceu na aldeia. Ficou com os filhos ainda pequenos. O mais velhinho tinha, na altura, catorze anos. Lá os foi criando como pôde, com o fruto do seu trabalho e com a pequena pensão que ficara a receber do marido. Mas quando tomaram idade, partiram à procura de melhor vida. Uns para um lado, outros para outro..., partiram todos. Ficou só.
Ficara muito triste ao vê-los partir, mas compreendia-os. Compreendia a sua ambição, o seu desejo de melhor vida. Ali não havia futuro. As terras eram fracas, produziam pouco. E não havia outra maneira de ganhar a vida. Não havia outros trabalhos. A velha mina, que no passado dera trabalho a muita gente, fechara há muitos anos. E os homens, a gente nova partiu quase toda à procura de melhor futuro. Os seus filhos foram também. Nos primeiros tempos ainda lhe escreviam. Depois...
Nos dias em que recebia carta de qualquer um deles era dia de festa. Havia música de violinos no seu coração. Corria de carta na mão para casa da professora para que lha lesse. Não sabe ler. Nunca fora à escola. Bem pena teve, sempre. Mas naquele tempo era assim. Na idade em que devia andar na escola andava com o gado no monte. A escola não era obrigatória. Era só para os ricos. Os pobres precisavam de trabalhar. Os seus pais precisavam do seu trabalho para ajudar a angariar o sustento..." 

"in" As vizinhas - HISTÓRIAS DE GENTE SÍMPLES
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal