Pesquisar neste blogue

sábado, julho 23, 2022

FINALMENTE...       

                                       

Finalmente um acordo.
Finalmente um acordo fará o pão chegar
Onde o pão está a faltar.
Eu quero acreditar!

Finalmente os navios poderão cortar as águas do mar
e levar o brilho aos olhares mortiços, 
prestes a soçobrar ao aguilhão aguçado da falta de pão, 
enquanto  o pão... 
Apodrecia no mar!

Finalmente um acordo.
Finalmente um acordo fará o pão 
chegar 
Onde o pão está a faltar.
Eu quero acreditar!

Quero rir, quero cantar, 
ver crianças a correr e a brincar.
Finalmente o pão, prestes a chegar, 
onde o pão está a faltar.
Eu quero acreditar!

EU QUERO ACREDITAR!
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 23/07/2022

terça-feira, julho 19, 2022

 Searas arder e gente pelo mundo à falta de pão a morrer?!

Como é possível tal absurdo acontecer?

Com é possível tal absurdo compreender?

Gente que nada tem a ver com a guerra.

Gente inocente a arrastar-se sobre o pó da Terra.

Gente que nada tem a ver com a guerra, SENHOR!

Gente que não tem nada para comer... 

À FOME A MORRER... 

PELA GANÂNCIA IMPERALISTA

DE ABOMINÁVEIS SERES.


SENHOR! 

NÃO CONSIGO TAL ABSURDO COMPREENDER.

                                                                                         Jeracina Gonçalves
                                                                                Barcelos/Portugal, 19/07/2022

domingo, julho 17, 2022

 NAS ASAS DO SONHO 

Numa quietude de paz com cheiro a maresia abre-se aos meus sentidos a imensidade do oceano, sereno, belo, qual salva de prata de límpido brilho argênteo. E o meu olhar, perdido nessa amplitude azul, atravessa a linha tangível do horizonte, beija os cumes dos montes, banha-se na cascata palpitante, caminha pelas encostas, desce pelos desfiladeiros, abraça os vales… 
O meu coração, iluminado pelo brilho nostálgico de outros tempos entre a montanha dos sonhos a desabrochar em cascatas de luz, alegria e amor, bate forte, agarra o tempo e beija as flores do prado a desabrochar cheias de vivacidade e energia, iluminadas por cascatas de luz, e brinca com crianças vibrantes de espontânea alegria e crença no dia de amanhã, ao jogo da cabra-cega, do pilha, da macaca, do pião, do arco, disputa na rua renhidos jogos de futebol com bola de trapos, banha-se, entre saudáveis gargalhadas, nas águas frescas e cristalinas do ribeiro que desce pelo desfiladeiro da montanha, ri, barafusta, zanga-se, luta… 
São crianças do meu tempo. Crianças que habitaram os meus dias de criança: a Guilhermina, o Manuel João, a Maria Augusta, o Fernandinho, o Óscar, a Elisabete, a Ana Maria, o Manuel e o António (dois irmãos gémeos) e muitas e muitas outras (nesse tempo havia crianças na minha terra), colegas da escola primária (muitos e muitas já partiram). Trabalhavam  -como eu trabalhei - para ajudar os pais nas lides do campo e contribuir para o sustento familiar. Eram tempos de vacas magras (tão exíguas para alguns), mas também brincavam, corriam e riam como qualquer criança. E desenvolviam a imaginação e a criatividade na construção dos seus próprios brinquedos. E eu fiz muitas bonecas de trapo, que escondia, numa luta sem tréguas com os meus irmãos (só rapazes), que mas desfaziam, puxando um pela cabeça e outro pelas pernas) e faziam-me muito infeliz, nesse tempo. 
Chorava, chorava, e fazia outra. Mal a encontravam, davam-lhe o mesmo tratamento.
Outros tempos… Tempos de liberdade e emoção e, para muitos, de fome também. Mas havia a liberdade de correr pelos campos, de trepar às árvores, de travar conhecimento com os animaizinhos da beira do rio, com o cantar dos pássaros, com a música da água, com a beleza e o aroma das flores silvestres… 
Coisas lindas que fazem falta às crianças de hoje, muito hábeis em cliques, mas que não correm, não conhecem o cheiro da terra molhada, o riso das flores, o voo livre dos pássaros, nunca viram um ninho, o germinar de uma semente, uma sementeira jovem, rasteirinha, de milho (por exemplo) a cobrir numa ampla extensão a terra negra.
Coisas lindas de que fazemos parte e fazem parte de nós (porque somos Natureza) e nos fazem amar e sentir a natureza, como sendo parte integrante de nós, conscientes de que, cuidando da sua saúde, cuidamos da nossa e preservamos a nossa vida como espécie, também.
Os tempos evoluem e trazem coisas novas importantes, inovadoras e facilitadoras da vida. Mas levam outras, que não devíamos deixar partir. Ligam-nos à essência. Fazem parte do espírito, da alma, do sentimento, educam a sensibilidade.
                Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 17/07/2022

                                                                                                                                    

quinta-feira, julho 14, 2022

 DO TEU SANGUE SE ALIMENTAM

 

Sem céu nem inferno para se acoitarem
Circulam almas penadas dissolvidas no ar
Fantasmas transparentes que não têm lugar.
Seus invisíveis olhares perscrutam o ar
Penetram paredes consistentes,
Como aranhas traiçoeiras atiram o fio
Para te enredarem, e tecem a teia.

Conspurcam o teu relicário, o baú dos teus segredos
Onde tua alma guardavas.
Apoderam-se da tua alma. Dela fazem festim.
Do teu sangue se alimentam.
Seus invisíveis olhares enredam-te na sua teia,
Estrebuchas, gritas, pedes socorro.
Palavras perdidas no vento.

Tomam tudo o que é teu, 
Dispersam-no pela teia em volta de ti.
Estrebuchas, gritas, pedes socorro.
Palavras perdidas no vento.
Dissolvidos no ar circulam por aí. 
Enredam-te na sua teia.
Do teu sangue se alimentam.

                                                    Jeracina Gonçalves
                                                    Barcelos/Portugal, 08/06/2022

segunda-feira, julho 11, 2022

 DIA MUNDIAL DA POPULAÇÃO


Ao folhear a revista Além-Mar, deparei com uma lista de “dias mundiais” dos meses de Julho e Agosto e surpreendeu-me ver um “dia mundial da população”: hoje, dia 11 de Julho.
Fiquei-me a refletir sobre o que este dia representa, qual é a essência desta nomeação, o que se pretende com ela; mas não sei se terei atingido o seu cerne.
Qual será a essência, o verdadeiro sentido desta nomeação?
Quererá trazer à ribalta a baixa natalidade que acontece na velha Europa (incluindo em Portugal) e as consequências dessa discrepância entre os que chegam e os que partem? Ou quererá compará-la, por exemplo, com a dos países africanos e árabes, onde grassa a seca e a fome provocadas pelas intempéries e pelas guerras infinitas que os assolam, e a natalidade é elevada? Quererá fazer-nos refletir sobre a fome, a seca, as guerras e todas as atrocidades a que é submetida uma enorme percentagem da população mundial? Quererá fazer-nos refletir sobre a enorme avalanche, sempre crescente, de refugiados que procuram encontrar, no mundo, um lugar de paz, onde possam viver, trabalhar e matar a fome própria e a dos  filhos, e acabam por encontrá-lo entre as águas revoltosas do mar ou entre as quatro paredes de um camião, a monte, como animais irracionais, desidratados e sem ar que lhes alimente a vida?
Um dia?!…
São poucos os 365 dias do ano para nos dedicarmos a estes e tantos outros problemas diretamente inerentes à população. 
Todos nós: os que têm poder para fazer o necessário e o urgente para amenizar este estado de coisas; e nós, os que vivemos na sombra, sem alardes mas com convicção, fazermos a nossa parte, por pequenina que seja. Ainda que seja apenas a separação dos lixos, mesmo que possa parecer-nos que nada tem a ver uma coisa com a outra. Mas não é verdade. Tudo está ligado. Tudo está interligado e vai levar ao mesmo resultado final. 
Se pensarmos bem, sabemos que assim é.
Toda a água corre para o mesmo mar.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 11/07/2022

                                                                                                                     

sábado, julho 09, 2022

 CANTA, ROUXINOL, CANTA!


Neste tempo sem valores, 
Onde a ética é ausente,
Pelo mundo alastra a fome, 
A morte, a destruição, a dor,
O canto do rouxinol, 
É uma meiga carícia 
No meu coração sofredor.

Canta, rouxinol, canta!
O canto do rouxinol
Diante da minha janela,
Tem ainda mais beleza, 
Tem ainda mais valor.

Canta, rouxinol, canta!
Não há canto como o teu. 
Diante da minha 
O teu canto é puro e belo.
É um belo poema de amor. 

Canta, rouxinol, canta!
O teu canto é a esperança 
Contra tanto desamor.
O teu canto me consola 
De padecimentos e dores.

Canta, rouxinol, canta!
O teu canto, único alívio 
Para este grito impotente,
Que rasga todo o meu peito 
Com o afiado cortador.

Canta, rouxinol, canta!
O teu melódico cantar 
É límpido, é puro, é belo.
É tão saboroso e terno, 
Como o tronco de Natal
N
o amplo terreiro a arder 
Na noite gélida de inverno.

Canta, rouxinol, canta!
Teu cantar é belo e único. 
Não há, como ele, igual!
É tão saboroso e tão terno 
Como um tronco de Natal.

                                                                                    Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 28/06/2022

terça-feira, julho 05, 2022

ENTRE AMIGAS

Espera, tenho muito mais para contar-te: há meses ou talvez há mais de um ano, resolvi que estava na altura de publicar o meu livro “Crónicas de Viagens”, e comecei a imprimi-lo para fazer uma leitura em papel. 
Mas, para meu espanto (embora saiba, desde há muito, que tudo o que escrevo vai cair num saco sem fundo dos aproveitadores do esforço alheio), recebo imediatamente uma mensagem “o ficheiro foi bloqueado para edição, por outro utilizador”. 
Teimei. 
E não é que a impressora começa a vomitar páginas e mais páginas, em grande velocidade, com as minhas crónicas, começando pela página trezentas e tal…, quando o livro tem 160 ou 180 (já não recordo bem) páginas!
- Ah... Não me digas!… Alguém, em algum sítio, está a usar o teu trabalho.
- Ó minha amiga, não tenhas dúvidas, que eu também as não tenho. 
Alguém, em algum sítio, está a usar o meu trabalho em seu proveito.
- Não sei como aguentas tudo isso e manténs esse ar sereno, como se a vida  seja para ti um mar de rosas. Admiro-te. Eu já teria mandado tudo para o diabo.
- É o que me apetece muitas vezes. Até porque as autoridades não fazem nada. Têm conhecimento disto há anos, e nada acontece. Mas que queres que faça? Escrever faz parte de mim. É algo que vem de dentro. Faz-me falta. É intrínseco ao meu ser. Todos os dias preciso de escrever ainda que seja uma simples frase. 
A minha cabeça, o meu corpo não funcionam sem isso. 
É estranho, mas preciso desse exercício intelectual para me ativar fisicamente. Tenho por aí inúmeros papéis escritos com pequenas anotações, que preciso de organizar.
- Sendo assim, porque não arranjas uns cadernos e escreves à mão?
- É muito diferente escrever à mão ou no computador. 
E, quando se começa a escrever no computador, há alguma dificuldade em nos adaptarmos de novo a escrever à mão. No computador, se nos parece que aquele termo não é o mais apropriado naquele contexto, temos o dicionário ali à mão, e, rapidamente, teremos acesso a outro com o mesmo ou com significado equivalente que nos pareça compor melhor a frase; ao passo que, escrevendo à mão, será necessário andar com os calhamaços dos dicionários atrás de nós. 
E mais: se há uma frase, que numa segunda leitura nos parece menos bem naquele sítio, muda-se com toda a rapidez para outro, onde nos pareça que exerce melhor o sentido que queremos dar ao texto… E por aí afora. É muito diferente escrever no computador ou á mão. É muito mais cómodo, muito mais fácil e muito mais rápido. 
Estes abutres subterrâneos é que são o grande problema. Agarram a presa e não a largam. Tenho de convencer-me de que, realmente, sou boa a escrever. Só assim se compreende estes anos todos de perseguição.
- Claro que és boa no que fazes. A tua escrita sai da alma. É sentimento, é amor, é paz.
- E de que me vale isso? 
De que me vale sentir o perfume da terra, o seu frescor sorridente, a luz perfumada da aurora, o cantar puro da fonte, se preciso de estar em guerra e em fuga permanente contra estes vampiros invasores? 
Sinceramente, Maria, não é fácil. E já chorei muitas lágrimas. O meu computador era o depositário da minha alma quando precisava de desabafar. Era o cofre dos meus segredos. E foi muito penoso sentir a minha alma conspurcada por olhares ímpios, perversos e sem pudor. Mas tudo passa. Quando temos consciência da limpidez da nossa existência (com pecados, claro, como todo o ser humano, mas nenhum causador de danos a qualquer outro ser), consciencializámo-nos de que a vida é para a frente e não podemos permitir que os abutres a travem. É necessário olhá-los de frente, com olhar direto, e continuarmos o nosso trajeto.
- Tens razão minha amiga. Mas é preciso coragem e muita força de alma para não sucumbir a tanta pressão.
- Claro que há momentos muito maus. Mas… Quem os não tem, de uma forma ou de outra? E, muitas vezes, a força chega-nos da revolta que sentimos contra este estado de coisas, esta perseguição consistente e permanente, quando há a plena consciência de nunca ter feito mal a alguém. Bem pelo contrário: Mas…
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 05/07/2022