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quinta-feira, junho 22, 2006

PARA LÁ DO MARÃO

Nascida dos montes
(para lá do Marão)
traçada na rudeza da fraga
na limpidez da água
na leveza do ar...
temperada na dureza da criação
é nobre, é viril
sensível, gentil...
a alma formada em tal condição!

Não sabe usar máscaras
nem vãos artifícios;
não compra
não vende
nem se deixa comprar.

Franca e frontal
abomina a mentira
a ignóbil traição...
É digna. É leal.

Firme e constante no jeito de amar
o rico ou o pobre
para si é igual.
Não faz distinção.
É apenas irmão.
Jeracina Gonçalves

domingo, junho 18, 2006

Que está a acontecer com a sociedade dos nossos tempos?

Quando ontem, no noticiário da manhã, fui confrontada com esta frase “Vanessa morreu por queimaduras graves, resultantes de ter sido metida numa banheira de água a ferver, sendo depois atirada ao rio Douro”, todo o meu corpo vibrou num frémito de revolta e de horror, imaginando o sofrimento daquela criança.
Tenho netas. Daria a minha vida para as defender. E, para mim própria, formulei indignada a pergunta: com é possível haver alguém capaz de cometer tais atrocidades contra uma criança indefesa, ainda mais, um pai e uma avó, seres com o dever de protegerem-na?!
Não, não lhes chamo seres humanos. Não posso dar-lhes esse atributo. No meu entendimento são apenas feras selvagens, e das mais ferozes, que devem ficar engaioladas numa jaula de grades de aço, bem fortes, para o resto da vida.
Senhores psicólogos, senhores psiquiatras, senhores sociólogos, que explicações têm para o que está a acontecer com a sociedade dos nossos tempos? Que está a acontecer à sociedade contemporânea, em que pais, mães, avós... matam filhos e netos, crianças espancam até à morte desgraçados indefesos, como aconteceu no Porto há uns tempos, alunos atacam escolas e matam professores e colegas, como tem acontecido por esse mundo fora…
É um não findar de atrocidades que se praticam e nos chegam todos os dias através dos noticiários, e nos deixam apavorados com caminho tomado pela humanidade. 
Algo está acontecer de muito assustador à raça humana.
Ou será que estas coisas também aconteciam em igual ritmo no passado, mas não tomávamos conhecimento delas? Tudo agora se sabe, em todo o mundo, quase no minuto seguinte a terem acontecido, graças a facilidade de comunicações.
Será apenas isso? A raça humana sempre foi assim cruel e feroz para com os seus pares indefesos, só que esses acontecimentos não chegavam até nós?
É possível. É possível que sempre tenha sido assim. Mas tenho algumas dúvidas; tenho alguma dificuldade em crê-lo. Toda a minha vida lidei com crianças dos seis aos catorze anos. Aqui e em Angola. Muitas centenas me passaram pela mão: crianças brancas, negras, mestiças…, oriundas dos ambientes mais diversos, muitas vezes desestabilizados e muito precários precários, e não creio que, alguma vez, qualquer dessas crianças fosse capaz de levar a cabo aquele acto de crueldade e sadismo, praticado por aquelas 14 crianças, no Porto, contra o desgraçado do sem-abrigo…                                                             
Jeracina Gonçalves