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sábado, setembro 25, 2021

O OUTONO CHEGOU

 


O outono chegou e não deixou os méritos por mãos alheias. Apressou-se a marcar o seu espaço na linha do tempo, impondo as suas caraterísticas sem dar aso a criar confusões. Marcou o seu território. O território que é seu no calendário: frutos maduros, bem coloridos e carnudos exalam aromas quentes, sensuais, com que embriagam o ar e põem sorrisos de gratidão e alegria nas faces dos humanos seres que a eles se dedicaram e os cuidaram e, aos outros, que irão experimentar os seus deliciosos sabores; as folhas amarelecidas começam a perder força. Deixam-se soltar do aconchego da árvore-mãe e rodopiam no ar, entre os braços de um sopro mais forte do vento, ainda brando, até caírem inertes, mortas; o anilado transparente do etéreo tolda-se de um mesclado em tons de cinza e o céu, comovido, solta lágrimas de saudade,   talvez  daquela tão bela cor que lhe dava brilho, luz, transparência, e ainda há pouco o vestia e tanto seduzia o meu olhar faminto de coisas belas; o ar movimenta-se com mais força, baila com as árvores do canteiro em frente da minha janela e arranca-lhes algumas folhas mais enfraquecidas, que adejam como borboletas e caem  mortas no chão do pátio; o sol afrouxou a sua incidência sobre as coisas, deita-se cada vez mais cedo e levanta-se cada vez mais tarde; a noite cresce sobre o dia. Mas no canteiro em frente, passeia-se ainda o melro elegante, trajando o seu belo fato de gala. Percorre-o lentamente, lentamente...Talvez esteja a confessar-lhe a sua gratidão pelos bons momentos que tem passado em sua companhia.

O outono chegou com toda a sua melancólica e encantadora beleza, lembrando-nos que é tempo de nos prepararmos para o frio inverno que tão lestamente se aproxima.

                                                                                Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 25/09/2021


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