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sábado, janeiro 01, 2022

UMA CARTA À ACEITAÇÃO


 Olá, querida amiga:

Somos conhecidas de longa data e creio poder chamar-te de amiga pelo muito que me tens ensinado sobre a vida e a sua volubilidade. 
Mostraste-me que deveria ter sempre presente que na vida nada é permanente: tão depressa sorri, cheia de alegria, entusiasmo e dinamismo, levando-nos a caminhar por paisagens soalheiras e campos de flores perfumadas, como nos atira para abismos apertados, escuros, entre altas e abruptas falésias agrestes. E, se tu não apareces para nos abraçares e socorreres, quando, desesperados, desarmados, sem saber o que fazer para encontrar a saída desse lugar escuro, fechado,  agressivo para o nosso coração, não sei o que poderia suceder-me. Não sei o que seria de mim, sem ti, nesses momentos. 
Felizmente sempre me apareceste com a tua serenidade, a tua sabedoria, o teu bom senso, dizendo-me docemente: “minha querida, estou contigo, não desesperes. É apenas um momento menos bom, mas vai passar. Vais encontrar de novo o caminho da planície e tudo sorrirá novamente. Olha em frente, sem desespero, e caminha. Olha em frente e caminha. Não permitas que o desalento tolha a tua passada. Caminha de braços abertos, disponível para dar e receber, com a firme certeza de que nada é permanente; nada é para sempre. E tudo o que acontece tem um sentido, um objetivo próprio facilitador do crescimento e do enriquecimento pessoal, se for compreendido e aceite.”
Obrigada, querida amiga, pelo amparo, pelos ensinamentos, pelo acolhimento que tens dado às minhas dores. 
Ser-me-ia difícil a caminhada sem ti.
Mas, tendo-te comigo, basta-me olhar em volta, para esta bela engrenagem de correlações que é a vida neste todo universal de que todos fazemos parte e, cada um, é uma ínfima partícula entre as muitas constituidoras, para perceber o quanto tenho a agradecer, em comparação com o que tenho a reclamar, e aceitar o que vem e o que vier, nesta interdependência que nos liga ao todo uno que é o universo, de olhar firme, entendendo bem este vai e vem que é a vida. E perceber o quanto é urgente aprendermos a tratar uns dos outros, esquecendo um pouco o “eu” para pensarmos plural: NÓS.
Abraço-te, Amiga.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal – Novembro/2021


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