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segunda-feira, novembro 21, 2022

 A INFLAÇÃO

Cada vez que vou ao hipermercado saio angustiada. Não tanto por mim, que não sou esbanjadora e a minha pensão ainda vai suportando o embate; mas pelos milhões de portuguesas e portugueses que têm pensões de miséria e têm a renda da casa para pagar, o gás, a luz, a água, a medicação e todas as outras despesas imprevisíveis decorrentes do dia-a-dia, e pelos milhões de portuguesas e portugueses que auferem o ordenado mínimo e, além da renda, da água, da luz e do gás têm os filhos para alimentar, calçar, vestir e educar. E pergunto-me, tantas vezes: como é que essa gente pode viver? Como é que essa gente põe comida na mesa todos os dias?
Tem de haver muita criatividade e muita contenção para conseguir orientar a vida sem cair no desespero de não ter forma de alimentar os filhos. E a pobreza cresce entre a população do nosso país. Longe de mim dizer, ou sequer pensar, que não devemos ser solidários com o povo martirizado da Ucrânia. Devemos! A sua luta é justa. É nosso dever estarmos com ele de todo o coração e com toda a determinação (por ele e por nós), e ajudá-lo no esforço de expulsar o invasor, que mata as suas gentes, destrói as suas cidades, as suas aldeias, as suas vilas e todas as infraestruturas de sustentabilidade, numa política de terra queimada. Desde as de distribuição de água potável, energia elétrica, hospitais, creches, maternidades, igrejas, escolas, jardins-de-infância... nada respeita, tudo arrasa sob a fúria da sua metralha. E faz das mulheres, dos velhos e das crianças seres ambulantes com a vida numa mala. Deixam a sua casa, o seu lar para salvar a própria vida e a dos filhos. 
Mas há os que não têm forma de sair, não têm meios, não sabem para onde ir, e são massacrados todos os dias pela metralha assassina, que mata e estropia crianças, mulheres, velhas e velhos que nasceram ali e ali viveram e trabalharam toda a vida e, no fim dela, são sujeitos a uma guerra imposta por um imperialista cobarde e saudosista, entrincheirado entre as paredes douradas dos seus palácios. E manda invadir o pais vizinho, soberano e independente, com direito a escolher e a definir a política a seguir e os países que quer para seus parceiros. Impõe-lhes a guerra, essa malfadada palavra com todo o harém pornográfico que a incorpora: morte, sofrimento, dor, fome, miséria, cobardia, traição, sangue, destruição, escombros, desalojados, drones, mísseis, e todas as sofisticadas ferramentas de morte que lhe dão suporte.
O país mártir não pode ser abandonado. Temos de estar do seu lado. Todos os países que prezam a liberdade de uma democracia devem estar do seu lado e ajudá-lo de todas as formas possíveis. 
O que não devemos é permitir que haja entre nós quem se aproveite da situação para enriquecer (e há sempre quem o faça), aumentando os preços exageradamente, fomentando, assim, ainda mais, a fome e a miséria.
O nosso governo precisa de estar atento aos aproveitadores da miséria alheia para encherem indevidamente o saco. Deve fiscalizar e castigar duramente quem se aproveite da situação e dar especial atenção à subida de preços de determinados alimentos básicos, do gás, da água e da eletricidade, e subsidiá-los para determinada camada da população. Há coisas que não podem encarecer do jeito que acontece; não podem ser sujeitas a esta inflação galopante. São indispensáveis à sobrevivência.
E nós, os que recebemos um pouco mais, os que temos um pouco mais de folga na nossa economia familiar, temos o dever de partilhar um pouco do que temos e ajudar as instituições de solidariedade social que, no terreno, estão atentas e ajudam a colmatar as necessidades das pessoas economicamente mais débeis.
Só de mãos dadas, num cordão de solidariedade e amor, o mundo poderá vencer os desafios cada dia mais prementes e de mais difícil solução.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 20/11/22

In: INOVADOR

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