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domingo, maio 24, 2015

…ATÉ QUE O FIO SE PARTA.


Que importa o que eu quero, 
O que eu penso
Ou o que eu sinto?
A vida não corre em função do meu pensar, 
A vida não corre em função da minha vontade 
Do meu querer
Nada gira sob acção do meu desejo 
Nada gira sob acção da minha decisão
Posso, às vezes... 
Ter a ilusão que comando o meu viver 
Que impulsiono a minha acção
Mas… não. 
É apenas ilusão
Cedência da Luz Suprema que a Vida determina
Em algumas circunstâncias
A minha vontade pode parecer alavanca 
Dar-me a ilusão de que comando a minha vida
Que determino o meu viver
Mas... não.  
É  apenas ilusão. 
Cedência da Força Maior 
Essa Luz Universal que motiva o meu viver
Que motiva o teu viver 
E toda a Força Vital que preenche o Universo
Cedência dessa Luz Superior
Dessa Luz Universal que tudo rege e domina
Eu aqui sou um pião 
Tu, aqui, és um pião…
Todos somos piões rodopiantes nas mãos dessa Força Maior 
Dessa Suprema Luz que rege o Universo
Todos somos piões rolando...rolando… rolando…
Até que o fio se parta
Depois...  
Que acontecerá depois?

Jeracina Gonçalves - Barcelos/Portugal
17/04/2015


segunda-feira, maio 18, 2015

PALAVRAS DE VELUDO

Neste tempo desbotado de portas e janelas cerradas
Só palavras de veludo, luminosas, bem macias,
de ti quero ouvir!
Só palavras de veludo eu a ti quero dizer!
Só palavras de veludo entre nós serão trocadas.
Palavras, com sorrisos nos lábios e doçura no olhar.
Na boca, doce e gostosa, o sabor do verbo amar.

Só palavras de veludo da cor do azul celeste,
Macias, aconchegantes, para nelas nos enroscarmos
E aquecermos este tempo tão desbotado e agreste.

Só palavras de veludo luminosas, perfumadas,
de ti quero hoje ouvir!
Palavras de veludo pra mimar o meu coração
tão cansado, abandonado
neste tempo desbotado e esquecido de sorrir.
Só palavras de veludo quero para ti dizer.
Só palavras de veludo de ti quero hoje ouvir.
Palavras, com sorrisos nos lábios e doçura no olhar.
Na boca, doce e gostosa, o sabor do verbo amar.

Só palavras de veludo da cor do azul celeste,
Macias, aconchegantes, para nelas nos enroscarmos
E aquecermos este tempo tão desbotado e agreste.

Só palavras de veludo luminosas, perfumadas...
Palavras de veludo pra mimar meu coração
Neste tempo desbotado e esquecido de sorrir.
Só palavras de veludo quero para ti dizer.
Só palavras de veludo de ti quero hoje ouvir.
Palavras, com sorrisos nos lábios e doçura no olhar.
Na boca, doce e gostosa, o sabor do verbo amar.

Jeracina Gonçalves

05/05/2015

sábado, maio 16, 2015

CAMINHADA


E a vida decorre assim,
entre as muralhas deste tempo
que  engole o meu tempo
sem tempo para mim.

Daqui para ali…
De lá para cá…

A manhã esgotou-se, devagar,
por  entre cadeiras  de rodas
e macas estacionadas no corredor.
A tarde esvai-se, também, sem luz e sem cor.
Escorre, lentamente, pelo mesmo circuito da dor.

Daqui para ali…
De lá para cá…

E a vida decorre assim,
entre as muralhas deste tempo
que  engole o meu tempo
sem tempo para mim.
Jeracina Gonçalves
16/05/2015  
Gosto de escrever. É uma necessidade, quase um vício. Faz parte de mim. É intrínseco ao meu Ser.
Utilizando o ecrã do meu computador ou uma esferográfica e qualquer pedaço de papel em branco, todos os dias tenho de escrevinhar qualquer coisa, mesmo que seja apenas uma qualquer despretensiosa frase. Faz-me falta. Faz-me bem. Ajuda-me a despegar os pés da terra, a evadir-me por entre a dimensão do sonho, esquecendo um pouco a realidade menos prazerosa que, às vezes, domina o meu quotidiano.
Não há melhor remédio, quando o tempo cansa e se faz comprido, para encurtá-lo e torná-lo apetecível, rápido, alado. Ganha asas como por milagre. Voa e leva-me para lugares amenos que enchem o meu coração e levam de mim o cansaço que me estagnava  a alma. Mantinham-na presa, dolente, em circuitos fechados ao ar e à luz da vida. E a própria alma ganha asas e voa para lugares que só ela sabe identificar. E o poema, o texto às vezes está ali, à espera que lhe abra a porta, completamente pronto. Formou-se sem que me tenha apercebido e brota livremente, como nascente a brotar livre e fluida da rocha, mal lhe dou oportunidade. Flui como uma torrente límpida, sem escolhos no caminho. Outras vezes cresce uma barreira no leito, como se qualquer enxurrada entulhe e trave o fluxo espontâneo da torrente. E as palavras empilham-se, sem nexo, contra o muro da barreira à espera que surja uma brecha por onde possam gotejar, uma a uma, e se organizarem em frases. Pouco a pouco o poema ou o texto vão crescendo e agarram o tempo, que, então, escorre como areia seca por entre os dedos.
Hoje aqui estou tentando escrever qualquer coisa que transmita uma ideia, ilustre um quadro de Amor, enobreça um pensamento, mas as palavras, as frases ficam presas numa barreira hermética que não deixa escapar qualquer gota que possa tornar-se a essência de um novo poema, ou de qualquer texto minimamente apetecível. Um vazio me enche, e domina cada uma das minhas emoções.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal,15/05/2015

sexta-feira, maio 08, 2015

NA PENUMBRA DO ENTARDECER

“Na penumbra do entardecer 
escondeu-se teu brilho ardente
e o cheiro da terra quente, 
que deixaste em teu lugar”
em volutas pelo ar
entra-me pelas narinas 
embriaga-me os sentidos 
e em mim vem despertar 
as radiosas auroras
doutros tempos, noutros lugares
sob o lençol das estrelas 
nos braços vigorosos do mar.
A neblina cresce sobre o mar
E embarga o meu olhar.

Nesse barco da memória 
em que me deixo embarcar
nesse barco, a navegar, 
vagueio pelos mares d’outrora
e pelas radiosas auroras 
com cheiro a maresia,
iluminadas com estrelas 
a luzir durante o dia
que me apraz recordar.

Nesse barco da memória, 
nesse barco a navegar
sulco as vertentes da serra 
sulco as ondas alterosas do mar
bebo a luz límpida das estrelas 
boio na fluidez ondulante do ar.

Nesse barco da memória 
nesse barco a navegar
venço as procelas da vida 
venço os baixios deste mar.
Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal

sexta-feira, maio 01, 2015

SENHOR, NÃO GOSTO DE ISTO VER!


Senhor, eu não sou santa. Demónio também não sou.
Há coisas neste mundo difíceis d’entender
Coisas que me fazem doer
Com as quais eu não me dou:
Gente que sofre horrores só para sobreviver
Outra, como vampiros, atraiçoa-a no seu crer,
Suga-lhes o sangue, a alma, até a morte ocorrer.

Senhor, não gosto de isto ver!
Quem me dera ter as armas pra isto subverter!

Essas aves predadoras, esses chacais assassinos,
Sem olhar que o outro pisam, que sangra pelo olhar
Rompem a vida, os sonhos, de homens, mulheres e meninos
Depenam-nos ao infinito e abandonam-nos à sua sorte
Até lhes causarem a morte.
Tanta maldade, Senhor, tanta avidez pelo ter
Faz minha alma doer.

Senhor, não gosto de isto ver!
Quem me dera ter as armas pra isto subverter!

A Terra é lugar belo para se amar e viver.
Porém causa-me questões difíceis de entender:
Por que há uns com tanto e outros sem o mínimo?
Nem sequer para comer?
Senhor, Meu Jesus, põe cobro nesta aberração:
Que toda a gente do mundo, dia-a-dia, tenha o pão
Um teto, um abraço, uma mão na sua mão.
A esses “donos do mundo” abre-lhes o coração.
Fá-los olhar para baixo. Que vejam onde põem os pés.
Peguem as mãos dos pisados e caminhem com eles.
Ao lado!

Tanta maldade, Senhor, tanta avidez pelo ter…
Voracidade tamanha...sem olhar que ao outro dói,
Faz minha alma doer.
Senhor, não gosto de isto ver!
Quem me dera ter as armas pra isto subverter!
Jeracina Gonçalves
21/04/2015