UMA CARTA À ACEITAÇÃO
Somos conhecidas e amigas de longa data (creio poder chamar-te de amiga, pelo muito que me tens ensinado sobre a vida e a sua volubilidade).
Na vida nada é permanente, disseste-me, e que deveria tê-lo presente em mim, em cada momento. A vida tão depressa sorri cheia de alegria e entusiasmo, a caminhar por paisagens soalheiras e campos floridos e perfumados, como te imerge na dor e te abre abismos e desfiladeiros apertados, escuros, sem sol, entre altas e abruptas falésias agrestes. E quando esse lado mais perverso da vida me acontece, quando desesperada de dor, desarmada, sem saber o que fazer para encontrar a saída desse lugar escuro, fechado, agreste, sempre me apareceste tu, com a tua serenidade, a tua sabedoria, o teu bom senso, dizendo-me docemente: “minha querida, estou contigo, não desesperes. É apenas um momento menos bom, mas vai passar. Vais encontrar de novo o caminho da planície e tudo sorrirá novamente. Olha em frente sem desespero e caminha. Olha e caminha. Não permitas que o desalento tolha a tua passada. Caminha de braços abertos, disponível para dar e receber, com a firme certeza de que nada é permanente; nada é para sempre. E tudo o que acontece tem um sentido, um objectivo próprio, humanizador e facilitador do crescimento e do enriquecimento pessoal, se for compreendido e aceite.”
Obrigada, querida amiga, pelo amparo, pelos ensinamentos e pelo acolhimento que dás às minhas dores.
Ser-me-ia difícil a caminhada sem ti; mas tendo-te comigo, basta-me olhar em volta, para esta bela engrenagem interdependente que é a vida neste todo universal de que fazemos parte e do qual cada um de nós é uma ínfima partícula entre muitas outras constituidoras do todo, para perceber o quanto tenho a agradecer e aceitar o que vem, e o que vier, nesta interdependência que é o universo. E o quanto é urgente aprendermos a tratar uns dos outros, esquecendo um pouco o “eu”, individual, para pensarmos plural: nós.
Abraço-te, Amiga.
Jeracina Gonçalves/Barcelos Portugal
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