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quarta-feira, agosto 08, 2018

…"pela manhã, no açude, entre a ramagem protetora dos freixos e dos amieiros frondosos! 
Parece-lhe sentir ainda o frémito de frescura e de prazer, que lhe percorria o corpo nu ao mergulhá-lo nas águas límpidas, fluentes e doces, porque aquelas águas eram doces; tinham um aroma e um sabor adocicado, que guarda até hoje na memória.
Ali, naquele rio, trocara o seu primeiro beijo de amor; fora ele, também, o palco da sua primeira paixão. Tinha então treze anos e ela um pouco menos.
Era filha de um casal, amigo dos pais, uns primos afastados que viviam em França, e viera passar umas férias de verão com eles.
Era linda! Muito loura, com uma pele de veludo e uns grandes olhos da cor da água do rio a refletir o azul límpido do céu. Era tão linda que se apaixonara no primeiro cruzamento de olhares, tomado por um turbilhão de sensações até aí completamente desconhecidas, mal aqueles olhos da cor de céu tocaram os seus. E foram inesquecíveis as férias que passaram juntos. Idílicas! Diz-se que nunca se esquece o primeiro amor e está inclinado a aceitar esse dito como uma verdade inquestionável. Aquele primeiro amor foi curto e inocente, mas intenso e arrebatador como nunca sentiu outro. E, quando as férias acabaram, regressou ao colégio de coração partido e ela a França, para junto dos pais. 
Durante vários anos não voltaram a ver-se e cada qual seguiu o seu rumo na vida. Outros amores vieram e partiram: uns passageiros e leves como a brisa que passa, outros intensos, cavando fundo e arrasando a consciência; mas aquele primeiro ficou ali guardado como uma pétala macia a aconchegar o coração"...

"Memórias"
"in" HISTÓRIAS DE GENTE SIMPLES
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Braga/Portugal



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