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quinta-feira, outubro 15, 2020

CRÓNICAS DO MEU CAMINHO

…NÃO, OBRIGADA!

 

A hora de ponta há muito ficara para trás e automóvel rodava pela A1, com pouco trânsito àquela hora, aproveitada pela maioria dos condutores de longo trânsito para jantar. Circulava-se à vontade, sem nada que atrapalhasse a condução. O tempo seco e o ar manso de um crepúsculo doce e tranquilo como um sorriso de mãe espiando as inocentes traquinices do filho, tornavam a viagem calma, pacífica, sem pressas nem atrapalhações. Não era ultrapassado o limite de velocidade imposto pela lei. Só a vontade de me aninhar placidamente nos braços carinhosos de Morfeu (talvez induzida pela maciez do crepúsculo) me atrapalhava um pouco. Mas, com maior ou menor facilidade, logo afastava a ideia, pois não queria deixar-me adormecer, não fosse contagiar o condutor, o meu marido. Tudo se poderia complicar, então, para além do aceitável. Na Área de Serviço de Aveias de Cima ligamos o GPS (estávamos na era do “Tom-Tom”), confiantes que assim chegaríamos mais facilmente ao hotel. E continuámos sem contratempos até à entrada da cidade. Aí começaram os problemas: a falta de obediência rápida às ordens emanadas da voz da “espanholita” fez-nos rodar várias vezes sobre as rodagens anteriores, dar voltas sobre voltas, até que, deveras transtornada, não sabia já para onde nos encaminhar. E foi sem a sua ajuda, desobedecendo-lhe resolutamente, que chegámos ao hotel. De contrário continuaríamos a rodar sobre os mesmos rodados, em redor do mesmo, sem sairmos do sítio. 
Sabíamos que o hotel ficava na Marginal. Chegaríamos lá, facilmente, sem o tal instrumento, se resolutamente tivéssemos ido directos à marginal, seguindo-a no sentido de Belém. Mas… Quando chegámos já há muito dobrara a barreira da meia-noite. 
Também no regresso o tal instrumento nos complicou a vida. E, em obediência às suas ordens, circulámos por “trancos e barrancos”, desobedecendo às placas indicativas que encontrávamos no caminho (era ao tal instrumento que devíamos obediência), para chegarmos ao Convento de Mafra. Sem que aí nos levasse. 
Levou-nos a um estreito vale, no meio dos campos de cultivo, sem qualquer casa ou barraco por perto, por uma estrada rural, em terra batida, estreita e em péssimo estado e, chegados aí, “Destino” – disse a voz guapa da referida espanhola, e terminou a sua missão. Nem mais “piou”. Levou-nos ao «destino» e nada mais havia a acrescentar. Emudeceu. 
Estávamos no meio de uma zona rural, entre terrenos de cultivo, longe de qualquer povoação e não havia nada que nos orientasse: nem uma placa, nem uma casa, nem pessoa alguma a quem pedir informações. E a única possibilidade era seguir em frente. Até porque não havia como fazer inversão de marcha. Seguir em frente e fé em Deus era a única possibilidade que havia. A algum lado haveríamos de chegar. 
Quilómetros à frente, não sei quantos, mas uns tantos, surgiu um cruzamento sem placas. Levantou-se a questão: para a direita ou para a esquerda? 
Em boa hora optamos pela esquerda. Após alguns quilómetros rodados apareceu finalmente uma placa indicadora do Convento de Mafra. Ainda estávamos longe, porém, no sentido certo. 
GPS… (aquele GPS) NÃO, OBRIGADA! É de tecnologia espanhola, foi caríssimo e não tem actualizações. Os seus criadores devem ter chegado à conclusão de que realmente não aprova e não estão para investir mais numa coisa que não presta. 
Se calhar até os entendo; mas é incorrecto. Os clientes deveriam merecer-lhes alguma consideração. 

(Isto aconteceu há mais de uma dezena de anos. Hoje o Google não deixaria que acontecesse.) 

Jeracina Gonçalves 
Barcelos/Portugal

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