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sexta-feira, novembro 30, 2007

NO MARÃO AO ANOITECER

O horizonte purpúreo por detrás dos volumes serrilhados dos montes é já a única marca luminosa no compacto de sombras, que dominam a serra do Marão, que agora desço. É a marca deixada por um dia claro e luminoso a exalar o seu último suspiro. Um dia igual a muitos outros, com que este Outono nos tem presenteado. Um Outono de cores escarlate, vistosas, iluminadas por uma luz transparente, que as torna ainda mais brilhantes e encantadoras. Lindíssimas! Mas… demasiado seco.
Com algum temor recordo o passado, bem recente, em que o nosso pequeno país viveu sedento, e a tristeza e a dor espalhou-se pelas aldeias, pelos prados, pelos campos. E foi necessário distribuir a água, indispensável à vida, por muitas das nossas aldeias, de Trás-os-Montes ao Algarve.
Está bem presente na minha memória o espetáculo dramático de ver a terra fendida, gretada, a gritar a mágoa que remoía em suas entranhas, sem meios para matar a fome aos seres que da sua exuberância, da sua generosidade dependiam e a ela  recorriam sem conseguirem obter o que tão urgentemente necessitavam para se manterem vivos. E muitos seres tombaram exangues de fome e de sede sobre o seu dorso, e aí se deixaram finar.
Foi um ano mau. Muito mau. Peço a Deus que outro igual não aconteça por agora.

Jeracina Gonçalves
27/11/07
Este texto foi escrito em Novembro de 2007

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