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domingo, agosto 29, 2021

SOMOS DIFERENTES

A distância que me separa de ti
é o mundo desmedido que medeia entre nós
no pensamento do EU em cada um de nós:
Do teu EU em ti 
Do EU em mim também.
Somos diferentes.
Somos diferentes como a água cristalina,
pura, inodora, insípida e incolor,
que se solta do âmago da rocha-mãe,
o é do vinho a escorrer da fermentação da uva macerada,
tomando a cor e o sabor da casta ou castas de que resulta;
Somos diferentes.
Somos diferentes como a água o é do azeite,
altivo,
orgulhoso do seu estatuto de gordura nobre,
alimento de grande poder nutritivo e curativo,
endeusado no convívio com divindades e ofícios divinos,
oriundo da oliveira,
símbolo da sabedoria, da paz e da abundância.
O azeite, que com a água não se mistura.
Subjuga-a.
Mata-a, impedindo-a de respirar;

Somos diferentes como a noite o é do dia,
como a terra o é do mar.
Somos diferentes.
A distância que nos separa é difícil de encurtar e aplanar.

                                                                                        Jeracina Gonçalves
                                                                                        Barcelos/Portugal, 29/08/2021

sábado, agosto 28, 2021

ORAÇÃO

Senhor,
é triste ver o sofrimento
de quem
perdida a telha e o pão
nada mais tem
que a desolação
estampada no olhar
dentro
d’ alegria incontida
de com a vida ficar.

Senhor,
em Ti ponho o meu pensamento:
dá-lhes a Tua força,
o Teu poder
o Teu alento
que do nada
com alegria recomecem
sem dor
sem tristeza
sem desfalecimento.

                                                Jeracina Gonçalves
                                                Barcelos/Portugal, Agosto/2021

quinta-feira, agosto 26, 2021

O BRILHO DO SOL DEIXOU DE DOURAR O HORIZONTE


O brilho do sol deixou de dourar o horizonte.
Já não acalenta a esperança dos prados onde germinavam flores.
Uma nuvem pesada escura volve do cais de memórias soturnas
E dissemina pelo horizonte a ameaça da noite sem estrelas
A infiltrar-se pelos interstícios das montanhas do medo.

No horizonte desenha-se o reanimar da era das sombras,
A caminharem, descalças, sem rosto e sem voz,
Por carreiros de brita angulosa, entre beiradas de silvas e de tojos.
Sacrílegas mordaças, ancorados num tiranismo retrógrado,
Pairam suspensas, como cutelos de morte,
Sobre o germinar límpido das flores dos prados,
E ameaçam o gorjear das aves e o seu esvoaçar sereno.

O brilho do sol deixou de dourar o horizonte.
O medo infiltra-se pelos interstícios de memórias soturnas
E a luz, que iluminava e acalentava os sonhos sonhados
E lhes conferia a alegria e a liberdade de Ser e de estar,
Dissolve-se na intolerância de regras apresadas no tempo.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 23/08/2021

sábado, agosto 14, 2021

O SUPORTE E A VIDA DA MINHA VIDA


Nas flores da beira-rio, recuo ao tempo em que, no rio,
voava com as borboletas, de corola em corola a poisar,
nesse tempo belo e mágico (esse meu tempo de criança)
em que o rio da “Levandeira” foi o parque da minha infância.

Nas flores da beira-rio, do rio da “Levandeira”,
não só aprendi a voar, como também aprendi a amar
as libelinhas e as borboletas, que nas flores vinham poisar,
e toda a natureza bela, sedutora, exposta ao meu olhar.

Nesse tempo belo e mágico, quando aprendi a voar,
aprendi que a natureza é o sustentáculo e a vida,
do pedacinho de vida, que na natureza sou;
todo o cuidado que lhe der é cuidado que me dou.

Sou apenas uma peça, tão ínfima, tão pequenina,
noutras peças entrelaçada desta natureza tão bela.
Todas interligadas para que o todo funcione
sem incidentes incuráveis de que nada sobreviva.

Nas flores da beira-rio, eu aprendia a amar e a voar
com as libelinhas e as borboletas que nelas vinham pousar;
como também prendi que a natureza é o suporte e a vida,
do pedacinho de vida, que, na natureza, sou.
Todo o cuidado que lhe der é cuidado que me dou!


                                                                                    Jeracina Gonçalves
                                                                                    Barcelos/Portugal, 14/08/2021
* Foto da Internet

terça-feira, agosto 10, 2021

Valquírias


O Norte Shopping foi o local escolhido para acolher a exposição Valquírias de Joana Vasconcelos – duas esculturas suspensas, cada uma com mais de 200 quilos e sete metros de dimensão – até 2 de Setembro.
Estas duas instalações exuberantes com corpos invulgares, são inspiradas nas “figuras femininas da mitologia nórdica que sobrevoavam os campos de batalha e gravitam”, lê-se em comunicado, e agora vão passar o próximo mês suspensas na praça central do centro comercial.
Paralelamente à exposição, foi pensado um programa com atividades gratuitas, nomeadamente, visitas guiadas às obras nos dias 10 e 24 de Agosto, às 19.00h, e quatro oficinas de croché para famílias aos sábados (7, 21 e 28 de Agosto), às 11.00h. Já no dia 14, também sábado e também às 11.00h, há um workshop sobre esta técnica tradicional para adultos. Todas as atividades têm um número de participantes limitado, por isso, é necessário fazer inscrição prévia no balcão de informações do Norte Shopping.
Esta mostra faz parte do Projeto Cultura no Centro, que envolve os centros comerciais geridos pela Sonae Sierra “que quer tornar a arte e a cultura acessível a todos”.

Norte Shopping. Piso 0 – Praças Centrais. Seg-Dom 10.00-23.00.

De: pporto.pt
Publicada por: Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal,10/08/2021

quarta-feira, agosto 04, 2021

VOU POR AQUI

Sabes, vou por aqui.
Não gosto de caminhos travessos.
Por aqui é o meu caminho.
Não é bom não é mau,
É o caminho que escolhi.

Sabes, vou por aqui.
Vou trilhar os trilhos da montanha:
Subir aos picos, descer aos vales
Atravessar as íngremes veredas
Aceder aos planaltos
Percorrer gargantas, desfiladeiros…
Percorrerei toda a montanha, sem medos nem preconceitos.
Este é o meu caminho, o caminho que escolhi.

Sabes, vou por aqui.
Lentamente… lentamente…
Percorrerei todo o caminho sem nada tomar de graça.
Sem pressas, chegarei ao meu destino.
A cor que me orienta é o verde brilhante da esperança;
A água que me dessedenta é a água límpida, pura 
do âmago da montanha;
O pão que me alimenta é o pão do amor, da verdade.
Este é o meu caminho, o caminho que escolhi.

Sabes, vou por aqui.
Não gosto de caminhos travessos.
Este é o meu caminho, o caminho que eu escolhi.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 04/08/2021

domingo, agosto 01, 2021

A VIDA É FEITA DE INSTANTES


De instante em instante
Me construo e desconstruo
No passar de cada instante
Tanto avanço como recuo.

A vida é feita de instantes
Em instantes contraditórios
Que da vida levam em instantes
Instantes que críamos seguros.

Sou apenas o instante
Em que sou estou e vou
Instante que já passou
E de instante em instante
O meu instante mudou.

                                                                                Jeracina Gonçalves
                                                                                      Barcelos/Portugal, 25/Julho 2021