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sexta-feira, junho 17, 2011

DAS PEDRAS NASCEM FLORES

A encosta está ali
íngreme, escabrosa
bem na minha frente
num desafio persistente 
que preciso d’enfrentar.
Por ela resvalam calhaus
não os posso ignorar
fazem-me tropeçar.

De olhos postos no azul
o meu coração no olhar
sem me desviar do caminho
sem desviar o olhar
começo, com firmeza,
pela encosta a trepar.

Em cada pedra suporte
para melhor avançar.

Nos bolsos levo flores
que começo a dispersar:

aqui deixo uma semente
deixo além uma flor…

De olhos postos no azul
o meu coração no olhar
continuo, com firmeza
pela encosta a trepar:

Em cada pedra suporte
para melhor avançar

De olhos postos no azul
o meu coração no olhar
aqui deixo uma semente,
deixo além uma flor…

Flores de todas as cores
a brotar pela encosta 
fazem da encosta jardim
de belas e perfumadas flores. 

Jeracina Gonçalves

domingo, junho 05, 2011

LÍDER, PRECISA-SE!

 É domingo. Um vento morno quebra a canícula do tempo, amenizando-o, mas levanta todo o pó do terreiro para lá da sebe do apartotel e veste a varanda do apartamento onde me encontro sentada, com um denso manto de cor ocre, que me obriga a levantar e a regressar à sala onde dorme tranquilamente a minha neta bebé, na sua caminha, e o meu marido, refastelado no sofá, lê o jornal.
Tenho estado a ler o “Adeus às Armas” de Ernest Hemingway e cheguei àquela parte em que desertou e se encontra com Catherine junto ao lago Stresa, a pensar no modo de o atravessarem, para se refugiarem na Suiça. E dou comigo parada, olhar na distância…a pensar em como são difíceis os tempos de guerra. Tempos de muita dor, de muita destruição, de muitas injustiças.
Os tempos de guerra são tempos de muito sofrimento físico e psíquico e de muita degradação moral. E muitas das guerras que acontecem um pouco por todo o lado – quase todas –, acontecem por ganância e ânsia de poder dos governantes.
Nós, aqueles que nunca vivemos uma guerra, somos uns privilegiados. Não imaginamos o bem que nos calhou em sorte; as humilhações e dores a que fomos poupados. 
Por muitas queixas que muitos possam ter de Salazar, temos o dever de lhe estar gratos por essa proeza de ter conseguido manter o nosso país longe do conflito. Como aliados de Inglaterra, a nossa entrada na guerra estaria implícita, mas ele conseguiu manter-nos fora e evitar sofrimentos maiores. Essa lhe devemos, nós, os nascidos nessa época e antes dela. E os que nasceram depois dela também. Se tivéssemos entrado na guerra, muitos nem teriam nascido.
Não sei de que meios se valeu, mas conseguiu-o. E Portugal ficou afastado desse inferno. 
Há quem diga que foi prejudicial, que foi mais um dos seus actos maus, pois terá sido uma das razões da nossa falta de progresso; mas não posso concordar. A nossa falta de progresso terá mais a ver com a nossa maneira de ser, indisciplinada e individualista; terá mais a ver com a nossa incapacidade de arregaçarmos as mangas, unirmos os nossos esforços e trabalharmos para o bem comum com alegria e vontade de vencer.
Precisamos de um líder que seja capaz de aglutinar todas as vontades, todas as ideologias e todas as energias, no sentido da resolução dos problemas que afectam o nosso país. 
Enquanto tal não acontecer, não será previsível que este País chegue a bom porto. Enquanto cada qual puxar para seu lado, a pensar apenas nos seus privilégios, na sua coutada, é impossível solucionar os problemas seja de um lar, seja de uma empresa, seja de um país.
Agosto de 2004
P.S. Este  texto foi escrito em 2004, mas parece-me bastante  actual.
Jeracina Gonçalves