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segunda-feira, dezembro 03, 2007

FUI A FÁTIMA.

Fui a Fátima.
A LUZ que lá encontrei reside no espaço amplo,
na mística envolvente do lugar,
na majestade do templo do passado.
O moderno não tem chama,
Não tem Luz, nem ponte para o Divino.
Não abre janela, nem porta, nem ponte para a Fé.
O moderno, que lá encontrei, é frio.
Não tem alma.
Nega à Fé o suporte da emoção.
Arreda-a do coração.

Rosto duro… mau…
Rosto sem comoção, o rosto do Crucificado.
Rosto inconcebível em qualquer humano ser,
sujeito à tortura de um tão grande padecer.
Rosto duro… mau…
Rosto inaceitável num Deus Humanizado.

Fui a Fátima.
O moderno, que lá encontrei, é frio.
Não tem alma.
Nega à Fé o suporte da emoção.
Arreda-a do coração
É preciso conhecer. É preciso acreditar. E amar.
Para incutir alma num frio pedaço de bronze,
que se quer realizar.

Fui a Fátima.
Jeracina Gonçalves

sexta-feira, novembro 30, 2007

NO MARÃO AO ANOITECER

O horizonte purpúreo por detrás dos volumes serrilhados dos montes é já a única marca luminosa no compacto de sombras, que dominam a serra do Marão, que agora desço. É a marca deixada por um dia claro e luminoso a exalar o seu último suspiro. Um dia igual a muitos outros, com que este Outono nos tem presenteado. Um Outono de cores escarlate, vistosas, iluminadas por uma luz transparente, que as torna ainda mais brilhantes e encantadoras. Lindíssimas! Mas… demasiado seco.
Com algum temor recordo o passado, bem recente, em que o nosso pequeno país viveu sedento, e a tristeza e a dor espalhou-se pelas aldeias, pelos prados, pelos campos. E foi necessário distribuir a água, indispensável à vida, por muitas das nossas aldeias, de Trás-os-Montes ao Algarve.
Está bem presente na minha memória o espetáculo dramático de ver a terra fendida, gretada, a gritar a mágoa que remoía em suas entranhas, sem meios para matar a fome aos seres que da sua exuberância, da sua generosidade dependiam e a ela  recorriam sem conseguirem obter o que tão urgentemente necessitavam para se manterem vivos. E muitos seres tombaram exangues de fome e de sede sobre o seu dorso, e aí se deixaram finar.
Foi um ano mau. Muito mau. Peço a Deus que outro igual não aconteça por agora.

Jeracina Gonçalves
27/11/07
Este texto foi escrito em Novembro de 2007

segunda-feira, outubro 29, 2007

28/10/07
O Sol abre-se num sorriso prazenteiro e anuncia-me a alegria de mais um dia cheio de luz e de cor neste Outono sem pressas nem vontade de se instalar.
É um espetáculo que não me cansa, nem me canso de olhar: seja quando lentamente se levanta e começa a colorir o horizonte e a iluminar o rosto da paisagem, até que surge aquela bola redonda, plena e cheia de força, a espalhar luz e calor sobre a Terra, seja depois, na hora da despedida, a esvair-se lentamente em sangue a alastrar no anilado do céu, pintando quadros de delicioso encanto, até que de todo morre, para horas depois renascer.
Jeracina Gonçalves

segunda-feira, outubro 22, 2007


Seja na serra ou no mar
Gosto do sol quando nasce
Gosto de vê-lo morrer
É manjar que minha alma come
Com deliciado prazer.
Jeracina Gonçalves

quarta-feira, outubro 17, 2007
















... E de socalco em socalco,
trepam pelo outro lado
cruzam vários caminhos
diversos povoados
sobem ao etéreo azul
cruzam com o rei da vida
quase em fim de jornada
no horizonte ondulado.
Despede-se de S. Leonardo.
Jeracina Gonçalves












Meus olhos descem, lentamente, por esses socalcos
- esculturas dinâmicas e sinuosas, traçadas em circular -,
feitos de passos e de braços com enxadas a cavar,
e mergulham na prata luzente, lá em baixo, no cavado.
Jeracina Gonçalves

terça-feira, outubro 16, 2007

No barco de S. Leonardo
sou agora o timoneiro:
sulco este “mar de mosto”,
mergulho meus olhos no rio
que comigo, ao desafio,
joga um jogo de crianças:
ora de ar prazenteiro
mostra seu rosto risonho
ora foge ao meu olhar
entre ravinas trancado
e sob o mar encrespado
de ásperas ondas rochosas
abre caminho pró mar.

Jeracina Gonçalves

domingo, outubro 14, 2007

S. LEONARDO DE GALAFURA

















Da proa do grande  navio
que o poeta lhe deu
contempla o rio, lá no fundo,
que ora se ri francamente
ora se esconde e se fecha
entre as ravinas rochosas.
                                                                            Jeracina Gonçalves

sexta-feira, julho 27, 2007

O tempo não volta

O tempo, pássaro voando sem poiso,
nem tempo a desperdiçar,

soma distâncias em dias, meses e anos
para jamais regressar.
O tempo não roda;
O tempo não volta a passar;
O tempo hoje perdido
jamais se consegue apanhar.
O tempo, do nosso tempo,
vestido de Paz e de Amor,
saibamos aproveitar.
JG

segunda-feira, julho 23, 2007

VELHOS SÃO OS TRAPOS

Os anos passam por nós com a rapidez do relâmpago e vão deixando o desgaste da sua passagem no nosso processo anímico, intelectual e físico.
O tempo desgasta qualquer máquina e, a nossa, por mais perfeita que seja, sente também as marcas da passagem do tempo: a pele perde o viço e é marcada por vincos mais ou menos profundos, os ossos doem e, pouco a pouco, vão-se tornando menos densos e mais quebradiços, a vista perde acuidade, a memória não responde às solicitações com a mesma prontidão, os movimentos perdem agilidade e graça, as pernas não nos obedecem com a mesma rapidez… enfim: uma série de pequenos ou grandes males vão surgindo e submergindo o que antes eram dados certos, precisos e disponíveis, sempre prontos a intervir com acuidade e rapidez.
São os acessórios naturais trazidos pelo tempo volvido; aspetos físicos da velhice temporal; marcas de um tempo que nem todos temos o privilégio percorrer, para nos recordar que não somos imperecíveis, nem impermeáveis à sua passagem; mas, pelo contrário, somos perecíveis e sujeitos a maior ou menor prazo de validade.
Alguns têm um prazo de validade muito curto e a sua caminhada termina bem cedo. Partem sem rugas na pele, nem dores nos ossos. Outros (onde muitos de nós nos incluímos já), que têm uma caminhada mais longa e chegam a esse estádio, acima descrito, são privilegiados e têm o dever acrescido, para consigo e para com a sociedade, de lutarem contra a verdadeira velhice, a velhice que se instala através da alma (porque a verdadeira velhice é, sobretudo, um estado de alma), com veemência e com todos os meios ao seu alcance.
Há jovens de pele enrugada e corpos curvados sob o peso dos anos passados, mas entusiasmados pela vida, de espírito aberto, sempre prontos a deixarem-se surpreender e a aprenderem mais e mais, e velhos de corpos eretos e pele lisa, que deixam a vida passar por eles mantendo-se indiferentes à sua passagem.
A verdadeira velhice acontece quando deixámos morrer a capacidade de sonhar e perdemos a curiosidade pelas coisas. Quando perdemos a esperança e nos remetemos à inatividade física e intelectual;
A verdadeira velhice instala-se quando deixamos de acreditar na nossa força interior, nas nossas capacidades de sentir, de querer, de realizar, e passamos o tempo a rezingar e a dizer mal de tudo e de todos, perdidos num passado que não tem volta, sem querermos vislumbrar ou dar um passo em direção ao futuro;
A verdadeira velhice instala-se quando lhe franqueamos a porta e nos acomodamos no nosso canto, sem reagirmos aos processos de desgaste intelectual, físico e psíquico, que o passar dos anos traz, irremediavelmente, consigo, e leva à deterioração cognitiva e sensitiva, abrindo caminho à solidão e à depressão – estrada larga para a verdadeira velhice.
Se não lemos, não escrevemos, não fazemos jogos ou outras actividades, que obriguem a mente e o corpo a trabalhar, estamos a convidá-los (corpo e mente) à preguiça e daí, à morte.
É sabido que, qualquer máquina parada se deteriora mais rapidamente, o mesmo acontecendo com a nossa.
Alguém dizia, outro dia - alguém com muita idade, de pele enrugada e corpo alquebrado, mas com grande atividade intelectual -, que não tinha tempo para envelhecer.
Pois é. Se calhar envelhecer é só uma questão de ter ou não ter tempo.

                                                                                                                                                                                                                                             Jeracina Gonçalves

segunda-feira, julho 16, 2007

A SEMENTE GERMINADA

Seara ondulada
solta à brisa
afagada com amor
exibe o húmus e o âmago
da semente germinada
na terra rasgada
transmutada em nutrido grão.
                                                 JG

sábado, julho 14, 2007

GAIVOTA FERIDA

Suspensa na noite sem luz
Asa ferida no muro
Alto e duro
Que barra o seu mar,
A gaivota enreda-se
No emaranhado de cordas a esmo
Pelo chão.
Debate-se na escuridão.
Tropeça aqui... 
Cai acolá…
Esvoaça voo curto
Voo rasante ao chão.
O voo solto, livre
Que lhe pede o  coração
Não consegue libertá-lo

Tropeça aqui, cai acolá…
Bebe no horizonte a luz de um sol a emergir.
O voo para a liberdade não tardará a surgir!
Jeracina Gonçalves

sexta-feira, junho 01, 2007

SOU CRIANÇA


Sou criança.
Preciso de ti, adulto!
Preciso do teu cuidado
Preciso do teu amor
Preciso do teu exemplo

Preciso do teu tempo
Preciso do teu sim
E preciso do teu não;
Para edificar o meu Ser

Não preciso apenas do teu pão.
Preciso da tua atenção!

Sou criança, adulto,
Imagem da tua imagem!

Como esponja, absorvo
O líquido bom e o mau:
Seguirei pelo caminho
Que tu abrires para mim

Ensina-me a amar as flores,
A sentir por elas amor;


Ensina-me a amar os pássaros
Os peixes dos rios e do mar
As árvores que fabricam o ar...

Sou criança, adulto,
Imagem da tua imagem!

Mostra-me o caminho do sol
E põe sementes de amor
Na campina do meu coração
Nela germinarão flores


Sou o Homem do futuro

Para edificar o meu Ser
Não preciso, apenas, do teu pão
Preciso da tua atenção.


Sou criança, adulto,
Imagem da tua imagem.

Sou o Homem do amanhã
Mostra-me caminhos de luz
E põe sementes de amor
Na campina do meu coração

Sou criança, adulto!
Tens o mundo nas tuas mãos!

Jeracina Gonçalves

sábado, maio 26, 2007

OS LAGOS DE PLITVICKA

Não é o céu, nem é o mar;
mas é o céu e o mar
esse cristal fluido,
da cor do céu e do mar,
que afoga o meu olhar.
São as piscinas da Lua,
em jazidas de esmeraldas
cravejadas de turquesas,
onde a Lua se vem banhar;
são espelhos onde o Sol
projecta o seu fulgor,
vitrais de singular beleza,
na sua esplendorosa cor!

Aos meus olhos sobe a nuvem
que flui do coração
e embacia o meu olhar
numa profunda emoção!
Jeracina Gonçalves

NUMA MANHÃ NUBLADA

Brinca o vento com as nuvens
Desenha-as e dança com elas
Empurra-as ao encontro do Sol
Abre-lhes, ao centro, janelas.

Brincam as nuvens com o Sol
No jogo do esconde-esconde
Mas o Sol... está doente...
Fracamente corresponde.
J.G.

segunda-feira, maio 07, 2007

CUBA

...
E tem esmeraldas no mar !«Cayo Blanco»

VIAGEM A CUBA

A Cuba que trouxe comigo
Tem um sorriso no rosto
Tem amizade no olhar
Na alma… o ritmo, a música
Solta em qualquer lugar.
E tem esmeraldas no mar!

A Cuba que trouxe comigo
Tem a riqueza d’outrora
Nas fachadas majestosas
(chegados à exaustão)
Que o tempo e o bloqueio
Não conseguiram levar.
E tem esmeraldas no mar!

A Cuba que trouxe comigo
Tem a dignidade consigo
Expressa em cada olhar.
Tem moradas em ruínas
Mas não tem fome no olhar
E tem esmeraldas no mar!
Jeracina Gonçalves

ROSAS DO MEU JARDIM


sábado, março 31, 2007

O ARCO-ÍRIS NA AVENIDA

O repuxo, quase a medo,
espreita por entre o lajedo
e mira tudo em redor…

Recolhe-se… volta a espreitar…
munido de nova energia
solta-se! Dá grande esticão.
Expande o seu grito, sua força,
sua alegria
com enérgica determinação.
Estica-se pelo espaço.
Rodopia nos braços da brisa…
É nuvem de gotas
orvalho…
Abraçado pelo sol
transmuta-se em arco de cores:
O arco-íris na avenida!
Jeracina Gonçalves

quinta-feira, março 29, 2007

ENERGIA POSITIVA

A Primavera chegou nas asas das andorinhas
e em meu coração se hospedou;
trouxe com ela as flores – seus risos e suas cores –,
a doçura das manhãs, a música dos pássaros cantores

Não sei de onde vem a plenitude que sinto em mim
o sonho, que me acompanha a cada hora e momento
e cumula, minha alma, desta terna emoção,
deste enorme sentimento, que enche o meu coração

Amigos riem comigo e soltam nas asas do vento
riso alegre, riso franco a progredir pelo ar;
riem as nuvens singelas, lilases e amarelas,
riem os pássaros voando, riem os peixes no mar.
Jeracina Gonçalves

quarta-feira, março 21, 2007

É PRIMAVERA!

A alma da Natureza, volátil no espaço alado,
toca a alma das coisas repassada de amor

Silhuetas de energia se encontram,
se penetram, se entrelaçam no ar
olhares se encandeiam
sonhos, desejos, olhares ao encontro de olhares
segredos em olhos húmidos à procura do seu mar
murmúrios emaranhados, corações a ciciar
um enleado de vozes, no espaço, a pulular
cânticos de esperança, sinfonia de chilreios
corpos despertos, bem vivos, p’rá ventura do amor…

A alma da Natureza, a transbordar de Amor,
vem enlear-se na minha e enche minha alma de cor!
JG

CHEGOU A PRIMAVERA


















Sorrisos de todas as cores

escorrem pelas encostas dos montes
bordam caminhos e carreiros
vestem jardins e canteiros
espalham farrapos de neve
no macio verde dos prados
e fazem os brejos dourados.

Há risos de todas as cores
a gargalhar para mim
sinfonia de chilreios
veste o azul sem fim.
JG

quinta-feira, março 15, 2007

O TEMPO

Ainda agora foi presente
e já passou a passado
sem adornos, nem enfeites
despojado de atavios
partiu na voz do vento
nos pássaros que rasgam o ar
nos picos das ondas do mar
de espuma coroados.

Ainda agora foi presente
é agora já passado.

quinta-feira, março 08, 2007

O MOSTEIRO DE SANTA mARIA DE ALCOBAÇA

Este fim-de-semana conheci o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça. Nunca o tinha visitado antes e sinto-me envergonhada.
É vergonhoso para mim, haver no meu país tal maravilha da arquitectura Cisterciense e só agora a conhecer. É imperdoável para qualquer português. Mas, muito mais, para os que tenham possibilidades de viajar e gostem de viajar, e o façam. Fazem-no para o estrangeiro, onde visitam mosteiros, catedrais, palácios, museus, grutas... e veem de lá deslumbrados. E desconhecem as maravilhas da sua terra, do seu país. Coisas tanto ou mais preciosas que as que veem lá fora, que estão mesmo ao pé da porta e se podem conhecer com muito pouco gasto. Basta apenas ter alguma disponibilidade de tempo, que sempre se arranja.
Vale a pena dispor desse tempo para conhecer o Mosteiro de Santa Maria de Alcobaça.

segunda-feira, fevereiro 26, 2007

À BEIRA-MAR

Correndo de Norte p'ró Sul
fluem, suavemente,
entre o azul e o azul
pétalas de seda branca
leves e transparentes,
correndo de Norte p'ró Sul.
JG

terça-feira, fevereiro 13, 2007

O TEMPO

O tempo foge com o tempo
na roda sempre a girar
segundos, minutos, horas
o tempo não pode parar

Troca o Sol com a Lua
do entardecer à aurora
um dia segue outro dia
semanas, meses, anos...

O tempo não tem demoras
é século, depois de século,
milénio atrás de milénio
na roda sempre a girar
o tempo não pode parar

O tempo foge do tempo
sem tempo p'ra observar
o tempo na roda a passar
é tempo de educar

É tempo de ao tempo ensinar
que é preciso, no tempo,
ter tempo p'ra rir e brincar
e tempo para sonhar

O tempo não volta a passar!
Jeracina Gonçalves

quarta-feira, janeiro 31, 2007

O PUZZLE DA VIDA

A Vida, como um puzzle, é feita de pequenos pedaços:
Uns são bem iluminados e neles florescem flores;
outros são mais sombrios
com ravinas e escolhos a cruzarem os caminhos.

Esses pequenos pedaços,
com mais luz ou com mais sombra
no dia-a-dia vividos
ajeitam o puzzle da Vida.
Um puzzle inacabado até à despedida.
Jeracina Gonçalves