NOITE DE CONSOADA
Sobre a toalha da mesa, nesta Noite
de Consoada,
Espalho as pétalas secas das rosas
que tive na mão.
Seu aroma amarfanhado traz-me dos
tempos d’então
A azáfama da cozinha nesses tempos
que já não são.
Os bolinhos de “calondro”, que fritava às colheradas
A aletria, o leite-creme, as
farófias e as rabanadas.
O bolo-rei era o rei nesses tempos
abençoados
Quando era fácil o riso
soltado às gargalhadas
A seguir pela noite dentro,
ao ritmo do coração.
Meus olhos alagam-se no mel que
mana do meu coração!
E o meu olhar orvalhado recua mais
no passado:
Farófias, aletria, leite-creme,
rabanadas…
E os bolinhos de “calondro,” de que eu tanto
gostava.
Com a salsa fresca da horta, os
bolinhos de bacalhau
Eram também um petisco que meu pai
não dispensava
Nessa noite fria e santa - a Noite
de Consoada.
Temperada com hortelã, a açorda de
bacalhau
Muito fina e rarefeita, ao cozido
dava entrada,
Nessa noite santa e fria - a Noite
de Consoada.
Rapa, tira, deixa, põe, entre risos
gargalhados
e cantares ao Deus-Menino
Amêndoas e confeitos passavam de
mão em mão
Até que o sono chegava, rapa/tira…,
par/pernão
Nessa noite santa e fria era
passado o serão
Sem presentes na chaminé, na bota
ou no sapatinho…
Não havia Pai Natal nem presentes
do Menino.
Havia muita alegria, muitos contos
e cantares
Nessa noite santa e fria, a Noite
do Deus/Menino,
Noite de grande alegria e muito
amor no coração!
Jeracina
Gonçalves
Noite
de Consoada/2016
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