A Casa Museu José Régio, de Portalegre, é na casa onde o poeta viveu durante 34 anos.
Na altura em que foi para essa cidade
como professor de Português e de Francês era a Pensão 21, onde alugou um quarto. Chegou a ser o único hóspede dessa pensão e depois ficou com a casa para si, mas sempre alugada.
Observar o espólio que José Régio juntou durante a sua vida na casa onde viveu durante 34 anos, que está praticamente como a deixou, dá-nos, julgo eu, algum entendimento da sua personalidade.
Além de grande poeta foi, sem dúvida, um grande colecionador. E, em meu entender, um homem profundamente místico, que parece ter vivido toda a vida à procura de algo…
Não sei se terá encontrado o que procurava; mas ter arrecado e vivido entre tal colecção de imagens místicas é qualquer coisa que me parece muito próximo fanatismo religioso.
Há espalhadas por aquelas salas pequenas e acanhadas, atravancadas de imagens pequenas, médias, grandes de santos diversos, especialmente em madeira, uma colecção de Arte Sacra fantástica.
Só de Cristo são 400. Dos quais apenas uma pequena percentagem está exposta, mas são as suficientes para ocuparem por completo a primeira sala visitável.
Imagens de Cristo grandes, pequenas, médias, de todas as sensibilidades artísticas e, algumas, com histórias bem interessantes. Como a daquele Cristo enorme, exposto na parede frontal da sala, ao cimo das escadas, que salvou do fogo.
Ao que parece encontrou-o sem braços e sem cabeça num sapateiro. Propôs-lhe a compra e este respondeu-lhe que o levasse, porque, ali, mais cedo ou mais tarde, iria parar à lareira. O que fez.
Mandou-lhe pôr os braços, a cabeça, fazer a cruz e colocou-o ali, naquele lugar de honra, no cimo das escadas para o 1º andar.
Imagens de Santo António são 26. Tem também várias imagens de Nossa Senhora, diversos oratórios… Enfim, é uma notável colecção de Arte Sacra
Mas José Régio não coleccionou apenas Arte Sacra. Coleccionou todo o tipo de arte popular da região: almofarizes em bronze e em madeira, utensílios em estanho, em ferro forjado, como suportes para os espetos, braseiras e outros utensílios de utilidade doméstica, cómodas, contadores, baús e arcas de diferentes tamanhos e para distintos fins, pratos rústicos, grandes, familiares (todos comiam do mesmo prato), denominados “pratos ratinhos” ou “pratos troca trapos”, porque eram levados pelos beirões, que eram conhecidos por ratinhos e iam para as ceifas. No regresso deixavam-nos ficar, trocando-os por mantas e outro tipo de tecidos. Há também vários objectos em madeira e em cana, com um trabalho minucioso e fino feito a canivete pelos pastores: dedeiras para as ceifeiras, marcas para pão e bolos, flautas, etc.; e também trabalhos diversos, meticulosos e delicados, em seda bordada a ouro, feitos pelas freiras nos conventos, etc.
É notável a quantidade de objectos que José Régio arrecadou, para o que terá calcorreado, certamente, toda a região, conventos e igrejas.
Jeracina Gonçalves