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terça-feira, agosto 07, 2018

…"Atirado, assim, aos pontapés da vida, com apenas doze anos: a idade que tinha quando a minha mãe morreu naquela tarde indelével na minha memória, levada nos braços traiçoeiros do mar, que é pai, que é amigo, mas é também verdugo, conforme o estado de espírito que o domina.
O mar é o meu passado, o meu presente, o meu futuro. Não imagino a minha vida a desenvolver-se numa qualquer atividade ou em qualquer lugar longe do mar. Nunca poderia dar certo. Concebido ao ritmo das ondas da borda do mar, o mar é o meu espaço como de um peixe ou de um qualquer mamífero marítimo ou outro qualquer ser vivente do mar. Dele me alimentei, na sua fímbria e em seu seio cresci, ri, brinquei, chorei e sofri: gritei de medo e aos céus me dirigi em súplica, pedindo proteção contra a sua fúria devastadora e cruel; adormeci e sonhei ao som doce do seu marulhar; sob o seu brilho, o seu colorido, a sua voz doce ou tenebrosa, foi educada a minha sensibilidade e a minha arte e foi induzido o meu trabalho: a profissão que exerço. Aprendi a temê-lo, a respeitá-lo e a amá-lo. E, hoje, tiro dele o sustento para mim, para a minha família e para tantas outras famílias que comigo trabalham. Enfurece-me de raiva e de desespero quando destrói o que com as minhas mãos, com a minha vontade e zelo e com o meu coração construí. Acalma-me e dulcifica a minha alma quando o procuro com o coração em pedaços e ele, manso, terno, amigo, me afaga e me recebe em seu seio e, envolvendo-me afetuosamente com seus braços carinhosos, dá vigor aos meus, que em braçadas fortes o percorrem e dele arrecadam o alento que me harmoniza e pacifica."...
"Aos Pontapés da Vida"
"in" HISTÓRIAS DE GENTE SIMPLES
Jeracina Gonçalves
Barcelos, Braga, Portugal

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