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sexta-feira, setembro 28, 2018

PARA LÁ DO SILÊNCIO

Em meu redor o silêncio atordoa os meus ouvidos
A tua voz solta-se dos grilhões que a prendiam ao chão
Em palavras sonoras
Rasga o turbilhão silencioso que chega até mim
No cântico dos pássaros nas árvores do jardim
No aroma das flores dos vasos que enfeitam as janelas
No trotear dos passos sobre as pedras da calçada
E segue para lá do silêncio da parede escura.
Para lá do silêncio ficas tu em mim.
Jeracina Gonçalves
                       Barcelos/Portugal, 23/09/2018

domingo, setembro 23, 2018

AOS PONTAPÉS DA VIDA

"...Nunca conheci o meu pai. Chegou embarcado num cargueiro, atracou ao porto de Leixões e seduziu a minha mãe - moça órfã, carente, ingénua e sonhadora -, que acreditou na lábia de um homem sabido, habituado a levar na léria as moças ingénuas por esses portos onde atracava. Usou-a. Alguns meses depois partiu sem mais se preocupar com aquela pequena órfã, que deixara de “barriga cheia”, a quem prometera amor eterno numa noite de paixão, na orla da praia, sob a luz clara de um lindo luar de Agosto.
E a minha mãe ficou por ali, jovem de quinze anos a viver num casebre à beira da praia, com uma velha avó quase cega, que morreu logo depois. Ficou sozinha muito antes de eu nascer, grávida de mim, sem saber o que fazer à sua vida. Uma menina, que a vida dura e cruel transformou rapidamente em mulher corajosa e forte, com um filho nos braços. Nasci em Maio, o mês das flores, como tantas vezes me dizia, chamando-me o seu cravo vermelho e perfumado.
- Vem cá meu cravo vermelho! Nasceste no mês das flores. És o meu cravo lindo e bem cheiroso. Dás cor e vida à minha vida. Dizia, abraçando-me contra o seu peito amoroso, quando chegava cansada de um duro dia de extenuante labuta para angariar o negro pão de que nos alimentávamos.
Enquanto bebé de colo e mama levava-me nos braços e carregava na cabeça a giga com a sardinha, que ia apregoar de aldeia em aldeia. Depois, quando comecei a andar, deixava-me na praia, junto dos velhos pescadores que por ali se entretinham a remendar as redes, ou com a velha Zulmira, a mulher do pescador Zacarias, que sempre me tratou como se fosse seu neto. Nunca fez distinção entre mim e os seus dois netos verdadeiros: o Faustino, filho de uma das filhas, e o Duarte, filho do António, o seu filho mais velho.
Éramos os três mais ou menos da mesma idade. Com eles cresci, como irmãos, e brinquei na areia da praia de Angeiras. 
Por ali ficava enquanto a minha mãe calcorreava os caminhos das aldeias em volta, de giga à cabeça, a apregoar a sardinha, o chicharro, a faneca ou qualquer outro peixe que chegasse nas redes de volta da faina, por conta de António, o filho do velho Zacarias e da velha Zulmira. Eram eles a família que não tínhamos.
Quando não havia pescado para vender, era na apanha do sargaço para estrumar os campos, que a minha mãe ganhava o pão que me dava a comer. E, assim, a fazer uma coisa ali, outra acolá, angariava o pão de que nos alimentávamos. Sempre me cuidou com muito carinho e muito..."

"AOS PONTAPÉS DA VIDA"
"in" Histórias de Gentes Simples" 
Barcelos/Portugal
(Livro solidário, a favor do Projeto de Bolsas de Estudo de Lions Clube de Barcelos)

sexta-feira, setembro 21, 2018

O TEU NOME

Hoje acordei a pensar em ti.
Caminho pela nostalgia do teu nome
Que me chegou trazido pelo amanhecer.
Invade o meu pensamento
E fala-me de ti
E desse tempo
Em que foste o perfume inebriante dos meus sentidos
A ilusão do meu coração ferido
Enrodilhado em perversa teia.
Hoje acordei a pensar em ti
Nesse sonho 
Triste e cansado que viveu em mim
Sonho que não vivi.
Jeracina Gonçalves
Barcelos,Braga, Portugal

21/09/2018

quinta-feira, setembro 06, 2018

HÁ NUVENS NO TEU OLHAR

Há nuvens no fundo do teu olhar.
Nuvens que turvam os teus olhos
Fecham as portadas da tua alma à luz d’alvorada
E negam a entrada do sol pra tua alma esquentar. 
Fecha os olhos. Devagar…
Abre as portadas da alma! Deixa o sol entrar!
Deixa que brilhe na planura do teu coração
Aqueça e faça brilhar o fundo do teu olhar.
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal

quarta-feira, setembro 05, 2018

ANIVERSÁRIO

Sinto o meu coração suspenso numa almofada de pétalas perfumadas de Amizade e de Amor.
Além das mensagens e telefonemas de parabéns de familiares, amigos e amigas, tive presença das minhas netas, que passaram todo o dia comigo. 
Obrigada, Senhor. Foi bom. Muito bom, apesar de carregar agora com o peso de mais um ano. Mas quando vamos somando anos é bom sinal: estamos cá, ao sol e à chuva. Vivemos. Contamos os anos, os meses, as semanas, os dias, as horas, os minutos e os segundos. E é bom contar o tempo. Especialmente quando se vê desaparecer sem peso, leve como uma pluma nos braços do vento.

Os anos que por nós passam
São pérolas que a vida nos dá
Umas são puras, perfeitas
Outras mais enfezadas
Todas porém guardadas
No baú do coração
Fazem um maravilhoso colar
O colar da nossa VIDA   
A joia mais preciosa 
Algum dia oferecida.
No início, gema em bruto
Dia a dia lapidada 
No amor e na Amizade
Faz-se joia preciosa
De valor incalculável 
Que devemos preservar
Dia a dia estimar
E viver com alegria.
05/09/2018
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal

domingo, setembro 02, 2018

SOLIDÃO

Algo pesado atormenta hoje o meu Ser.
Pensamento turvo, sem definição,
Afoga em mágoa  o meu coração.
Faz-me falta a leveza de um sonho
Um facho de luz abrindo a portada 
Uma nesga de azul, a luz d’alvorada
Forças de vida em meu coração!
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal