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domingo, novembro 30, 2014



As árvores do meu quintal, agora quase despidas,
Fazem na relva macia, com a brisa do fim do dia, 
Bailados de encantar, sob o celeste azul raiado
Sulcado por bandos alados, rumo a outros lugares.


Jeracina Gonçalves

terça-feira, novembro 18, 2014

UM DIA DE OUTONO


Bailam as folhas nos braços vigorosos do vento.
Rodopiam, rodopiam… Rodopiam, no espaço
E, tomadas de cansaço, caem mortas pelo chão.

Nuvens cinzentas, densas, carregadas
– Prenúncio de aluvião –
Apressam os passos, incertos,
Do transeunte pisando a calçada
Deserta de passos
E as folhas, sem vida, maceradas no chão.
Jeracina Gonçalves

domingo, novembro 16, 2014



Este tempo escuro e duro,
sem previsão de abertas
permanece no tempo,
neste tempo, sem tempo...
que nuvens teimam em toldar.
05/11/2014
Jeracina Gonçalves


quarta-feira, novembro 12, 2014

FELICIDADE


 A palavra surgiu-me na mente, espontânea, saída do nada. 
Persistente, incisiva, apossou-se do meu pensamento e dele não arreda pé. Baila, ciranda, rodopia de um lado para o outro, sem suporte, bastão ou muro em que se apoie. Mas não desiste. Tento afastá-la sob os mais variados expedientes para que dê lugar ao sono, que anseio, mas, possessiva, dominadora, insistente, usurpa-lhe o espaço e não deixa que ele tome o lugar, que em mim lhe é devido, como suporte da minha saúde mental e física, me aprisione em seus braços reconfortantes, e me leve para o país dos sonhos. Desisto de lhe opor resistência. Sei que não me dará sossego enquanto não lhe der a devida atenção. 
Salto da cama e, de esferográfica em punho, vou tentar descodificá-la. Vou tentar determinar e entender o seu significado. Se é que é possível; pois, a meu ver, o conceito de felicidade é muito oscilante e variável de pessoa para pessoa. Vou, porém, tentar esmiuçá-lo, esboroá-lo em pequenas partículas. E, talvez, então, me liberte e deixe que Hipnos me envolva com o seu abraço retemperador e me transporte para os braços de Morfeu. 
Fecho os olhos. Tento penetrar o seu âmago, atingir o seu cerne. Uma pequena luz parece querer iluminar-me o caminho, sugerindo-me que felicidade não é mais que a harmonia entre os diferentes personagens que suportam o “Eu” global de cada um de nós. Ou seja: a Felicidade será a consonância entre o Consciente, o Subconsciente e o Inconsciente de cada um. Se esses três “personagens” do "EU" estiverem em sintonia, esse sentimento de plenitude, de paz, que entendo por Felicidade, esse sentimento que nos preenche quando estamos, agimos e somos o que a nossa consciência nos inspira e são afastados os fantasmas que os põem em dissonância,  essa paz interior, essa harmonia entre os três "personagens" do "EU", invadir-nos-á. E, se olharmos o conceito de Felicidade por este prisma, parece-me lícito pensar que a felicidade habita em nós, e em nós teremos de a procurar.
 Claro que somos - e muito - influenciados pelos outros na nossa ação e no nosso sentir do dia-a-dia. E se essa influência do outro em nós, atinge a nossa integridade moral e o nosso “Eu” global entra em dissonância, certamente nos sentiremos infelizes e derrotados. Mas parece-me que só em nós estará a solução do problema e não valerá a pena procurá-la fora de nós próprios, nem acusar o outro pela nossa infelicidade.  Em cada decisão que tomemos em relação a nós e ao outro, ou outros, teremos de agir sem trairmos a nossa consciência moral. Assim como teremos de aprender a gerir as nossas vitórias e derrotas com coerência, humildade e sentido de estar.
Todos conhecemos pessoas que, parecendo ter tudo para serem felizes, são infelicíssimas; e outras, que a nossos olhos não têm qualquer razão para o serem, são-no plenamente. Se para uns é preciso um bom carro, uma boa casa, boa roupa, boa comida e muito dinheiro para se sentirem felizes, outros são-no vivendo na rua, livres, sem compromissos e sem saberem se terão comida para a próxima refeição.
Quer o conceito de felicidade, quer o caminho para alcançá-la divergem muito de pessoa para pessoa. Cada um terá de buscá-la em si próprio, aprendendo a viver com os seus fracassos, pequenos ou grandes, a gerir sem arrogância as suas vitórias, as sua perdas, sem trair a sua consciência moral.
Julgo ser este o principal caminho para uma vida feliz
Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal

domingo, novembro 09, 2014

PARA AMAR É PRECISO…


Amar, em meu entender, é, sobretudo, compartilhar alegrias e tristezas, vitórias e derrotas, saúde e doença; é respeitar; é proteger; é defender; é ter prazer nas vitórias do outro, ficar do seu lado nos momentos de derrota; é ajuda-lo a crescer, por ele, pelo prazer de vê-lo crescer, sem medo que nos possa deixar para trás... É estar com..., por inteiro, da cabeça ao coração. A franqueza, a sinceridade, a amizade, a cumplicidade, a frontalidade, não podem estar desassociadas do amor. Fazem parte intrínseca do que considero ser o verdadeiro amor. 
Mas, para se amar assim, é necessário que gostemos de nós. Que gostemos do que somos sem condições nem conflitos. E assumi-lo sem reticências. Só assim poderemos assumir o amor pelo outro, sem projectarmos nele o resultado dos nossos erros, das nossas incapacidades e fracassos. Esses, assumimo-los como nossos. São nossos. E lidaremos bem com eles, porque assumindo-nos como seres imperfeitos, os erros que cometermos serão alavancas no caminho do melhoramento de nós mesmos. E, assim, poderemos assumir verdadeiramente o amor pelo outro, pelo que nos está mais intimamente ligado, porque, amando-nos tal como somos, deixaremos de ver as nossas falhas, os nossos erros maiores ou menores, como sendo do outro e nele querermos combatê-los. 
Porém, se não gostarmos de nós, repudiaremos sempre o que não gostamos em nós, e em vez de assumirmos os nossos fracassos, os nosso erros, os nossos pequenos ou grandes defeitos, será sempre o outro, o que nos está mais directamente ligado no dia-a-dia, o cano de escape das nossas frustrações e de todas as forças negativas que incorporarmos. Sobre ele descarregaremos todas as nossas iras, complexos, fracassos, agressividades. 
Tudo aquilo que detestamos em nós próprios, teremos tendência a ver no outro, e tentaremos combatê-lo nele, fazendo com que a vida a dois se torne muito complicada e difícil. 
E o amor escapar-se-á por essa rede de buracos cada vez mais largos, e desaparecerá, em vez de se desenvolver e fortalecer.
Jeracina Gonçalves

quarta-feira, novembro 05, 2014


O dia acordou com rosas
a enfeitarem o meu olhar
sem o  saber que os  espinhos
se encontravam  a caminho
para o fazerem chorar.
28/10/2014
Jeracina Gonçalves

sábado, novembro 01, 2014

A TRAIÇÃO INSTALA A DÚVIDA



Como um cancro, que agarra a vida e vai-a minando e destruindo por todos os lados e em todos os sentidos, cercando-a e apertando o círculo até ao seu estrangulamento total e irreversível, assim a dúvida, depois de instalada, se agarra com garras potentes e poderosas e destrói a paz do coração, afogando-o no drama da incerteza daquilo que deveria ser certo e poderoso. E um mar turbulento de lamas e escombros submerge o rio límpido, fluído e puro do amor e da amizade.
O que está por detrás da traição?
O que leva as pessoas a traírem-se umas às outras, a mentirem descaradamente, iludindo, aldrabando, enganando?
O que leva as pessoas a traírem aqueles que dizem amar?
Será insegurança de si?
Desrespeito pelo outro?
Falta de amor-próprio?
Falta de carácter?
Não sei. Não consigo entender. Mas julgo que a traição terá, por trás si todas as razões expostas.
Alguém que se respeite não será capaz de trair quem quer que seja, em aspecto algum da vida, e muito menos aqueles que diz amar.
Parece-me que a traição é, acima de tudo, uma falta de respeito e de amor próprios.
Quem não se respeita não se ama. Se não se ama, não pode ter a força de carácter necessária e indispensável ao respeito pelo outro.
Não se respeitando como saberá respeitar o outro?
O pior é que a traição instala a dúvida, a desconfiança. E estas, uma vez instaladas, destroem a torrente límpida e fluída do amor, da amizade e, tantas vezes, a crença no ser humano.
Destrói os sentimentos puros, que são os elos fortes da vida, da alegria, da paz e do crescimento nos relacionamentos humanos. E essa torrente límpida e fluída do amor e da amizade passará a intermitente, cortada por paredões e açudes cada vez mais altos e espessos, com brechas sempre mais apertadas por onde se torna difícil o fluir da torrente dos sentimentos puros e límpidos, tão necessários a um mundo de Paz.

Jeracina Gonçalves