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domingo, junho 22, 2014

O dia adormeceu tristonho, com lágrimas doces e silenciosas a banharem-llhe o rosto nostálgico.

Jeracina Gonçalves
22/06/2014



A VIDA ACTUAL


A vida actual é uma correria tão louca na ânsia de angariar bens materiais, que nos esquecemos de dedicar alguns minutos do nosso tempo aos que estão por perto e precisam da nossa atenção. E, se calhar, nem seria necessário muito tempo para dar um beijo, um abraço, ou dizer uma palavra amável àqueles que sofrem a nossa falta de atenção; mas, de tão obcecados que andamos com as coisas materiais, neste lufa-lufa constante, tantas vezes condicionado pelo consumismo, pela “necessidade” de angariarmos mais e mais e mais para não ficarmos atrás dos outros, nem nos apercebemos da solidão a que botamos os que nos são próximos.
Para os de fora temos de manter a imagem. Há sempre tempo, esquecendo que a afectividade, a amizade, a solidariedade entre as pessoas nas relações familiares e, também de amizade, são o que há de mais importante na vida do Ser Humano. São o que lhe dá o Ser.
E esquecem-se os filhos, que cobrimos  muitas vezes de coisas supérfluas e alienatórias da formação de uma personalidade forte, livre, justa, coerente, na tentativa de os compensarmos pela falta de tempo que lhes disponibilizamos. Quando, o que mais desejariam e do que mais precisavam para a sua formação como pessoas, seria de alguns minutos do nosso precioso tempo para brincarmos e conversarmos com eles, ouvi-los, orientá-los e guiá-los pelas encruzilhadas da vida com o nosso exemplo, o nosso conselho amigo, o nosso afeto; esquecem-se os pais, de quem nos lembramos, apenas, se deles precisamos para alguma coisa. Nem nos passa pela cabeça que possam sentir-se sozinhos e que, a nossa voz, mesmo que distante, apenas pelo telefone, poderá ser a chama que lhes acenda no olhar a luz da alegria e no coração o ânimo e a vontade de viver; esquecem-se os irmãos, os amigos…
Claro que com a actual falta de empregos são muitos os que vivem, hoje, nessa correria louca para angariarem o sustento básico para si e para os seus. Tendo de batalhar em várias frentes e fazer biscates aqui, ali e além, para conseguirem o mínimo necessário à sua sobrevivência e à da sua família: gente batalhadora, de alma forte, a quem as dificuldades não vencem. E sobra-lhes pouco tempo para conviver ou para dedicar ao lazer com os filhos, pais, familiares e amigos. E isso dói-lhes na alma e fá-los sofrer. Mas, infelizmente, não podem alterar o ritmo das suas vidas sem que o colapso económico aconteça. Terão de continuar assim para poderem continuar a alimentar-se, a vestir-se, e a alimentar e vestir os filhos, e dar-lhes um teto sob o qual possam crescer.
E há, infelizmente,  nos tempos atuais, os  que têm até tempo demais, mas é um tempo já doente, de tão massacrado pelo tempo de espera por um emprego, que lhes dê sustento e dignidade.
É um tempo que não traz nem gera benefícios para ninguém: fruto do desemprego prolongado, alimentado com deceção sobre deceção, foi tomado pela depressão e, em muitas situações, pelo vício e até pelo crime.
Uns têm demais e muitos outros não têm nada.
Em linhas gerais e simplificadas, julgo ser este um retrato muito aproximado da vida atual.  
Jeracina Gonçalves
22/06/2014


PS - Dei agora com este texto iniciado numa das pastas do meu computador. Não sei desde quando está começado. Resolvi acabá-lo e publicá-lo; não me parece fora do tempo, infelizmente. JG

sexta-feira, junho 20, 2014

E A MÃE,  VIGILANTE, CUIDA DA SEGURANÇA DOS FILHOTES, ENQUANTO ESTES SE ALIMENTAM NOS CHARCOS DEIXADOS NA FOZ DO RIO PELA MARE BAIXA.

terça-feira, junho 17, 2014

ALTO DOURO




Subindo contra a corrente
Trepam meus olhos rochedos
Vestem-se de risos  de medos
Galgam colinas outeiros
                            Escondem-se nos desfiladeiros
Alcançam o azul celeste
Domam a escarpa agreste
Descem por outro lugar
                            Pousam de altar em altar
Mergulham nas águas do rio
Que correm da serra para o mar.

Alto Douro Vinhateiro
Teus encantos e belezas
                            Apresam meu coração 
                            Fascinam o meu olhar!

Jeracina Gonçalves

domingo, junho 15, 2014

DOURO, POEMA DE AMOR


Douro, Jardim Encantado, 
és um poema de amor
da alvorar ao sol-pôr
inscrito n’arriba escabrosa;
obra de artistas sem nome 
mourejando sol a sol.

Douro, Jardim Encantado
és uma prece ao Senhor
gravada a sangue e a suor 
de homens em busca de pão 
numa peleja, sem tréguas 
contra o exército de fragas.

E de batalha em batalha 
os homens vencem a guerra
contra o exército de fragas 
contra o exército das pragas
fazem um jardim encantado
a trepar para o etéreo  

Tuas escarpas/jardim, 
visionadas à distância,
são cataratas d'esperança 
a tombarem sobre o rio
matizes resplandecentes 
de safiras e esmeraldas;

Das tuas escarpas/jardim 
brota vida, brota cor
brotam néctares de deuses 
de deleitosos sabores.
Douro, Poema de Amor, 
do alvorecer ao sol-pôr!

Prece, Poema, Canção 
cantada pelas águas do rio
que levam da serra pró mar 
teu sangue… teu coração…
Douro, Tesouro da Humanidade, 
és Troféu de Guerreiros
regado de sangue e suor 
do amanhecer ao sol-pôr!
 Jeracina Gonçalves
25/05/2017

quarta-feira, junho 11, 2014

DESABAFO


Ontem encontrei no hipermercado uma colega, um pouco mais velha que eu, com quem trabalhei há muitos anos, quando do inicio da minha actividade docente nesta cidade, com quem já fiz algumas viagens turísticas, que me perguntou como ia de saúde, como estava o meu marido, com estavam os filhos…, enfim, aquelas perguntas habituais, que se fazem quando encontramos pessoas que não vemos algum tempo.
De forma natural e espontânea, sem tabus nem preconceitos ou dramatismos de qualquer espécie, mas com verdade, fui informando do que vem acontecendo, desde algum tempo, com a minha família, pensando eu, que quando se questiona alguém sobre essas coisas - comigo é assim - está-se realmente interessado em saber do estado do outro.
Ingenuidade a minha! Nada disso. As coisas não são assim.
Pergunta-se, mas não se quer saber. É apenas um pró-forma social, nada mais.
Pelo menos ela não queria saber. Perguntou… por perguntar.
Queria lá saber do que se passa comigo e com a minha família!
Soube-o quando, na despedida, me disse que não gostava de falar com pessoas como eu.
E eu, ingénua, tinha acreditado que o seu questionamento fosse genuíno, fosse interesse, fosse solidariedade entre Seres Humanos! Claro que não teria falado com a espontaneidade que usei, e me carateriza, se imaginasse que não o era.
Mas… julguei-a por mim. Enganei-me profundamente.
Não respondi à sua “agressão”, especialmente porque estava com muita pressa, mas juro que doeu. Doeu muito. Abomino todo o tipo de hipocrisia, incluindo a estabelecida pelas regras da “boa educação social”.  E, quando questiono alguém sobre a sua saúde e a dos seus, ou sobre qualquer outro assunto, faço-o por interesse genuíno e oiço as respostas que têm para me dar com toda a atenção, não por coscuvilhice, mas por solidariedade.
Jeracina Gonçalves
11/06/2014

terça-feira, junho 10, 2014

A ROSA AMARELA

Há uma rosa amarela
Muito fresca e muito bela
No canteiro, mesmo em frente
À janela do meu quarto.
Sempre que abro a janela
De manhã, ao acordar,
Os meus olhos caem nela
E a sua beleza singela
Abre a minha janela
Põe brilho em meu olhar!
 ...
Jeracina Gonçalves
10/06/2014

domingo, junho 08, 2014

MEDITAÇÃO

O “Ser”, que de mim se solta,
nestes tempos conturbados
refugia-se nas flores dos prados
busca alma em seu odor
para levar de vencida
sem revoltas nem cansaços(!)
a íngreme e agreste subida
desta montanha despida
que cresce em seu redor.
Jeracina Gonçalves

11/05/2014

domingo, junho 01, 2014

Começo a sentir-me rendida


Pela encosta alcantilada
da montanha despida
o caminho segue íngreme
agreste
sem troço suave
recanto
árvore de sombra,
pedra de assento
oásis...
Neste deserto ressequido
não há recanto onde possa repousar
lavar meus pés doridos
as forças recuperar
para prosseguir a jornada.

Meu corpo pede repouso.
Minha alma pede sustento.
                                                                                 
Neste corpo a corpo com o tempo
o tempo não me dá guarida
por onde levá-lo de vencida.
Estou prestes a depor armas.
Começo a sentir-me rendida.

Meu corpo pede repouso.
Minha alma pede sustento.

E  meu tempo pede ao tempo
tempo para descansar
tempo, que me dê tempo,
pra minha alma alimentar.
.
Jeracina Gonçalves
27/05/2014