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domingo, outubro 24, 2021

 

Considero este texto deveras pertinente e muito bem escrito. E porque me identifico com tudo o que é dito, aqui o deixo:


SOMOS AS PERGUNTAS QUE FAZEMOS

A Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação da Universidade do Porto assinalou, no passado sábado – como faz, aliás, anualmente –, o Dia Mundial da Alimentação. O dia serviu de pretexto para a receção aos novos estudantes, com a implementação de um exemplar programa de hospitalidade constituído por iniciativas de integração dos jovens na comunidade e de explicação do sentido dos percursos de formação e investigação que lhes são sugeridos.

Nesse dia, nos diferentes órgãos de comunicação social, fomos confrontados com o chavão “somos o que comemos”. E fiquei a pensar: os chavões têm esta particularidade, são ideias batidas de tantas vezes que são repetidas, mas não é pelo facto de serem comummente aceites e vocalizadas que deixam de ser verdade.

A alimentação identifica-nos, na realidade, a vários níveis. Em primeiro lugar, a alimentação determina a nossa saúde: a escassez de alimentos faz-nos fracos; a abundância de açúcares e gorduras torna-nos obesos; uma dieta completa, variada e equilibrada assegura-nos o bem-estar físico e emocional. Em segundo lugar, o que comemos está intimamente relacionado com escolhas de vida, muitas vezes religiosas (como o impedimento de ingestão de carne de porco por muçulmanos e judeus ou de carne de vaca por hindus), outras vezes morais (como é o caso do vegetarianismo e do veganismo). Por último, a alimentação traduz, frequentemente, a nossa condição social: comemos aquilo que podemos comprar.

Mas não somos apenas aquilo que comemos: somos também as perguntas que fazemos. Encheu-me de esperança confirmar o que já há muito sabia: que, na Faculdade de Ciências da Nutrição e da Alimentação, os estudantes são estimulados a fazer perguntas. É destes jovens conscientes da sua capacidade transformadora que necessitamos: cidadãos especializados que sabem responder à questão “o que devemos comer”, mas que formulam também, eles próprios, questões subordinadas à perplexidade “como é possível que, no século XXI, tantas pessoas não tenham segurança alimentar?”.

É verdade que somos o que comemos; mas somos também as perguntas que fazemos.

                                                                    Fátima Vieira, Vice-Reitora para a Cultura, Museus e Editora


De: Cultura cultura@mkt.up.pt

publicado por Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal  

sexta-feira, outubro 22, 2021

DO ALTO DA DUNA

Sentada no alto da duma
Meu olhar deitado no mar
Perde-se entre o azul e o azul
No voo duma gaivota
Em piruetas pelo ar.
Meu olhar voa com ela
E pica a água do mar!

Mais ao longe passa um barco
(Paquete diria eu)
Entre o azul e o azul
Muito lesto a navegar
Segue nele o amor meu
Meu coração, que é seu,
Segue no barco no mar!

Sentada no alto da duma
Deito os meus olhos no mar
E logo vem um peixinho
Para comigo falar
Dos males que encontra no mar
Das teias do seu caminho
Que lhe embargam o ar…

Vem depois uma gaivota
Para comigo falar
Sua voz intermitente
Num constante soluçar
Mostra-me as asas coladas
Ao seu tronco agarradas
Com piche deixado no mar…

Sentada no alto da duma
Deito os meus olhos no mar
E vejo uma onda negra
Para a praia a navegar
Desço à praia e vejo então
O lixo que mata o mar
Na orla serena do mar.

                                            Jeracina Gonçalves
                                            Barcelos/Portugal/2020

segunda-feira, outubro 18, 2021

A olaria negra de Bisalhães

Esta olaria preta faz parte das memórias da minha infância, quando andavam pela minha aldeia mulheres de Bisalhães com cestos à cabeça cheios de  panelos e panelas e caçoilas e chocolateiras e alguidares para irem ao forno (e que bom era o arroz do forno feito nesses alguidares!) e "tanhas" ou talhas para o azeite e para cortilhar as azeitonas e canecas para o vinho ("pichorras" como lhes chamava o meu avô) e assadeiras para as castanhas... e outros utensílios para uso na cozinha. E mais tarde, quando estudante em Vila Real, recordo a Feira dos Pucarinhos na noite de S. Pedro no Largo da Porta Nova e as nossas brincadeiras, no fundo da avenida, junto ao liceu, a jogar o pucarinho que comprávamos na feira. O chão ficava pejado de cacos pretos. 
Memórias que guardo com muito carinho da loiça de Bisalhães.

"A olaria negra de Bisalhães e a gastronomia regional estão em destaque no pavilhão de Portugal da Expo Dubai, para valorizar e promover a louça de Vila Real classificada pela UNESCO.A participação na Expo Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, resulta de uma iniciativa conjunta entre o Turismo do Porto e Norte de Portugal (TPNP), o município de Vila Real e a Agência para o Investimento e Comércio Externo de Portugal (AICEP) Portugal Global.
A Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) inscreveu a 29 de novembro de 2016 o processo de fabrico do barro preto de Bisalhães na lista do Património Cultural Imaterial que necessita de salvaguarda urgente.
Este é considerado um ofício duro, exigente, com recurso a processos que remontam, pelo menos, ao século XVI. O processo de fabrico inclui desde o tratamento inicial que se dá ao barro até à cozedura.
As peças que nascem pelas mãos dos artesãos são depois cozidas em velhinhos fornos abertos na terra, onde são queimadas giestas, caruma, carquejas e abafadas depois com terra escura, a mesma que lhe vai dar a cor negra.
E foi este processo de fabrico que foi classificado pela UNESCO.
A Expo 2020 Dubai conta com a participação de 192 países e é a primeira a decorrer no Médio Oriente entre 01 de outubro e 31 de março."
De: pporto.pt
publicado por.
Jeracina Gonçalves - barcelos/Portugal

É TEMPO DE DESCANSAR

 

A vida caminha sem demoras nem atrasos pelos diversos ciclos, desde a chegada à partida, e a natureza entra agora num ciclo novo.
O sol já esmoreceu a paixão ardente com que abraçava a natureza viçosa e jovem, ciosa da sua beleza e dinâmica pujança cheia de entusiástica energia, acalentando-lhe e enriquecendo-lhe, em cor e de sabor, os frutos que a cigarra de perna cruzada, crente na generosidade da formiga diligente, embalava com a sua melopeia fastidiosa, impertinente, enfadonha. O seu amor é agora mais sereno, mais calmo, menos apaixonado mas mais terno e amadurecido pelo tempo. Com ele amima-lhe os frutos, que inebriam o ar de aromas estonteantes, e que o Outono colhe e carrega para as arcas e lagares; mostos fermentados exalam éteres embriagantes a evoluir pelos ares; vestidos de cores garridas vestem parques e vinhedos atapetados de belas e fofas carpetes e são inspiração para poetas e pintores; pássaros, como esquadrilhas alinhadas sob responsável comando, cortam o anil do ar e obedecem à voz do líder, que os orienta para outros lugares onde o sol se mantenha jovem e de amor ardente; pois, deste lado da Terra, desgastada a energia da sua juventude, envelhecido e cansado, propõe-se descansar: retira-se cada dia mais cedo e acorda cada dia mais tarde; o dia esmorece e a noite cresce. 
É tempo de descansar para recompor as energias desgastadas.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 29/09/2021



domingo, outubro 17, 2021

MURMÚRIOS À BEIRA MAR

O mar sussurra baixinho
Palavras de amor e carinho
À areia em silêncio a chorar
“È só um até já
Não demoro a voltar”
A areia se queda
Em silêncio
Espera a volta do mar.

                                        Jeracina Gonçalves
                                        Barcelos/Portugal, Julho/2020

domingo, outubro 10, 2021

 O BAILADO DO VENTO


As folhas do plátano solfejam a canção do vento

Que amorosamente as vem beijar

E vem com elas dançar

Sob o manto azul diáfano que circunda todo o ar.


O coração do vento deixa-se emocionar:

Abraça mais forte as folhas em seus braços a rodar

Em ritmo crescente. Rodopiam nos braços do vento

Rodopiam…rodopiam… rodopiam…

Nos braços do vento cantam e dançam sem parar.


O meu coração estremece,  ao baile se vai juntar.

Em teus braços, entre o azul a rodar, rodopia, rodopia…

Sobe ao palco celeste e por lá se deixa ficar.


Jeracina Gonçalves
Barcelos Portugal/08/08/2021

sábado, outubro 02, 2021

Coreografias do riso em exposição na Casa-Museu

Exposição de desenhos da artista Bárbara Fonte vai estar patente ao público de 2 de outubro a 27 de novembro. Entrada gratuita.

O ciclo chama-se O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar, tem curadoria de Sílvia Simões, e traz, a partir do dia 2 de outubro, uma nova proposta à Casa-Museu Abel Salazar (CMAS): Coreografias do riso, de Bárbara Fonte. É uma exposição de desenho que surge no âmbito das Jornadas Europeias do Património e pode ser visitada até 27 de novembro, .

A exposição apresenta desenhos a preto e branco, grande escala, a  tinta da china, e ainda um trabalho em vídeo, onde se explora o papel do  riso, em contexto público e privado. O convite foi dirigido a Bárbara  Fonte há dois anos, altura em que começou a aprofundar a investigação  sobre o desenho de Abel Salazar.

De início, a artista julgou que iria estabelecer uma relação com os  microrganismos que o médico e artista plástico desenhava com base nas  observações que fazia ao microscópio. Aos poucos, contudo, foi sendo surpreendida por  outras descobertas, novas perspetivas e, como consequência, desenvolveu  outras aproximações.

A diversidade de campos de interesse de Abel Salazar levou assim  Bárbara Fonte por caminhos que não tinha sequer previsto, nomeadamente  com a descoberta de um livro de caricaturas que o então estudante, de 15  ou 16 anos, havia feito dos professores.  E esta é a altura em que os  microrganismos ganham outra vertente, a da sátira.

Numa conversa com Sílvia Simões, curadora do ciclo de exposições e  professora da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto (FBAUP),  Bárbara Fonte identifica a “sátira, a ironia e a comédia” dos trabalhos  expostos numa relação com o teatro e drama. Fazer uma caricatura,  diz-nos Bárbara Fonte, implica “uma empatia e uma troça”. Há,  efetivamente uma “aproximação” àquele que é representado e depois um  “afastamento” que permite a criação da caricatura.

Explorar desse lado ridículo “é uma coisa intimista”, ao qual não é  alheio “um certo nível de maldade”. Algo que até se esconde porque “não é  para mostrar”. Simultaneamente, aos “rostos de riso largo, ou riso  exagerado” também se associa “uma postura de superioridade e  segurança. Há um certo lado de autoridade de quem ri”, nota a artista.

Jardim Botânico do Porto

Bárbara Fonte explorou um conjunto de caricaturas feitas por Abel Salazar durante a sua juventude. (Foto: DR)

O riso enquanto espaço de troça e de medo

Com desenhos em grande escala, Coreografias do riso apresenta  formas viscerais para descobrir. O riso surge, nas palavras de Bárbara  Fonte, “enquanto espaço de troça e de medo, de idiotice e de agressão,  de animalidade e honestidade, de verdade e de satisfação, de prazer”.

Mote para esta exposição e inquietação que a artista vai continuar a  explorar, o riso também marca presença nos seus sonhos. Será o “medo de  ser alvo de riso”, atira Bárbara Fonte. “Mas ao mesmo tempo estou sempre a  procurar esse riso”. (…) “Eu gosto de fazer com que o riso apareça.  Gosto dos extremos”. A propósito desta exposição diz ainda que “o  gracejo e a sátira são instrumentos de entendimento humano, onde a carne  dá passagem aos estados psíquicos e o desenho acede à máscara.”

Bárbara Fonte é licenciada em Pintura e Pós-graduada em Teoria e  Prática do Desenho pela FBAUP. Tem desenvolvido trabalho criativo na  área do desenho, da fotografia, do vídeo, da performance e da  instalação. Participou com textos e ilustrações em revistas de livros e  expõe regularmente, em parceria com outros autores ou individualmente,  em diversas galerias e espaços culturais desde 2001.

Jardim Botânico do Porto

O desenho contemporâneo de Abel Salazar

Esta é a quinta exposição do ciclo O desenho contemporâneo em diálogo com a obra de Abel Salazar.  Sílvia Simões, curadora do ciclo, pretende com esta iniciativa colocar a  obra artística do antigo investigador e professor da Universidade do  Porto, Abel Salazar, numa relação dialógica com desenhos de artistas  contemporâneos, salientando a relevância dos desenhos na atualidade.

A conversa entre a curadora e Bárbara Fonte pode ser ouvida na íntegra aqui

Com entrada gratuita, Coreografias do riso  ficará patente na Casa-Museu Abel Salazar até 27 de novembro. A  exposição pode ser visitada de segunda a sexta-feira, das 9h30 às 13h00 e  das 14h30 às 18h00. Aos sábados, abre portas das 14h30 às 17h30.  Encerra aos domingos e feriados. 


Newsletter  da Casa Comum - Universidade do Porto 

Newsletter n.º 66 | 1 de outubro 2021

Fonte: Notícias U.Porto

Publicado por: Jeracina Gonçalves

Barcelos/Portugal, 02/outubro/2021