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sábado, maio 03, 2014

“Um Mundo, um Coração”

Esta expressão foi-me dada, há uns anos, como tema a desenvolver para a Revista Barcellano, do Lions Clube de Barcelos, e desenvolvi-a em determinado sentido. Hoje, em peregrinação pelas pastas do meu computador, encontrei-a. Reli-a e apeteceu-me dar-lhe uma refrescadela, que, a estes anos de distância, parece-me dar-lhe um sentido mais consentâneo.

São tantos os mundos dentro deste nosso Mundo, quantos os corações dos seres humanos que o habitam. 
Cada ser humano é um mundo de desejos, fantasias, sentimentos, emoções, verdades..., que choca, a cada momento, com os desejos, fantasias, emoções, sentimentos e verdades do outro, ali ao lado; e, quantas vezes, com as suas próprias verdades, fantasias e emoções, conforme o interesse e o estado de espírito do momento.  
Se todos esses mundos, se todos esses corações batessem em sintonia e se aglutinassem num só, “Um Mundo, um Coração” ou no “Mundo/Coração”, imbuído de um sentimento de união e bem-estar geral, que a todos incluísse no mesmo abraço fraterno, seria maravilhoso. Mas, infelizmente, é apenas e só, uma expressão bonita; uma expressão poética que está a muitos e muitos “Anos Luz” da realidade do mundo que habitamos. E cada vez me parece menos aplicável neste nosso planeta, onde domina o egocentrismo, “o salve-se quem puder", a força do poder e do dinheiro sem olhar aos destroços que deixa atrás de si.
Apesar da globalização, que tudo aproxima, ou talvez por ela (não sei), que nos torna insensíveis pelo hábito  de vermos as desgraças, existem ao lado da nossa realidade, do nosso pequeno mundo e para lá dele, muitas outras realidades, muitos outros pequenos mundos, que desconhecemos e nem imaginamos possível existirem, nem queremos conhecer. E o jogo de interesses entre estes nossos mundos individuais e coletivos, entre estas diferentes realidades é desmesurado e desencadeia uma guerra sempre e sempre mais sangrenta: destrói-se, aniquila-se tudo e todo aquele que nos faça frente, que se oponha ao nosso interesse, à nossa verdade, ao nosso poder. 
Seja qual for a direção em que olhemos, quer olhemos com os olhos da razão, quer olhemos com os olhos do coração, vemos um planeta ameaçado por toda a espécie de calamidades, prestes a desintegrar-se irremediavelmente: é a poluição, é a violência de toda a espécie, é a doença, é  a corrupção,  é a fome... e são as iniquidades de todo o tipo que se praticam sobre os mais frágeis deste nosso mundo, especialmente sobre as mulheres, os pobres, os velhos, as crianças, que deviam ser preservadas, cuidadas, amadas - ainda que não houvesse outra razão, só pelo facto de serem o “mundo de amanhã”-,  pois tudo o que hoje receberem (de bom e de mau) irá ajudar a formar o seu carácter; irá ajudar a “construir” os homens e as mulheres do futuro, ou seja, o mundo que virá. 
São enormes os fossos sociais, éticos e económicos, que separam as pessoas, os países e os continentes neste nosso mundo: morrem uns de fome, de sede, de frio, soterrados nos escombros das próprias casas, enquanto outros esbanjam milhões em festas, carros, iates…, e toda a espécie de luxos escandalosos; fabricam-se bombas para matar, em vez de se cultivar pão para distribuir; constroem-se armas para dominar, gastando-se milhões e milhões de euros, quando muitos milhões de seres humanos vivem miseravelmente, sem os mais básicos direitos, sem as mais básicas condições inerentes à condição de Humano.
É um mundo muito injusto, este, em que vivemos! É um mundo cada vez mais dividido, no qual, os mais fortes humilham permanentemente os mais fracos, gerando ódios e revoltas: violência atrás de violência. 
Os corações que habitam este nosso mundo batem cada vez mais dessincronizados, cada vez mais fechados em si. 
Fazer com que todos batam em uníssono, aniquilar a loucura do poder e harmonizar todos estes interesses submetendo-os ao interesse da Humanidade é tarefa gigantesca; tarefa para deuses poderosos. E parece-me que Deus tem todas as razões para estar completamente desiludido com o Ser Humano. 
 Jeracina Gonçalves

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