Os anos passam
por nós com a rapidez do relâmpago e vão deixando o desgaste da sua passagem no
nosso processo anímico, intelectual e físico.
O tempo desgasta qualquer máquina e, a nossa, por mais perfeita que seja, sente também as marcas da passagem do tempo: a pele perde o viço e é marcada por vincos mais ou menos profundos, os ossos doem e, pouco a pouco, vão-se tornando menos densos e mais quebradiços, a vista perde acuidade, a memória não responde às solicitações com a mesma prontidão, os movimentos perdem agilidade e graça, as pernas não nos obedecem com a mesma rapidez… enfim: uma série de pequenos ou grandes males vão surgindo e submergindo o que antes eram dados certos, precisos e disponíveis, sempre prontos a intervir com acuidade e rapidez.
O tempo desgasta qualquer máquina e, a nossa, por mais perfeita que seja, sente também as marcas da passagem do tempo: a pele perde o viço e é marcada por vincos mais ou menos profundos, os ossos doem e, pouco a pouco, vão-se tornando menos densos e mais quebradiços, a vista perde acuidade, a memória não responde às solicitações com a mesma prontidão, os movimentos perdem agilidade e graça, as pernas não nos obedecem com a mesma rapidez… enfim: uma série de pequenos ou grandes males vão surgindo e submergindo o que antes eram dados certos, precisos e disponíveis, sempre prontos a intervir com acuidade e rapidez.
São os acessórios
naturais trazidos pelo tempo volvido; aspetos físicos da velhice temporal; marcas
de um tempo que nem todos temos o privilégio percorrer, para nos recordar que
não somos imperecíveis, nem impermeáveis à sua passagem; mas, pelo contrário,
somos perecíveis e sujeitos a maior ou menor prazo de validade.
Alguns têm um prazo
de validade muito curto e a sua caminhada termina bem cedo. Partem sem rugas na
pele, nem dores nos ossos. Outros (onde muitos de nós nos incluímos já), que
têm uma caminhada mais longa e chegam a esse estádio, acima descrito, são
privilegiados e têm o dever acrescido, para consigo e para com a sociedade, de
lutarem contra a verdadeira velhice, a velhice que se instala através da alma (porque
a verdadeira velhice é, sobretudo, um estado de alma), com veemência e com todos
os meios ao seu alcance.
Há jovens de
pele enrugada e corpos curvados sob o peso dos anos passados, mas entusiasmados
pela vida, de espírito aberto, sempre prontos a deixarem-se surpreender e a
aprenderem mais e mais, e velhos de corpos eretos e pele lisa, que deixam a vida
passar por eles mantendo-se indiferentes à sua passagem.
A verdadeira
velhice acontece quando deixámos morrer a capacidade de sonhar e perdemos a
curiosidade pelas coisas. Quando perdemos a esperança e nos remetemos à inatividade
física e intelectual;
A verdadeira
velhice instala-se quando deixamos de acreditar na nossa força interior, nas
nossas capacidades de sentir, de querer, de realizar, e passamos o tempo a
rezingar e a dizer mal de tudo e de todos, perdidos num passado que não tem
volta, sem querermos vislumbrar ou dar um passo em direção ao futuro;
A verdadeira velhice
instala-se quando lhe franqueamos a porta e nos acomodamos no
nosso canto, sem reagirmos aos processos de desgaste intelectual, físico e
psíquico, que o passar dos anos traz, irremediavelmente, consigo, e leva à deterioração cognitiva e sensitiva, abrindo caminho à solidão
e à depressão – estrada larga para a verdadeira velhice.
Se não lemos,
não escrevemos, não fazemos jogos ou outras actividades, que obriguem a mente e
o corpo a trabalhar, estamos a convidá-los (corpo e mente) à preguiça e daí, à
morte.
É sabido que, qualquer máquina parada se deteriora mais rapidamente, o mesmo acontecendo com a nossa.
É sabido que, qualquer máquina parada se deteriora mais rapidamente, o mesmo acontecendo com a nossa.
Alguém dizia,
outro dia - alguém com muita idade, de pele enrugada e corpo alquebrado, mas
com grande atividade intelectual -, que não tinha tempo para envelhecer.
Pois é. Se
calhar envelhecer é só uma questão de ter ou não ter tempo.
Jeracina Gonçalves
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