Linda era uma menina de grandes olhos amendoados,
cor de azeitona, num bonito rosto de pele aveludada e macia, da cor do
chocolate.
Era uma caboclazinha, pequena e franzina, que não aparentava mais de seis ou sete anitos.
Era uma caboclazinha, pequena e franzina, que não aparentava mais de seis ou sete anitos.
Ao ombro transportava o seu papagaio; o seu
“ganha-pão.”
Encontrei-a na Amazónia, quando fazia a
descida do rio Negro, desde Manaus ao encontro com o rio Solimões – “O
Encontro das Águas” - como é denominado na proposta de passeio feita aos
turistas.
Ela, a Linda, bem como outros miúdos mais ou
menos da sua idade, apresentavam-se por ali, aos turistas, com os seus animais
de estimação - a jibóia, o papagaio, a preguiça, o macaquinho, etc., para posarem
para a fotografia abraçados a eles. De seguida estendiam o chapéu ou o boné para
receberem «o cachet».
Foi numa das paragens para visitar um
aquário de jacarés, que ela me interpelou, pedindo-me uma caneta.
Rebusquei o fundo do meu saco e encontrei
uma esferográfica, ferramenta que trago sempre comigo, e dei-lha.
-Obrigada – disse-me.
-Como te chamas? – Perguntei-lhe
-Linda.
-Já sabes escrever?
-Já.
-Quantos anos têm, Linda?
-Tenho nove.
Enquanto os outros caboclozinhos estendiam o
chapéu ou a boina à espera de receberem o pagamento pelo serviço prestado, em
dinheiro, Linda não pedia dinheiro. Pedia canetas, cadernos e livros. A sua
sede era de saber; a sua fome era de material para aprender. E pôs-nos, quase a
todos no grupo, a rebuscar sacos e carteiras.
Mas quem vai com livros e cadernos para a
Amazónia numa viagem de férias?
Esferográficas, quase todos levávamos, mas livros e cadernos...
Esferográficas, quase todos levávamos, mas livros e cadernos...
Quando saio para viagens de férias faço-me
acompanhar, quase sempre, de um pequeno bloco, onde vou registando as minhas
impressões sobre o que observo e, de entre o que os guias vão transmitindo
durante a viagem, o que me vai deixando maior marca e não quero esquecer. Tirei
do saco o bloco que trazia comigo desta vez, e ofereci-lho. Os seus lindos
olhos negros brilharam como se tivesse recebido um enorme tesouro.
Tão pouco! Tão pouco, mas o suficiente para
que os seus olhos reflectissem o enorme prazer que enchia a sua pequenina alma
esfomeada e sedenta de saber.
Não sei o que foi feito da pequena Linda,
que conheci, lá longe, no meio da Amazónia, nos longínquos anos de 1993, mas a
sua imagem surge-me, muitas vezes, especialmente quando vejo as nossas crianças
desperdiçarem e estragarem o material de aprendizagem que, felizmente, têm ao
seu dispor.
Jeracina Gonçalves
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