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domingo, julho 27, 2014


Eu sou a imaginação e corro atrás da quimera
Em busca de alicerces para construir e criar
Não escolho o endereço, não escolho a direção
Navego em qualquer nuvem, que me ceda lugar.

                                                                                                                              Jeracina Gonçalves


sábado, julho 26, 2014

Não resisto a publicar este poema de Guerra Junqueiro que me chegou agora por mail e que retrata tão bem a atualidade do nosso Pais. JG

“E no entanto o país, meu Senhor,
é uma beleza! Uma beleza! Encantador!
Trinta portos ideais, um céu azul marinho,
A melhor fruta, a melhor caça, o melhor vinho,
Balsâmicos vergéis, serranias frondosas,
Clima primaveril de mandriões e rosas,
Uma beleza! Que lhe falta? Unicamente
Oiro,vida, alegria, outro povo, outra gente.
Raça estúpida e má, que por fortuna agora
Torna habitável este encanto…indo-se embora!
Deixe morrer, deixe emigrar, deixe estoirar:
Dois boqueirões de esgoto,- o cemitério e o mar.
Que precisamos nós? Libras! Libras, dinheiro!
Libras d’oiro a luzir! Onde as há? No estrangeiro?
Muito bem; o remédio é claríssimo, é visto;
Obrigar o estrangeiro a tomar conta disto.
Impérios d’além-mar, alquilam-se, ou então
Sorteados,- em rifa, ou à praça,- em leilão.
E o continente é dá-lo a um banqueiro judeu,
Para um casino monstro e um bordel europeu,
Fazer desta cloaca, onde a miséria habita,
Um paraíso por acções,-cosmopolita...”
                                      “Pátria” -1896-

De Guerra Junqueiro  (1850-1923)

quinta-feira, julho 24, 2014

ESCUTANDO O SILÊNCIO


Levantei-me da mesa de trabalho, fui à cozinha, peguei um copo de água, abri janela e fui tomando pequenos goles enquanto respirava o ar fresco e limpo da madrugada e admirava as copas das árvores, em frente, pintalgadas pelas cores quentes, que as enfeita na linda estação do Outono, e o céu raiado em tons de azul, rosa e laranja, a pressagiar, neste agradável amanhecer de finais de Outubro, um dia claro e bem ensolarado.
Dormi mal. Sem motivo aparente, sem qualquer razão consciente que a pudesse motivar, a insónia instalou-se teimosamente e, depois de voltas sobre voltas na cama, às cinco da manhã levantei-me e fui sentar-me em frente às teclas do meu computador – o meu fiel companheiro em noites como esta - ligando-o distraidamente, sem um objetivo definido de trabalho, mas, e apenas, para sentir em meu redor algum ruído que iludisse a solidão que sentia em mim e parecia querer invadir-me toda a alma.
Comecei por abrir o correio eletrónico e, distraidamente, principiei a abrir alguns e-mails mais recentes. Porém rapidamente desisti. Não estava motivada para esse tipo de atividade. Não me dominava a mente, não lhe ponha freio. Sentia-a inconstante e aérea como um pássaro sem poiso. Precisava de algo que a envolvesse no seu todo. Algo que captasse por inteiro o meu interesse e atenção. Resolvi então abrir uma “página” do Word, e a página em branco, despojada e submissa sob o meu olhar, convidou-me a verter sobre o seu corpo nu, em palavras simples, tudo o que o meu pensamento ia construindo no silêncio em redor. Rapidamente os meus dedos começaram a bater as teclas à velocidade do meu pensamento, que corria célere e, com os fios de seda da minha imaginação, em caracteres escuros e encadeados uns nos outros, fui tecendo o vestido que depressa cobriu a nudez do corpo branco da página, que tão tranquila e confiadamente havia exposto a sua nudez sob o meu olhar volúvel e inconstante.
Agora, em frente à janela, deixo o pensamento discorrer filosoficamente sobre o quanto o silêncio de uma sala fechada tem para nos dizer se soubermos e quisermos escutá-lo. Atentamente. Há um conteúdo riquíssimo de sons, cheiros, imagens e vivências, quer vindas do interior de nós mesmos, de onde crescem e transbordam, perdendo-se irremediavelmente se não tivermos a capacidade de rapidamente as agarrar, quer vindas dos objetos que nos rodeiam e nos dizem inúmeras e inestimáveis coisas da nossa existência, da nossa individualidade como Ser, dos nossos sentimentos, das nossas vaidades, das nossas dores…, e são inaudíveis no meio da barafunda do dia-a-dia. E, muitas vezes, são purgas na nossa vida, aliviando-a e preparando-a para novas vivências, mais ou menos positivas que o dia-a-dia nos traz e teremos de acatar. 
Sejam elas boas ou não.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, Outubro/2011

PS: Em romagem pelas pastas do meu computador, encontrei este texto que resolvi publicar agora. JG

segunda-feira, julho 14, 2014

DÚVIDAS…


Sem nada o fazer prever, sem qualquer feito que o anuncie, alteram-se as relações entre as pessoas, alteram-se os comportamentos, altera-se o sentido das palavras trocadas, o tom e a forma como são pronunciadas, como se uma qualquer força, uma qualquer energia desconhecida, vinda não se sabe de onde, atue em nós e no ambiente em que nos movemos, independentemente da nossa vontade. Do mesmo jeito que hoje temos o coração terno, doce, carregado de amor, amanhã mostra-se sombrio, agressivo, amargo e amargurado, carregado de ansiedade, sem que para isso tenham contribuído qualquer ato ou quaisquer forças reais percetíveis aos nossos sentidos. 
Qual o porquê dessas forças demolidoras que, por vezes, sentimos à nossa volta e em nós, e dominam a nossa vida e as nossas ações contra a nossa vontade, sem termos a menor perceção da sua chegada? Que tipo de energia cósmica nos domina e controla? Serão, realmente, influências planetárias, como nos é transmitido pela astrologia, por muitos denominados de “fantochada”, “charlatanismo”, “crendice”? Estarão essas forças muito mais presentes no controle das nossas vidas do que queremos crer? Terão os astros uma influência real sobre as nossas vidas e os nossos destinos? Será que os planetas, os cometas, as estrelas… e todas as energias que nos cercam e constituem o cosmos em que nos inserimos e movemos, influenciarão muito mais a nossa existência do que o que queremos acreditar? 
Nós somos energia. Disso não tenho a menor dúvida. Somos energia pura enformada neste invólucro físico, que é o nosso corpo. Mas que, por vezes, se solta e se evolua no espaço alado. 
E, como nos foi dado estudar na Física, as energias atraem-se ou repelem-se. 
Ou seja: têm influência umas nas outras…                                                                               

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal

quarta-feira, julho 09, 2014

COISAS SIMPLES


Aquela roseira tão bela, que comigo plantaste
Vive triste e sem verdor, entre tojeiras e silvados, 
No canteiro abandonado tomado por ervas ruins
Que no tempo aconteceram e tomaram o jardim.

O  meu coração, pesado, anseia por coisas belas
Pra meus olhos deslumbrar. Coisas simples, singelas
Como um campo de flores, o sol a morrer no mar
A lua com seu luar sobre superfície do mar…
Anseio por coisas belas pró meu coração encantar.


Jeracina Gonçalves
2/07/2014

terça-feira, julho 08, 2014

A VIDA




Se sentes a vida brotar no fundo do teu coração
dá-lhe espaço
dá-lhe o norte por onde se possa alargar
expandir sua energia
dar-se expressão.
Criar!
JG

sábado, julho 05, 2014

A INSÓNIA


Fui botada ao abandono  por Hipnos, reparador e amigo, que tanta falta me faz.
O melhor é levantar-me e ir até ao computador. Quem sabe se aí me surgirá qualquer ideia que consiga desenvolver com algum sentido, me envolva e me torne menos pesada e dolorosa esta pena imposta por Hipnos & Companhia. Ou talvez fique comovido com este meu desassossego e me levante esta pena tão dura, e me abra caminho para o seu regaço acolhedor e reconfortante.
Vou para o escritório. Vou centralizar todos os meus sentidos num único objectivo: ouvir o silêncio inerente a um compartimento, sem ninguém, além mim. Gosto de ouvir o silêncio.
Se soubermos escutá-lo, verificaremos que são inúmeros os sons que o enchem. 
Sons que geralmente nos passam despercebidos, mas estão presentes em qualquer ambiente, por mais silencioso que pareça, se nos concentrarmos e nos predispusermos a ouvi-los e a entendê-los. E podem até comunicar-nos e dar-nos a conhecer saberes importantes. 
E, muitas vezes, permitem-nos a evasão, o sonho, e levam-nos a viver situações fantásticas, criadas pela nossa imaginação.
Neste momento preciso dessa evasão; preciso dessa fuga providencial que dê algum calor e conforto ao meu coração, fazendo-o viver momentos especiais, que o façam vibrar e o ajudem desprender-se desta corrente sufocante que o aprisiona e me atemoriza.
Centro a minha atenção neste espaço do escritório e um zunir impressionante, como se um grupo de abelhas - não digo enxame, porque o zunido seria muito mais intenso - andasse por aqui na colheita do pólen, voando de flor em flor, fere o meu ouvido atento. E quanto mais me concentro neste espaço, mais intenso se torna o zunido em meu redor. Julgo que vem do próprio computador obedientemente ao meu serviço; mas a consciência exacta de onde me chega, não a tenho. Está por aqui....à minha volta, e derruba os muros que me enclausuravam e leva-me até às margens verdejantes e floridas de um lago muito azul, onde esvoaçam passarinhos coloridos e abelhinhas atarefadas pousam de flor em flor na recolha do pólen, que carregam nas patitas até à colmeia. E essas imagens começam a colorir a minha alma e a dar energia ao meu corpo cansado pela insónia.
Mas o espaço do meu escritório já não é suficiente ao meu exercício de concentração. Preciso de alargar o espaço de concentração para lá da janela fechada, com vidros e vidraças duplas.
Fecho os olhos. Concentro-me no espaço que fica para lá de janela, e chega-me então a mistura de muitos outros sons. Mas o chilreio dos pássaros é sem duvida o mais dominante: um… outro… e outro…
Acabaram de acordar e ocupam-se em cuidar de si, da sua higiene matinal e do seu desjejum. 
Não são porém os únicos sons que me chegam do lado de lá da janela fechada; outros se destacam também. E o som da brisa matutina a ressoar nos ramos, que dançam ao ritmo do seu desejo, chega também aos meus ouvidos e à minha mente atenta; um galo canta…
São os sons do amanhecer. Os sons do despertar para mais uma jornada que chegam até mim: uns mais agudos, mais graves outros; uns mais audíveis, outros mais surdos, todos fazendo parte da maravilhosa sinfonia de um dia ao acordar.
O som forte do motor de um automóvel predomina agora. É o carro do vizinho com o motor a trabalhar. Começa a rodar e desaparece pouco a pouco na distância, como um fumo intenso, que sai da chaminé e logo se espalha e desaparece levado pelo vento, deixando de novo o ar limpo e o céu azul.
Um toque estridente da campainha da minha porta fere agora os meus ouvidos.
É, certamente, a empregada que chega. Vou abrir.
Jeracina Gonçalves


quarta-feira, julho 02, 2014

PÉS FERIDOS


Caminho descalça sobre brita angulosa derrubada no meu caminho
Meus pés ulcerados, sangram abundantemente
e,  doridos, temem a gangrena que os possa derrubar.
A dor atinge-me as entranhas e quer tomar o meu coração.
Meus pés ulcerados, sangram abundantemente,
clamam por repouso. Na caminhada, uma trégua.
Preciso de  limpar e aplainar o caminho da jornada:
Preciso de varrer a brita que faz o piso rugoso,
endurece a caminhada e ulcera os meus pés. 
Meus pés, ulcerados, anseiam por unguentos balsâmicos.
Meus pés ulcerados anseiam por unguentos que acalmem sua dor.
Jeracina Gonçalves
2/07/2014