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quarta-feira, dezembro 29, 2021

SAUDAÇÃO AO NOVO ANO


Dezembro o mês derradeiro
Do ano que está a terminar;
Depois dele vem Janeiro,
Novo Ano irá começar!

Novo ano, nova vida,
Nova esperança a acomodar
D' os beijinhos e os abraços
Se poderem, enfim, retomar.

Vem, Amigo!
Em meu coração te quero abraçar.
Cresce forte e com saúde
Para estes tempos mudares.

Vem, Amigo!
Cresce com saúde e Amor.
Traz os abraços e os beijinhos
Que à vida dão o sabor.


                                                        Jeracina Gonçalves
                                                        Barcelos/Portugal – 29/12/2021

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal - 29/12/2021
 

sexta-feira, dezembro 24, 2021

NATAL É AMOR E É PERDÃO

Mais um Natal se aproxima
entre tapumes erguidos
por essa coisa "perversa"
que não nos quer libertar;
mas não pode impedir-nos
de o Natal festejar.
Natal é (re) união 
no âmbito do coração
coração a coração
num sublime cordão
de amor, paz, alegria
solidariedade e perdão.
É tempo de Ser e Amar.
É tempo de no outro pensar.

Feliz Natal!
                                                    Jeracina Gonçalves
                                                    Barcelos/Portugal, 24/12/2021


sábado, dezembro 18, 2021

FAZ FALTA FAZER NATAL

Um doce embalar de vento
Num manto azul envolvido
Neste dia me conduz
Àquela estrela em Belém
Que anunciava Jesus:
O Homem/Deus que nasceu
Pela humanidade se deu
Para a morte do Homem apagar.
Veio ensiná-lo a caminhar
Pela vida, com amor a si
Ao outro…
A todo e a qualquer mortal!
A todo o mundo em geral.

Sua entrega foi em vão:
Há tantas gentes que sofrem
Às mãos de gentes que são
Algozes do seu irmão…

Faz falta fazer Natal
(Essa bela (re)união
Que se faz no coração)
Neste mundo desigual.

                                                      Jeracina Gonçalves
                                             Barcelos Portugal, 18/12/202

segunda-feira, dezembro 06, 2021

 COGITAÇÕES…

A maldade humana é um sentimento perverso, destrutivo, maligno, que acarreta sofrimento à vida, à humanidade. É contrário ao seu desenvolvimento saudável e natural que, em meu entender, é de aperfeiçoamento, de bondade, de crescimento, de alegria, de motivação, de amor, de tolerância, de perdão. Não posso conceber que seja outro. Não posso conceber que seja o de infligir dor e sofrimento ao outro que é colocado sob a mira desse seu sentimento negativo, pérfido, malvado. Seria extremamente cruel e desmoralizante se assim fosse. 
Não, não é essa a finalidade da vida.
Os sentimentos de ódio, de vingança, de inveja, de hipocrisia, que o maldoso carrega, criam seres amargos, invejosos, agressivos céticos, cruéis. A principal vítima da maldade que alimenta é o próprio maldoso. Todos esses sentimentos negativos que carrega recaem sobre si próprio e vão roendo o seu coração, deixando-o incapaz de ver no outro uma centelha de luz. Apenas vê maldade, negritude, sordidez. Todos são maus, cheios de defeitos e pontos negativos, que usa, a seu modo, para denegri-los e criar-lhes situações dolorosas. 
O maldoso não consegue ter paz de espírito. Andará sempre à procura da brecha para atacar as suas vítimas. 
As pessoas que praticam o mal são infelizes e amargas. 
A maldade não promove felicidade.
Mas, se é assim, por que há tanta maldade no mundo? O ser humano será, logo à nascença, mau ou bom? Haverá essa destrinça logo na sua origem? Determinada percentagem nascerá sob o signo da bondade e outra metade sob o signo da maldade, ou neutra? Ou será a criação, a forma e o ambiente em que é criado, a fazê-lo bom ou mau?
Lembro-me de uma história que circulava nas redes sociais há tempos, na qual, a essa pergunta, um velho índio respondia que todos temos dentro de nós dois lobos: um mau, outro bom. Sobrevive o que alimentarmos. E, se calhar, o velho índio tinha razão. Todos nós temos momentos em que nos sentimos perversos, capazes desejarmos e praticarmos o mal contra alguém, ou porque nos atacou, ou porque nos fez infelizes, ou, simplesmente, porque estamos mal dispostos, zangados com a vida, que não corre a nosso gosto, e descarregamos no outro a nossa incompetência para nos encararmos e olharmos frontalmente os nossos erros e os nossos fracassos, assumindo-os e servindo-nos deles para os ultrapassarmos e vencermos, sem atribuirmos culpas a ninguém pelo que nos corre menos bem.
Vigiemos os nossos dois lobos. Alimentemos o bom, de forma a dar-lhe força para vencer o mau, fazendo que a bondade prevaleça e possamos ajudar a fazer a transformação deste nosso mundo para melhor.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 14/06/2021

quinta-feira, novembro 25, 2021

 A PORTA  

Logo pela manhã, bem cedo, começa a ouvir-se o som cadenciado do martelo nas mãos sádicas do carpinteiro sobre a cabeça do prego a espetar a carne da madeira mártir. E a obra toma forma. Cresce. É uma obra de arte, digna de figurar em qualquer famosa exposição. É uma porta em madeira de castanho velho. Bela, perfeita como tudo o que sai das mãos do carpinteiro João. Belo perfeito e eficiente no exercício do seu mister. Nem um milímetro a mais ou a menos. Tudo encaixa no local que lhe pertence como uma luva, preparado para exercer o seu ofício na perfeição. 
Já não há quem trabalhe como ele. Agora é tudo “meia bola e força”, feito em série, e as portas parecem de papel. Cedem ao menor encontrão. 
Mandei-a fazer para substituir a da casa da aldeia, já cansada pelos anos e massacrada pelas intempéries que a vergastaram. Deu muito de si. 
Foi depositária da intimidade de muitas gentes que por ela passaram e se acolheram e viveram as suas vidas para lá do seu corpo protetor. Exerceu o seu mister com brio e eficiência. Porém nada foge ao desgaste do tempo; e a velha porta foi apanhada por ele. 
O seu tempo chegara ao fim. Já não conseguia exercer o seu ofício com dignidade. Teve de ser substituída por uma nova, que está no seu posto, bela, altiva, robusta, a embelezar as velhas paredes graníticas, lavadas e limpas, e a proteger a minha intimidade do frio e dos olhares coscuvilheiros e invasores, como uma fortaleza. 
Desejo-lhe uma vida longa. Pelo menos tão longa e eficiente quanto a da sua antecessora. E que chegue a saborear a companhia dos meus netos e bisnetos, aconchegando-os para lá do seu corpo protetor, entre o conforto das quatro paredes graníticas.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 25/11/2021

quarta-feira, novembro 24, 2021

BOM DIA!

Hoje começo o meu dia com esta oração. 

Que ela possa ser um  elo de união, capaz de despertar as consciências entre as pessoas da Terra com poder económico, onde tantos seres humanos sofrem a dor da sobrevivência, sem o mínimo indispensável à dignidade humana.

ORAÇÃO

Senhor,
é triste ver o sofrimento
de quem
perdida a telha e o pão
nada mais tem
que a desolação
estampada no olhar
dentro
d’ alegria incontida
de com a vida ficar.

Senhor,
em Ti ponho o meu pensamento:
dá-lhes a Tua força,
o Teu poder
o Teu alento
que do nada
com alegria recomecem
sem dor
sem tristeza
sem desfalecimento.

                                        Jeracina Gonçalves
                                        Barcelos/Portugal, Agosto/2021

sábado, novembro 20, 2021

O IMPORTANTE É O AMOR


O importante é o amor e com amor caminhar
olhar de frente os escolhos que tiver de superar
de olhos postos nos olhos sem os olhos desviar.

As letras, que deixo cair, são meu guia são meu mote
e saem do meu coração; na vida são o meu suporte.
São a minha oração.

Quando o coração tem Amor
das coisas mais simples, mais singelas
brotam milhares de estrelas
a iluminar o olhar na luz que lampeja de dentro
porque o coração está vivo e sente a alegria de o’star
para a beleza das coisas simples colocadas em redor.

Não são precisas riquezas não são precisas grandezas
Nem tão pouco distinções para sentir a alma cheia.
A felicidade está no modo de olhar.
No modo de olhar as coisas simples da vida
No modo de olhar a natureza que nos cerca
No modo de olhar as pessoas, as coisas…
A vida!
Um coração que ama é uma riqueza sem par.
Treine o seu coração para amar.

                                                                            Jeracina Gonçalves
                                                                            Barcelos/Portugal, 23/04/2021

sexta-feira, novembro 12, 2021

DEDOS FEITICEIROS

Solta-se das teclas do piano
lenta intimista saudosa
repassada de paz
vibrante de sentimento
a música que se espraia pela sala
envolve-se nas paredes
aquece-as
aconchega o coração das gentes de olhar fascinado
fixo nos dedos feiticeiros sobre as teclas,
submissas à pressão dos seus poderes mágicos.
Ora se manifestam chorosas
ora se soltam vibrantes
em cânticos de louvor e alegria
cânticos a Jesus e a Maria
que, na gruta,
agradece ao Divino
a ventura de ser Mãe do Deus-Menino.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, Janeiro/2021

sexta-feira, novembro 05, 2021

SOFIA UMA MULHER DA CULTUA QUE MUITO ADMIRO

"Universidade Católica celebra vida e obra de Sophia de Mello Breyner

Uma cameleira, cujas flores estavam entre as preferidas da poetisa, e uma estrutura em granito, com um verso de Sophia inscrito: “Trazida ao espanto da luz”. Será assim o Memorial a Sophia de Mello Breyner Andresen, da autoria de Avelino Leite, cuja inauguração está agendada para 6 de novembro, às 12 horas, nos jardins da Universidade Católica no Porto. Uma iniciativa da Cátedra Poesia e Transcendência | Sophia de Mello Breyner Andresen, patrocinada pelo BPI | Fundação “La Caixa”.

O Memorial de Sophia foi projetado no âmbito da celebração do centenário do nascimento da autora, celebrado a 6 de novembro de 2019. Pretende-se que seja um lugar de repouso e de contemplação, um convite para parar junto a um lugar de passagem: uma camélia dentro de um círculo. Oferecida pelo Jardim Botânico do Porto (casa-quinta onde Sophia nasceu e passou a infância), a camélia constitui uma nova variedade, batizada com o verso da poetisa portuense: “Trazida ao espanto da luz”.

“Sophia de Mello Breyner Andresen é uma figura única e incontornável da cultura portuguesa. Queremos que Sophia habite o campus da Católica no Porto e inspire a nossa missão de formar pessoas e de renovar o país e o mundo pela excelência do exemplo,” salienta Isabel Braga da Cruz, presidente da Universidade Católica no Porto."

De:pporto.pt

publicada por Jeracina Gonçalves 

domingo, outubro 24, 2021

 

Considero este texto deveras pertinente e muito bem escrito. E porque me identifico com tudo o que é dito, aqui o deixo:


SOMOS AS PERGUNTAS QUE FAZEMOS

A Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da Universidade do Porto assinalou, no passado sábado – como faz, aliás, anualmente –, o Dia Mundial da Alimentação. O dia serviu de pretexto para a receção aos novos estudantes, com a implementação de um exemplar programa de hospitalidade constituído por iniciativas de integração dos jovens na comunidade e de explicação do sentido dos percursos de formação e investigação que lhes são sugeridos.

Nesse dia, nos diferentes órgãos de comunicação social, fomos confrontados com o chavão “somos o que comemos”. E fiquei a pensar: os chavões têm esta particularidade, são ideias batidas de tantas vezes que são repetidas, mas não é pelo facto de serem comummente aceites e vocalizadas que deixam de ser verdade.

A alimentação identifica-nos, na realidade, a vários níveis. Em primeiro lugar, a alimentação determina a nossa saúde: a escassez de alimentos faz-nos fracos; a abundância de açúcares e gorduras torna-nos obesos; uma dieta completa, variada e equilibrada assegura-nos o bem-estar físico e emocional. Em segundo lugar, o que comemos está intimamente relacionado com escolhas de vida, muitas vezes religiosas (como o impedimento de ingestão de carne de porco por muçulmanos e judeus ou de carne de vaca por hindus), outras vezes morais (como é o caso do vegetarianismo e do veganismo). Por último, a alimentação traduz, frequentemente, a nossa condição social: comemos aquilo que podemos comprar.

Mas não somos apenas aquilo que comemos: somos também as perguntas que fazemos. Encheu-me de esperança confirmar o que já há muito sabia: que, na Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação, os estudantes são estimulados a fazer perguntas. É destes jovens conscientes da sua capacidade transformadora que necessitamos: cidadãos especializados que sabem responder à questão “o que devemos comer”, mas que formulam também, eles próprios, questões subordinadas à perplexidade “como é possível que, no século XXI, tantas pessoas não tenham segurança alimentar?”.

É verdade que somos o que comemos; mas somos também as perguntas que fazemos.

                                                                    Fátima Vieira, Vice-Reitora para a Cultura, Museus e Editora


De: Cultura cultura@mkt.up.pt

publicado por Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal  

sexta-feira, outubro 22, 2021

DO ALTO DA DUNA

Sentada no alto da duma
Meu olhar deitado no mar
Perde-se entre o azul e o azul
No voo duma gaivota
Em piruetas pelo ar.
Meu olhar voa com ela
E pica a água do mar!

Mais ao longe passa um barco
(Paquete diria eu)
Entre o azul e o azul
Muito lesto a navegar
Segue nele o amor meu
Meu coração, que é seu,
Segue no barco no mar!

Sentada no alto da duma
Deito os meus olhos no mar
E logo vem um peixinho
Para comigo falar
Dos males que encontra no mar
Das teias do seu caminho
Que lhe embargam o ar…

Vem depois uma gaivota
Para comigo falar
Sua voz intermitente
Num constante soluçar
Mostra-me as asas coladas
Ao seu tronco agarradas
Com piche deixado no mar…

Sentada no alto da duma
Deito os meus olhos no mar
E vejo uma onda negra
Para a praia a navegar
Desço à praia e vejo então
O lixo que mata o mar
Na orla serena do mar.

                                            Jeracina Gonçalves
                                            Barcelos/Portugal/2020

segunda-feira, outubro 18, 2021

A olaria negra de Bisalhães

Esta olaria preta faz parte das memórias da minha infância, quando andavam pela minha aldeia mulheres de Bisalhães com cestos à cabeça cheios de  panelos e panelas e caçoilas e chocolateiras e alguidares para irem ao forno (e que bom era o arroz do forno feito nesses alguidares!) e "tanhas" ou talhas para o azeite e para cortilhar as azeitonas e canecas para o vinho ("pichorras" como lhes chamava o meu avô) e assadeiras para as castanhas... e outros utensílios para uso na cozinha. E mais tarde, quando estudante em Vila Real, recordo a Feira dos Pucarinhos na noite de S. Pedro no Largo da Porta Nova e as nossas brincadeiras, no fundo da avenida, junto ao liceu, a jogar o pucarinho que comprávamos na feira. O chão ficava pejado de cacos pretos. 
Memórias que guardo com muito carinho da loiça de Bisalhães.

"A olaria negra de Bisalhães e a gastronomia regional estão em destaque no pavilhão de Portugal da Expo Dubai, para valorizar e promover a louça de Vila Real classificada pela UNESCO.A participação na Expo Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, resulta de uma iniciativa conjunta entre o Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), o município de Vila Real e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) Portugal Global.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) inscreveu a 29 de novembro de 2016 o processo de fabrico do barro preto de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente.
Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI. O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.
As peças que nascem pelas mãos dos artesãos são depois cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.
E foi este processo de fabrico que foi classificado pela UNESCO.
A Expo 2020 Dubai conta com a participação de 192 países e é a primeira a decorrer no Médio Oriente entre 01 de outubro e 31 de março."
De: pporto.pt
publicado por.
Jeracina Gonçalves - barcelos/Portugal

É TEMPO DE DESCANSAR

 

A vida caminha sem demoras nem atrasos pelos diversos ciclos, desde a chegada à partida, e a natureza entra agora num ciclo novo.
O sol já esmoreceu a paixão ardente com que abraçava a natureza viçosa e jovem, ciosa da sua beleza e dinâmica pujança cheia de entusiástica energia, acalentando-lhe e enriquecendo-lhe, em cor e de sabor, os frutos que a cigarra de perna cruzada, crente na generosidade da formiga diligente, embalava com a sua melopeia fastidiosa, impertinente, enfadonha. O seu amor é agora mais sereno, mais calmo, menos apaixonado mas mais terno e amadurecido pelo tempo. Com ele amima-lhe os frutos, que inebriam o ar de aromas estonteantes, e que o Outono colhe e carrega para as arcas e lagares; mostos fermentados exalam éteres embriagantes a evoluir pelos ares; vestidos de cores garridas vestem parques e vinhedos atapetados de belas e fofas carpetes e são inspiração para poetas e pintores; pássaros, como esquadrilhas alinhadas sob responsável comando, cortam o anil do ar e obedecem à voz do líder, que os orienta para outros lugares onde o sol se mantenha jovem e de amor ardente; pois, deste lado da Terra, desgastada a energia da sua juventude, envelhecido e cansado, propõe-se descansar: retira-se cada dia mais cedo e acorda cada dia mais tarde; o dia esmorece e a noite cresce. 
É tempo de descansar para recompor as energias desgastadas.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 29/09/2021



domingo, outubro 17, 2021

MURMÚRIOS À BEIRA MAR

O mar sussurra baixinho
Palavras de amor e carinho
À areia em silêncio a chorar
“È só um até já
Não demoro a voltar”
A areia se queda
Em silêncio
Espera a volta do mar.

                                        Jeracina Gonçalves
                                        Barcelos/Portugal, Julho/2020

domingo, outubro 10, 2021

 O BAILADO DO VENTO


As folhas do plátano solfejam a canção do vento

Que amorosamente as vem beijar

E vem com elas dançar

Sob o manto azul diáfano que circunda todo o ar.


O coração do vento deixa-se emocionar:

Abraça mais forte as folhas em seus braços a rodar

Em ritmo crescente. Rodopiam nos braços do vento

Rodopiam…rodopiam… rodopiam…

Nos braços do vento cantam e dançam sem parar.


O meu coração estremece,  ao baile se vai juntar.

Em teus braços, entre o azul a rodar, rodopia, rodopia…

Sobe ao palco celeste e por lá se deixa ficar.


Jeracina Gonçalves
Barcelos Portugal/08/08/2021

sábado, outubro 02, 2021

Coreografias do riso em exposição na Casa-Museu

Exposição de desenhos da artista Bárbara Fonte vai estar patente ao público de 2 de outubro a 27 de novembro. Entrada gratuita.

O ciclo chama-se O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar, tem curadoria de Sílvia Simões, e traz, a partir do dia 2 de outubro, uma nova proposta à Casa-Museu Abel Salazar (CMAS): Coreografias do riso, de Bárbara Fonte. É uma exposição de desenho que surge no âmbito das Jornadas Europeias do Património e pode ser visitada até 27 de novembro, .

A exposição apresenta desenhos a preto e branco, grande escala, a  tinta da china, e ainda um trabalho em vídeo, onde se explora o papel do  riso, em contexto público e privado. O convite foi dirigido a Bárbara  Fonte há dois anos, altura em que começou a aprofundar a investigação  sobre o desenho de Abel Salazar.

De início, a artista julgou que iria estabelecer uma relação com os  microrganismos que o médico e artista plástico desenhava com base nas  observações que fazia ao microscópio. Aos poucos, contudo, foi sendo surpreendida por  outras descobertas, novas perspetivas e, como consequência, desenvolveu  outras aproximações.

A diversidade de campos de interesse de Abel Salazar levou assim  Bárbara Fonte por caminhos que não tinha sequer previsto, nomeadamente  com a descoberta de um livro de caricaturas que o então estudante, de 15  ou 16 anos, havia feito dos professores.  E esta é a altura em que os  microrganismos ganham outra vertente, a da sátira.

Numa conversa com Sílvia Simões, curadora do ciclo de exposições e  professora da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP),  Bárbara Fonte identifica a “sátira, a ironia e a comédia” dos trabalhos  expostos numa relação com o teatro e drama. Fazer uma caricatura,  diz-nos Bárbara Fonte, implica “uma empatia e uma troça”. Há,  efetivamente uma “aproximação” àquele que é representado e depois um  “afastamento” que permite a criação da caricatura.

Explorar desse lado ridículo “é uma coisa intimista”, ao qual não é  alheio “um certo nível de maldade”. Algo que até se esconde porque “não é  para mostrar”. Simultaneamente, aos “rostos de riso largo, ou riso  exagerado” também se associa “uma postura de superioridade e  segurança. Há um certo lado de autoridade de quem ri”, nota a artista.

Jardim Botânico do Porto

Bárbara Fonte explorou um conjunto de caricaturas feitas por Abel Salazar durante a sua juventude. (Foto: DR)

O riso enquanto espaço de troça e de medo

Com desenhos em grande escala, Coreografias do riso apresenta  formas viscerais para descobrir. O riso surge, nas palavras de Bárbara  Fonte, “enquanto espaço de troça e de medo, de idiotice e de agressão,  de animalidade e honestidade, de verdade e de satisfação, de prazer”.

Mote para esta exposição e inquietação que a artista vai continuar a  explorar, o riso também marca presença nos seus sonhos. Será o “medo de  ser alvo de riso”, atira Bárbara Fonte. “Mas ao mesmo tempo estou sempre a  procurar esse riso”. (…) “Eu gosto de fazer com que o riso apareça.  Gosto dos extremos”. A propósito desta exposição diz ainda que “o  gracejo e a sátira são instrumentos de entendimento humano, onde a carne  dá passagem aos estados psíquicos e o desenho acede à máscara.”

Bárbara Fonte é licenciada em Pintura e Pós-graduada em Teoria e  Prática do Desenho pela FBAUP. Tem desenvolvido trabalho criativo na  área do desenho, da fotografia, do vídeo, da performance e da  instalação. Participou com textos e ilustrações em revistas de livros e  expõe regularmente, em parceria com outros autores ou individualmente,  em diversas galerias e espaços culturais desde 2001.

Jardim Botânico do Porto

O desenho contemporâneo de Abel Salazar

Esta é a quinta exposição do ciclo O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar.  Sílvia Simões, curadora do ciclo, pretende com esta iniciativa colocar a  obra artística do antigo investigador e professor da Universidade do  Porto, Abel Salazar, numa relação dialógica com desenhos de artistas  contemporâneos, salientando a relevância dos desenhos na atualidade.

A conversa entre a curadora e Bárbara Fonte pode ser ouvida na íntegra aqui

Com entrada gratuita, Coreografias do riso  ficará patente na Casa-Museu Abel Salazar até 27 de novembro. A  exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13h00 e  das 14h30 às 18h00. Aos sábados, abre portas das 14h30 às 17h30.  Encerra aos domingos e feriados. 


Newsletter  da Casa Comum - Universidade do Porto 

Newsletter n.º 66 | 1 de outubro 2021

Fonte: Notícias U.Porto

Publicado por: Jeracina Gonçalves

Barcelos/Portugal, 02/outubro/2021


sábado, setembro 25, 2021

O OUTONO CHEGOU

 


O outono chegou e não deixou os méritos por mãos alheias. Apressou-se a marcar o seu espaço na linha do tempo, impondo as suas caraterísticas sem dar aso a criar confusões. Marcou o seu território. O território que é seu no calendário: frutos maduros, bem coloridos e carnudos exalam aromas quentes, sensuais, com que embriagam o ar e põem sorrisos de gratidão e alegria nas faces dos humanos seres que a eles se dedicaram e os cuidaram e, aos outros, que irão experimentar os seus deliciosos sabores; as folhas amarelecidas começam a perder força. Deixam-se soltar do aconchego da árvore-mãe e rodopiam no ar, entre os braços de um sopro mais forte do vento, ainda brando, até caírem inertes, mortas; o anilado transparente do etéreo tolda-se de um mesclado em tons de cinza e o céu, comovido, solta lágrimas de saudade,   talvez  daquela tão bela cor que lhe dava brilho, luz, transparência, e ainda há pouco o vestia e tanto seduzia o meu olhar faminto de coisas belas; o ar movimenta-se com mais força, baila com as árvores do canteiro em frente da minha janela e arranca-lhes algumas folhas mais enfraquecidas, que adejam como borboletas e caem  mortas no chão do pátio; o sol afrouxou a sua incidência sobre as coisas, deita-se cada vez mais cedo e levanta-se cada vez mais tarde; a noite cresce sobre o dia. Mas no canteiro em frente, passeia-se ainda o melro elegante, trajando o seu belo fato de gala. Percorre-o lentamente, lentamente...Talvez esteja a confessar-lhe a sua gratidão pelos bons momentos que tem passado em sua companhia.

O outono chegou com toda a sua melancólica e encantadora beleza, lembrando-nos que é tempo de nos prepararmos para o frio inverno que tão lestamente se aproxima.

                                                                                Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 25/09/2021


sexta-feira, setembro 24, 2021

RESILIÊNCIA

Os olhos das vagas alterosas
Derramam raivas enlouquecidas
Em fluxos intensos e poderosos
Sobre praias, ruas e vidas.
São muros de águas perigosas
A travarem o fluxo da Vida.

Mas a vida é sempre vida.
Se aqui seu fluxo é cortado
Mais além, a vida acontece
Segue em frente, faz-se forte.
E a vida será vida além da morte
Sempre viva, sempre vida, sempre forte.

                                                        Jeracina Gonçalves
                                                        Barcelos/Portugal, 14/03/2021


quarta-feira, setembro 15, 2021

NAS ESQUINAS DA VIDA

Olhares em olhos cansados
Perdidos em horizontes sem vida
Olhares tristes magoados
De sonhos traídos
Feridos nas encruzilhadas da vida
Olhares sangrados, doridos
Olhares perdidos
Rejeitados
Traídos
Olhares pesados
Pela desconfiança marcados
Olhares fechados
Frios
Duros
Malvados
Guardam segredos impensados…

Olhares…
Olhares de vidas partidas
Destroçadas
Nas esquinas da vida.
Algumas tão estilhaçadas
Esmigalhadas
De difícil reconstrução.
                                        Jeracina Gonçalves
                                        Barcelos/Portugal, 13/09/2021

domingo, setembro 12, 2021

SONÂMBULA

Sonâmbula, vagueio na noite
Voo para lá da dor
Que m’ arrepia e me consola.
Neste sentir contraditório
De não saber o que sinto
Se falo verdade ou se minto
Procuro o que não quero encontrar
E perco-me num labirinto
Sem com a saída cruzar.
                                                            Jeracina Gonçalves
                                                            Barcelos/Portugal,13/08/2021

domingo, agosto 29, 2021

SOMOS DIFERENTES

A distância que me separa de ti
é o mundo desmedido que medeia entre nós
no pensamento do EU em cada um de nós:
Do teu EU em ti 
Do EU em mim também.
Somos diferentes.
Somos diferentes como a água cristalina,
pura, inodora, insípida e incolor,
que se solta do âmago da rocha-mãe,
o é do vinho a escorrer da fermentação da uva macerada,
tomando a cor e o sabor da casta ou castas de que resulta;
Somos diferentes.
Somos diferentes como a água o é do azeite,
altivo,
orgulhoso do seu estatuto de gordura nobre,
alimento de grande poder nutritivo e curativo,
endeusado no convívio com divindades e ofícios divinos,
oriundo da oliveira,
símbolo da sabedoria, da paz e da abundância.
O azeite, que com a água não se mistura.
Subjuga-a.
Mata-a, impedindo-a de respirar;

Somos diferentes como a noite o é do dia,
como a terra o é do mar.
Somos diferentes.
A distância que nos separa é difícil de encurtar e aplanar.

                                                                                        Jeracina Gonçalves
                                                                                        Barcelos/Portugal, 29/08/2021

sábado, agosto 28, 2021

ORAÇÃO

Senhor,
é triste ver o sofrimento
de quem
perdida a telha e o pão
nada mais tem
que a desolação
estampada no olhar
dentro
d’ alegria incontida
de com a vida ficar.

Senhor,
em Ti ponho o meu pensamento:
dá-lhes a Tua força,
o Teu poder
o Teu alento
que do nada
com alegria recomecem
sem dor
sem tristeza
sem desfalecimento.

                                                Jeracina Gonçalves
                                                Barcelos/Portugal, Agosto/2021

quinta-feira, agosto 26, 2021

O BRILHO DO SOL DEIXOU DE DOURAR O HORIZONTE


O brilho do sol deixou de dourar o horizonte.
Já não acalenta a esperança dos prados onde germinavam flores.
Uma nuvem pesada escura volve do cais de memórias soturnas
E dissemina pelo horizonte a ameaça da noite sem estrelas
A infiltrar-se pelos interstícios das montanhas do medo.

No horizonte desenha-se o reanimar da era das sombras,
A caminharem, descalças, sem rosto e sem voz,
Por carreiros de brita angulosa, entre beiradas de silvas e de tojos.
Sacrílegas mordaças, ancorados num tiranismo retrógrado,
Pairam suspensas, como cutelos de morte,
Sobre o germinar límpido das flores dos prados,
E ameaçam o gorjear das aves e o seu esvoaçar sereno.

O brilho do sol deixou de dourar o horizonte.
O medo infiltra-se pelos interstícios de memórias soturnas
E a luz, que iluminava e acalentava os sonhos sonhados
E lhes conferia a alegria e a liberdade de Ser e de estar,
Dissolve-se na intolerância de regras apresadas no tempo.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 23/08/2021

sábado, agosto 14, 2021

O SUPORTE E A VIDA DA MINHA VIDA


Nas flores da beira-rio, recuo ao tempo em que, no rio,
voava com as borboletas, de corola em corola a poisar,
nesse tempo belo e mágico (esse meu tempo de criança)
em que o rio da “Levandeira” foi o parque da minha infância.

Nas flores da beira-rio, do rio da “Levandeira”,
não só aprendi a voar, como também aprendi a amar
as libelinhas e as borboletas, que nas flores vinham poisar,
e toda a natureza bela, sedutora, exposta ao meu olhar.

Nesse tempo belo e mágico, quando aprendi a voar,
aprendi que a natureza é o sustentáculo e a vida,
do pedacinho de vida, que na natureza sou;
todo o cuidado que lhe der é cuidado que me dou.

Sou apenas uma peça, tão ínfima, tão pequenina,
noutras peças entrelaçada desta natureza tão bela.
Todas interligadas para que o todo funcione
sem incidentes incuráveis de que nada sobreviva.

Nas flores da beira-rio, eu aprendia a amar e a voar
com as libelinhas e as borboletas que nelas vinham pousar;
como também prendi que a natureza é o suporte e a vida,
do pedacinho de vida, que, na natureza, sou.
Todo o cuidado que lhe der é cuidado que me dou!


                                                                                    Jeracina Gonçalves
                                                                                    Barcelos/Portugal, 14/08/2021
* Foto da Internet

terça-feira, agosto 10, 2021

Valquírias


O Norte Shopping foi o local escolhido para acolher a exposição Valquírias de Joana Vasconcelos – duas esculturas suspensas, cada uma com mais de 200 quilos e sete metros de dimensão – até 2 de Setembro.
Estas duas instalações exuberantes com corpos invulgares, são inspiradas nas “figuras femininas da mitologia nórdica que sobrevoavam os campos de batalha e gravitam”, lê-se em comunicado, e agora vão passar o próximo mês suspensas na praça central do centro comercial.
Paralelamente à exposição, foi pensado um programa com atividades gratuitas, nomeadamente, visitas guiadas às obras nos dias 10 e 24 de Agosto, às 19.00h, e quatro oficinas de croché para famílias aos sábados (7, 21 e 28 de Agosto), às 11.00h. Já no dia 14, também sábado e também às 11.00h, há um workshop sobre esta técnica tradicional para adultos. Todas as atividades têm um número de participantes limitado, por isso, é necessário fazer inscrição prévia no balcão de informações do Norte Shopping.
Esta mostra faz parte do Projeto Cultura no Centro, que envolve os centros comerciais geridos pela Sonae Sierra “que quer tornar a arte e a cultura acessível a todos”.

Norte Shopping. Piso 0 – Praças Centrais. Seg-Dom 10.00-23.00.

De: pporto.pt
Publicada por: Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal,10/08/2021

quarta-feira, agosto 04, 2021

VOU POR AQUI

Sabes, vou por aqui.
Não gosto de caminhos travessos.
Por aqui é o meu caminho.
Não é bom não é mau,
É o caminho que escolhi.

Sabes, vou por aqui.
Vou trilhar os trilhos da montanha:
Subir aos picos, descer aos vales
Atravessar as íngremes veredas
Aceder aos planaltos
Percorrer gargantas, desfiladeiros…
Percorrerei toda a montanha, sem medos nem preconceitos.
Este é o meu caminho, o caminho que escolhi.

Sabes, vou por aqui.
Lentamente… lentamente…
Percorrerei todo o caminho sem nada tomar de graça.
Sem pressas, chegarei ao meu destino.
A cor que me orienta é o verde brilhante da esperança;
A água que me dessedenta é a água límpida, pura 
do âmago da montanha;
O pão que me alimenta é o pão do amor, da verdade.
Este é o meu caminho, o caminho que escolhi.

Sabes, vou por aqui.
Não gosto de caminhos travessos.
Este é o meu caminho, o caminho que eu escolhi.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 04/08/2021

domingo, agosto 01, 2021

A VIDA É FEITA DE INSTANTES


De instante em instante
Me construo e desconstruo
No passar de cada instante
Tanto avanço como recuo.

A vida é feita de instantes
Em instantes contraditórios
Que da vida levam em instantes
Instantes que críamos seguros.

Sou apenas o instante
Em que sou estou e vou
Instante que já passou
E de instante em instante
O meu instante mudou.

                                                                                Jeracina Gonçalves
                                                                                      Barcelos/Portugal, 25/Julho 2021

quinta-feira, julho 29, 2021

LIVRES! É APENAS ILUSÃO

Livres? Não!
Em sociedade não há liberdade;
há responsabilidade.
Há responsabilidade para com o outro
seu vizinho, seu amigo, seu irmão
deste mundo global
é dever de cada cidadão.

A liberdade é um conceito teórico
do âmbito da imaginação.
Toda a liberdade tem travão.
A não ser para o ermitão.
E até esse tem regras que não pode ultrapassar
sob pena de pagar
pesada condenação.

Livres! É apenas ilusão.
Todo estamos em ligação
por um fio universal.
Todo o bem e todo o mal
Terá repercussão a nível global.

Livres! É apenas ilusão.


                                                                                                                    Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 29/07/2021

segunda-feira, julho 26, 2021

O AMOR É UMA MAGIA

                                 
O amor é uma magia
tecida não sei por quem
em algum sítio do Além.   
                                   
Chega não sei porquê
entra sem pedir licença
senta-se toma o lugar
fogueira a crepitar
sob o timbre d’ uma voz
um toque ou um olhar
às vezes só o pensar
incendeia corpo e alma.

O amor é uma magia
tecida não sei por quem
chega sem avisar
senta-se e toma o lugar.

                                                        Jeracina Gonçalves
                                                        Barcelos/Portugal, 09/06/2021

domingo, julho 25, 2021

“QUE FAREI NO PRIMEIRO DIA DO RESTO DA MINHA VIDA?”

O meu olhar perde-se num ponto neutro da parede branca, em frente, olha através dele e fixa-se na frase 
“Que farei no primeiro dia do resto da minha vida.” 
Registei-a, quando, ontem, online, folheei a Revista do Montepio. Está lá. Foi proposta à consideração de quatro pessoas diferentes; quatro pessoas que através dela teceram algumas considerações sobre este tempo perverso, que a todos alterou e altera o ritmo das suas vidas, nestes dezoito meses decorridos. 
Quatro anseios expostos para esse primeiro dia em que possamos livremente circular, beijar, abraçar, sem que tenhamos a trela do Covid-19 a frenar o desejo de manifestarmos os nossos sentimentos às pessoas que nos são queridas, nem a delimitar-nos o desejo de viajar, de ir ao teatro, ao cinema, ao restaurante com amigos… Viver! E dei-me conta de quanto na minha vida morreu nestes dezoito meses decorridos, passados entre as quatro paredes da minha casa. Muito da minha vida morreu. Morreu para sempre. Jamais terei tempo para recuperá-lo. Este tempo sempre igual, que não distingue domingos de dias de semana, tiraram de mim o que a vida tinha e tem de mais importante, de mais belo, de mais rejuvenescedor. Tiraram-me o riso, a gargalhada espontânea, o convívio com a minha família, com os meus amigos, com os lugares que amo e todas as coisas que mais e melhor a preenchiam e lhe davam sabor.
“Que farei no primeiro dia do resto da minha vida?”
Farei o que a vida me permitir fazer. Mas o que mais gostaria de fazer seria abraçar os meus filhos, as minhas netas e o meu neto, até que o meu coração transbordasse esse sentir de seus corpos ao meu corpo abraçados, de que se sente tão sedento; depois reunir-nos-íamos num almoço de risos e alegria. 
Mas como realizar esse anseio, se eles estão por aí, pelo mundo? 
Mesmo assim, não tenho o direito de lastimar-me. Terei por perto a minha filha e a minha neta para saciar este anseio profundo do meu coração: poder abraçar livremente os seres que amo. Juntarei todos os pedaços da vida que me restam num cocktail de esperança e beberei a esperança com a alegria de estar viva e todos os dias assistir ao colorido da luz a iluminar o horizonte e ao gorjear dos pássaros saudando o amanhecer. Abraçarei a minha filha e a minha neta num abraço infinito que devolva ao meu coração cansado e sedento de afeto, o calor que o anime e o faça bater mais forte.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 25/07/2021

sábado, julho 24, 2021

 Acho este  texto divinal. Sinto esta inquietação permanentemente em mim e não descortino de onde me chega. Este texto chegou-me na ...  

Newsletter n.º 61 | 23 de Julho 2021

ESSA COISA É QUE É LINDA  

A arte procura dar forma, conceder um tempo e criar um lugar para o que, de outro modo, não poderá ser nomeado ou representado. Mas essa é uma forma que o artista sabe ser sempre instável, pois tem a consciência de que a arte transporta a própria condição da instabilidade humana, do que escapa, do que é fugaz, do que não será nunca dado por acabado.
 
Compreendi estas ideias quando li, felizmente muito jovem ainda, O Livro do Desassossego do semi-heterónimo de Fernando Pessoa, Bernardo Soares, esse projeto em que o poeta trabalhou toda a vida, e que nunca deu por terminado: uma autobiografia sem factos, em que fragmentos de vozes diferentes e estilos diversos se justapõem, iluminando a indecidibilidade da vida. Lembro-me de me ter sobressaltado ao ler “Senti-me inquieto já. / De repente, o silêncio deixara de respirar”. E foi idêntico o sobressalto que senti hoje de manhã ao ler o e-mail que me enviara o nosso Colega da Faculdade de Letras Luís Adriano Carlos.
 
Luís Adriano Carlos é um artista de ofícios múltiplos, inscrevendo-se no mundo da poesia (veja-se o seu magnífico último livro de poemas, Torpor), da pintura (uma das suas dimensões mais discretas) e da música (como letrista, vocalista, instrumentista e compositor). Este último domínio tem vindo a ser explorado pelo seu alter-ego Aristoxen, através do qual compõe peças “in the box”. O e-mail da manhã trazia-me uma prenda: uma remasterização da canção “Inquietação”, de José Mário Branco, a partir de uma versão deteriorada do YouTube, capturada em streaming. No seu e-mail, dizia-me Luís Adriano Carlos que, “se fosse dum americano, [“Inquietação”] era uma obra-prima do jazz ou do jazz fusion”. O resultado da intervenção de Luís Adriano Carlos pode ser escutado aqui.
 
Ao ouvir a música, “senti-me inquieta já”. Desassossegou-me tudo o que está ainda por acontecer, as coisas por perceber, e dei por mim a repetir, com José Mário Branco (e Luís Adriano Carlos), “Cá dentro, inquietação, inquietação / É só inquietação, inquietação / Porquê, não sei / Mas sei / É que não sei ainda. // Há sempre qualquer coisa que eu tenho que fazer / Qualquer coisa que eu devia resolver / Porquê, não sei / Mas sei / Que essa coisa é que é linda".
 
E tenho vindo toda a manhã a afundar a angústia do que tenho ainda por fazer no deslumbramento perante as perguntas por formular, enchendo-me de contentamento nesta descoberta de que “essa coisa é que é linda”. Por isso preciso da arte: para aprender a dizer o que não saberia sequer pensar.
 
Fátima Vieira
Vice-Reitora para a Cultura, Museus e Editora"
Publicado por:
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 24/07/2021


sexta-feira, julho 23, 2021

NOSTALGIA

Dói-me este silêncio na noite em volta de mim
Num murmurar gritante aos meus ouvidos.
Traz consigo a nostalgia doutros tempos.
Fecho os olhos: há risos de primaveras longínquas
Que me chegam por entre as paredes do tempo
E estendem o azul celeste sobre campos floridos
Onde voam borboletas e chilreiam passarinhos.
A bruma turva o meu olhar perdido nos meandros do caminho.
O meu coração chora baixinho.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 20/07/2021

quarta-feira, julho 21, 2021


Neste dia dos amigos, aqui deixo este lindo botão de rosa para os visitantes do meu blogue.
Que ele inebrie o coração de cada um com os perfume da Bondade, da Amizade, da Solidariedade e do Amor
Faça de cada um um forte pilar de encaminhamento e sustentação para um mundo melhor.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 21/07/2021

sábado, julho 17, 2021

Museu da Língua Portuguesa reabre ao público no dia 1 de Agosto

                                

"O Museu da Língua Portuguesa, no histórico edifício da Estação da Luz, no coração de São Paulo, será reinaugurado no dia 31 de julho, quase seis anos depois do incêndio que destruiu dois andares do prédio e causou a morte a um bombeiro. O presidente da República português, Marcelo Rebelo de Sousa, já confirmou a presença na cerimónia de reabertura. A missão do equipamento mantém-se inalterada: enaltecer e divulgar a beleza e a riqueza da Língua Portuguesa.

No dia seguinte, o museu que recebeu quase quatro milhões de visitantes entre 2006 e 2015 (desde que foi fundado até que foi encerrado) volta a abrir as portas ao público com “Língua Solta”, uma mostra com 180 peças que, de acordo com a apresentação no portal do museu, é “composta por um conjunto de artefactos que ancoram os seus significados no uso das palavras, como objetos da arte popular e da arte contemporânea, apresentados de maneira embaralhada, levando o público a pensar nessa divisão e em outros entendimentos possíveis para o Mundo”. A par com esta mostra temporária, o museu exibirá o acervo permanente, agora num formato renovado, tirando partido da tecnologia para interagir com os visitantes."

Fonte: JN      

De: pporto.pt
publicado por: 
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 17/julho/2021

sexta-feira, julho 16, 2021

A FORÇA IMPLACÁVEL DA NATUREZA


A força implacável da natureza, a cada momento, coloca-nos na nossa verdadeira dimensão neste planeta que habitamos e no universo em que estamos inseridos, mostrando-nos a nossa fragilidade e o quanto somos efémeros neste cosmos do qual somos uma pequeníssima partícula, mas do qual nos julgamos reis e senhores. E os mesmos elementos que nos sustentam a vida (ar, sol e água) são também os que no-la destroem, levando também tudo o que construímos para nossa comodidade e suporte.
Num curtíssimo espaço de tempo, manifestaram-se os três, destruindo vidas e haveres: o calor desmedido no Canadá e Estados Unidos (Flórida), o tufão na República Checa, e, agora, as chuvas intensas, especialmente na Alemanha (a mais ferida); mas também na Bélgica há destroços e morte. E também outros países limítrofes estão a sofrer o flagelo das chuvas intensas. E isto talvez deva fazer-nos pensar e repensar muitas das nossas atitudes.
A Terra, a nossa Terra, está a gritar por socorro. É preciso ouvi-la. Ouvi-la com urgência e manifestar-lhe o nosso respeito e o nosso amor. É preciso procurar viver em comunhão com ela e com as suas leis, as leis da natureza, ferindo-a e envenenando-a e aos seres que coabitam connosco nesta casa de todos, e a nós próprios, o menos possível.
Os governos têm uma responsabilidade grande; mas todos nós, cidadãos, temos uma quota parte de responsabilidade nesse processo. E se todos fizermos conscientemente a nossa parte, poderemos, talvez, pelo menos, atrasar esta tendência destrutiva da nossa casa global.

* Foto da Internet
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 16/07/2021