“A vida é um fluir contínuo como a água de um rio” com
rochedos, levadas, planuras, cachoeiras e os mais variados escolhos ao longo do
percurso, que permitem uma fluência mais célere e permanente ou mais morosa,
por vezes parcialmente descontinuada, conforme a robustez das forças que se lhe
opõem. Conforme a resistência que a torrente tenha de vencer ao longo do trajeto,
para que possa continuar a fluir e a fazer florescer as várzeas das margens. Às
vezes, como num rio, o seu leito torna-se perigoso e apertado, pejado de pedras
de lâminas cortantes entre arribas rochosas, que retalham a pele dos pés, e
deixam úlceras profundas à mercê de infeções oportunistas, sempre à espreita
e à espera da primeira ocasião para se instalarem e dominarem a situação. E a
corrente não flui. Oculta-se e some-se por entre o cascalho do leito.
Regurgita, mas não dimana. Deixa-nos atados de pés e mãos, sem nada que
possamos fazer para reverter o estado de coisas que domina e impõe. Mas é uma
dádiva maravilhosa. Uma dádiva única. Cabe-nos amá-la, protegê-la, lutar por
ela até ao último sopro e empregar todo o nosso esforço em vencer os escolhos
que aparecem no seu leito, e vivê-la de forma positiva e produtiva enquanto o
seu fluxo nos permita fazê-lo. Aproveitá-la em nosso favor e em favor dos que
nos cercam e dos que a nós estão ligados por qualquer elo: profissional, familiar,
de amizade ou outro, dando o nosso contributo para o desenvolvimento da
sociedade em que estamos inseridos.
Jeracina Gonçalves
3/03/2015
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