"...Criara oito filhos. Uma família grande. E agora está só. Só e sem saúde. O marido morrera há muitos anos num desabamento da mina onde trabalhava. Ficaram lá cinco soterrados na galeria. Ele e mais quatro. Foi uma grande desgraça que aconteceu na aldeia. Ficou com os filhos ainda pequenos. O mais velhinho tinha, na altura, catorze anos. Lá os foi criando como pôde, com o fruto do seu trabalho e com a pequena pensão que ficara a receber do marido. Mas quando tomaram idade, partiram à procura de melhor vida. Uns para um lado, outros para outro..., partiram todos. Ficou só.
Ficara muito triste ao vê-los partir, mas compreendia-os. Compreendia a sua ambição, o seu desejo de melhor vida. Ali não havia futuro. As terras eram fracas, produziam pouco. E não havia outra maneira de ganhar a vida. Não havia outros trabalhos. A velha mina, que no passado dera trabalho a muita gente, fechara há muitos anos. E os homens, a gente nova partiu quase toda à procura de melhor futuro. Os seus filhos foram também. Nos primeiros tempos ainda lhe escreviam. Depois...
Nos dias em que recebia carta de qualquer um deles era dia de festa. Havia música de violinos no seu coração. Corria de carta na mão para casa da professora para que lha lesse. Não sabe ler. Nunca fora à escola. Bem pena teve, sempre. Mas naquele tempo era assim. Na idade em que devia andar na escola andava com o gado no monte. A escola não era obrigatória. Era só para os ricos. Os pobres precisavam de trabalhar. Os seus pais precisavam do seu trabalho para ajudar a angariar o sustento..."
"in" As vizinhas - HISTÓRIAS DE GENTE SÍMPLES
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal
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