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terça-feira, abril 29, 2014

SOU LIVRE, POSSO FAZER O QUE ME APETECER.


É uma expressão que se ouve, às vezes, por aí, e que me levou a refletir um pouco e a questionar-me sobre o que é “ser livre e poder fazer o que me apetecer”, expressão que me parece imbuída de um egocentrismo desmedido.
Julgo não ser possível esse tipo de liberdade de “fazer o que me apetecer”, a não ser em pensamento ou, talvez, em forma de expressão artística. Ai poderemos fazer o que nos apetecer, sem filtros a regular a nossa criatividade. E os outros terão sempre a liberdade de ir ver, apreciar e julgar a nossa arte, ou não. Porém trazida para o quotidiano, traduzida em ações do dia-a-dia, essa expressão não me parece viável. Posso pensar o que quiser – não há filtros para o pensamento -, mas não posso agir como quiser. Tal amplitude de liberdade é impraticável em sociedade. Esbarra com a liberdade do outro, a quem tenho o dever de respeitar.
Ninguém é totalmente livre. Todos temos responsabilidades para com a sociedade em geral e, em particular, para com os que dependem de nós e para com os que nos apoiam, nos ajudam e nos protegem.
“A minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro”. É chavão, mas é assim. Só quem não tenha ninguém: família ou amigos, e viva isolado da sociedade, como um eremita, longe de tudo e de todos, poderá ter, eventualmente, desses devaneios. E nem mesmo esses poderão fazer o que quiserem sem que sofram consequências pelos seus atos. A sociedade se encarregará de regular as suas ações e de punir as suas transgressões.
Estamos todos interligados e dependentes uns dos outros. E sempre haverá um ponto, mais próximo ou mais distante, em que minha liberdade e a expressão das minhas ações poderão colidir com as do meu vizinho.

Jeracina Gonçalves

quarta-feira, abril 23, 2014

A BARRAGEM

Lá em baixo, no fundo da escarpa agreste, alta e pedregosa, cilhado por uma faixa de cimento armado e encurralado entre os contrafortes rochosos da serra, espelho profundo e límpido reflecte a beleza de um firmamento azul cristalino, decorado com vaporosas pétalas de seda branca, dispersas pelo espaço luminoso. Em si contém a vida, a energia que fornece vida, movimento e progresso às nossas próprias vidas. E é palco de belíssimos e animados espectáculos, cujos protagonistas são os belos barcos de recreio onde pulsam corações e se soltam risos, alegria, vivacidade e energia, em disputas de alegres competições; ou é simples espaço de recreação e convívio, onde se disputam animados concursos de pesca; ou é o local perfeito - pela beleza tranquila das suas águas mansas - para um passeio romântico de dois corações apaixonados, embalados na ondulação mansa desse espelho tranquilo a reflectir a beleza do céu; ou é, simplesmente, um local onde as famílias e os  amigos se juntam para nadar, rir e brincar, numa azáfama de vida feliz e saudável. 
As possibilidades  que oferece são imensas. Cada qual pode aproveitá-las segundo as suas próprias conveniências e gostos, desde que  tenha em consideração de que é um espaço  aberto ao outro, e que deve usá-lo com o respeito pelo outro, com parcimónia e gosto, sem feri-lo ou conspurcá-lo, para que quem venha a seguir possa sentir o mesmo prazer que a si proporcionou. 
Já foi riacho de montanha: potro vadio trotando sem entraves nem barreiras ao seu impulso impetuoso. Porém, esse tempo descuidado, sem compromissos nem responsabilidades, não podia continuar, desperdiçando assim a sua energia criadora. Era tempo de criar juízo, de assumir responsabilidades e cumprir o seu dever máximo para com a Humanidade. Foi domado, educado, responsabilizado. Travaram-lhe o ímpeto aguerrido com que galgava precipícios, soltando alegres e trocistas gargalhadas. E, pondo-lhe freio, colocaram-no ao serviço do bem-estar e do progresso da Humanidade, aproveitando e orientando a sua força, a sua jovialidade, a sua alegria, para iluminar as noites escuras de lugares, cidades, vilas e aldeias, aquecer os dias e noites enregelados de Inverno, produzir riqueza fazendo movimentar máquinas variadas. E tantas outras coisas que sua energia acumulada proporciona e facilita à vida humana.
Jeracina Gonçalves
                                                                                                                                   Abril/2014


domingo, abril 20, 2014

A ESTRADA DA MINHA VIDA

Poucas vezes foi plana a estrada que vos refiro.
Poucas vezes foi plana, entre várzeas floridas.
Mas estrada de montanha a serpejar as encostas
Com valados e abismos entalhados no caminho.
Subindo e descendo ravinas, a beirar os precipícios,
Descendo desfiladeiros, gargantas bem apertadas.
Ora bela e panorâmica, de piso limpo e seguro
Entre vales verdejantes e veigas bem floridas,
Ora agreste, sinuosa, entre paisagens despidas,
Curvas bem apertadas - por vezes esburacadas -
Pedaços de terra batida no piso que a marcava…

Poucas vezes foi plana a estrada que vos refiro.
Poucas vezes foi plana, entre várzeas floridas.
Foi estrada de montanha, com alguma panorâmica,
Buracos, aqui e além, a ornamentarem o piso.
Hoje segue sinuosa – sulco agreste, desprovido -
Sulcada de pedregulhos a romper por entre o mato.
Rascunho marcado na areia deste deserto sem vida.

Jeracina Gonçalves
20/04/2014

sábado, abril 19, 2014

quinta-feira, abril 17, 2014

“A IMAGEM FEZ DOER O MEU OLHAR”

Imagem do facebook (pag. Mia Couto)

A imagem faz doer o meu olhar.
A tristeza domina o meu coração.
Entre os bichos, como um bicho
Dorme serena, a criança,
Na terra poeirenta do chão.

Seu rosto sereno,  adormecido
Num abandono infinito,
Morde a poeira do chão.
Qual bicho, entre os bichos,
Morde a poeira do chão!

A imagem faz doer o meu olhar.
A tristeza domina o meu coração.
Entre os bichos, como um bicho,
O rosto sereno da criança
Adormecida
Morde a poeira do chão!

Na impotência de nada poder fazer
Para  tais perversidades vencer
As lágrimas alagam o meu olhar
A tristeza domina o meu coração
Como um rio turbulento,
Que segue, impetuoso, a caminho do mar.
Jeracina Gonçalves
Abril/2014


segunda-feira, abril 07, 2014

OS MEUS SONHOS


Agitam-se vibrantes nos braços do vento inclemente
Nuas, esqueléticas, despidas de adornos
As árvores frondosas que habitavam meus sonhos.
Nuas, esqueléticas, despidas de adornos
Deixam, em meu peito, letargos medonhos.
Nuas, esqueléticas, despidas de adornos
As árvores frondosas, que já foram os meus sonhos...
Jeracina Gonçalves
07/04/2014


terça-feira, abril 01, 2014

MARCAS DA MINHA EMOÇÃO

Folhas…
Há folhas gravadas no meu caminho.
Folhas tatuadas na estrada deste outono
Emergentes da árvore da minha emoção.
Folhas que marcam momentos
Em que fui árvore viçosa e florida
Vibrante sob eco apaixonado do amor
Gerando frutos de mim
Frutos apetecidos, doces e suculentos.
E fui ave batendo asas no azul sobre o jardim florido
De flores viçosas e coloridas, de perfumes inebriantes.
E fui riacho cantante, fluido, de fluir permanente
A descer desde a montanha em borbotões de alegria e esperança;

Folhas…
Há folhas gravadas no meu caminho.
Folhas emergentes da árvore da minha emoção
Marcam momentos de plenitude no livro da minha vida

Momentos vividos p'la minha alma e pelos meus sentidos.

Folhas…Folhas emergentes da árvore da minha emoção
Marcam momentos indeléveis
Traçados na estrada que percorre o meu coração.
Páginas escritas com a tinta de ouro que m'alagava o coração.

Folhas…
Há folhas gravadas no meu caminho.
Folhas, que marcam momentos que jamais quero esquecer.
Neles continuo a viver horas plenas.
Horas vividas na plenitude da minha alma e dos meus sentidos.
Folhas…Folhas procedentes da árvore da minha emoção.
Folhas tatuadas a tinta de ouro na estrada traçada no meu coração.

Jeracina Gonçalves
Março/2014