A vida caminha sem demoras nem atrasos pelos diversos ciclos, desde a chegada à partida, e a natureza entra agora num ciclo novo.
O sol já esmoreceu a paixão ardente com que abraçava a natureza viçosa e jovem, ciosa da sua beleza e dinâmica pujança cheia de entusiástica energia, acalentando-lhe e enriquecendo-lhe, em cor e de sabor, os frutos que a cigarra de perna cruzada, crente na generosidade da formiga diligente, embalava com a sua melopeia fastidiosa, impertinente, enfadonha. O seu amor é agora mais sereno, mais calmo, menos apaixonado mas mais terno e amadurecido pelo tempo. Com ele amima-lhe os frutos, que inebriam o ar de aromas estonteantes, e que o Outono colhe e carrega para as arcas e lagares; mostos fermentados exalam éteres embriagantes a evoluir pelos ares; vestidos de cores garridas vestem parques e vinhedos atapetados de belas e fofas carpetes e são inspiração para poetas e pintores; pássaros, como esquadrilhas alinhadas sob responsável comando, cortam o anil do ar e obedecem à voz do líder, que os orienta para outros lugares onde o sol se mantenha jovem e de amor ardente; pois, deste lado da Terra, desgastada a energia da sua juventude, envelhecido e cansado, propõe-se descansar: retira-se cada dia mais cedo e acorda cada dia mais tarde; o dia esmorece e a noite cresce.
É tempo de descansar para recompor as energias desgastadas.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 29/09/2021
Sem comentários:
Enviar um comentário