PELA NORUEGA/1996 - A CATEDRAL
Lagos de água serena povoados de ilhotas prenhes de exuberante vegetação, bordejados por casinhas de madeira coloridas (com preponderância para a cor ocre) entre relvados luminosos, de um verde tenro, servem de espelho a alcantiladas e vicejantes encostas; rios turbulentos galgam penedias em turbilhões de branca espuma; cascatas prateadas saltam dos céus sobre gargantas e desfiladeiros; estradas sinuosas descem pelas ravinas sobre o abismo, penetram a montanha por entre escuros túneis e desembocam em estradas paralelas a lagos paradisíacos de margens cortadas a pique, ou prosseguem, lado a lado, com impetuosos riachos de montanha.
À saída de mais um túnel todas as vozes se calam repentinamente e ouve-se um sussurro de espanto generalizado: Aaaaah!!!!...
De entre o silêncio que então se fez, soltou-se uma voz: "Isto é uma verdadeira catedral!"
É mesmo! É uma autêntica catedral da Natureza. Sentimo-nos pequeninos, insignificantes, perante tal imponência, perante tão majestosa beleza. As palavras não têm força suficiente para descreverem a emoção que nos invade e nos toma a alma ao olharmos a beleza desta Natureza preservada. Intacta.
Mas os noruegueses sabem apreciar, gozar e respeitar as delícias desta Natureza exuberante. E aos fins-de-semana, tanto de Verão como de Inverno, saem das cidades e vão para as cabanas da montanha: casinhas feitas de madeira, pequeninas, muito simples, bem calafetadas, com os telhados cobertos de terra (a maior parte), onde crescem flores e relva durante a Primavera. Proliferando como floridos e verdejantes jardins suspensos entre as majestosas árvores da mata. As famílias que as não possuem, têm as do Estado, que utilizam de graça, mas tendo a preocupação de deixá-las cuidadas e limpas, para que outros as possam utilizar com o mesmo prazer (E é este sentido cívico, este respeito pelos espaços que são de todos e que todos se preocupam em conservar, que faz da Noruega um país lindíssimo. Respeito e civismo que é urgente fomentar entre nós, incutir nas nossas gentes. O bem de uns é o bem de todos. É necessário que aprendamos a preservar e a conservar os espaços comuns postos ao nosso dispor, para que todos os possamos usufruir, obtendo deles idêntico prazer. O nosso país merece-o. De norte a sul, de este a oeste, tem espaços tão maravilhosamente belos!... Mas, tantas vezes, o lixo, as porcarias que os contaminam fazem deles lixeiras que causam repulsa e nos enchem de vergonha), e passam aí, nessas casas de montanha, as férias e os fins-de-semana, em completa comunhão com a Natureza. Respeitando-a e vivendo a vida simples e saudável que ela proporciona: de Inverno esquiam e de Verão fazem montanhismo.
Todos sabem esquiar. "É que os bebés já trazem esquis quando nascem, o que torna os partos muito dolorosos; por isso, os casais noruegueses não têm mais de dois filhos. As mulheres norueguesas fazem uma segunda tentativa, mas nunca uma terceira. Nenhuma se sente capaz!" - Informa-nos, em jeito de piada, a guia, para nos dizer que, geralmente, não há mais que dois filhos por casal.
O esqui é, no Inverno, o principal meio de transporte para o emprego, para a escola, etc. Para qualquer lado que precisem de ir, deslocam-se de esqui. A arquitetura, tanto a norueguesa como a sueca (fora das grandes cidades), especialmente na zona rural, é bastante simples: as casas são sempre revestidas, exteriormente, a madeira pintada, predominando a cor ocre com contornos nas janelas e nas portas em branco e emprestam à paisagem um encanto peculiar (a dinamarquesa é bastante mais sofisticada e muito bonita).
A cidade de Oslo, capital da Noruega, é encantadora!
Constituída por 40 ilhas e 360 lagos, é uma das cidades maiores do mundo em área, onde vivem menos de meio milhão de pessoas. É muito limpa e arrumada, tem bonitos edifícios, é cheia de flores e profusamente verdejante; tem parques encantadores de árvores frondosas e relvados muito limpos e cuidados, onde as pessoas se deitam a apanhar sol, em tronco nu e em biquíni ou fato de banho (os relvados na Escandinávia são para usufruir, não apenas para ver); a água jorra de bonitos repuxos por entre esculturas em granito, representando, especialmente, a pessoa humana nos vários aspetos da vida em família, sobre lindas taças utilizadas pelas crianças como piscinas durante o Verão. A parte da cidade dedicada só a peões, uma zona muito alegre que vai até ao porto, onde se encontram atracados vários barcos entre os quais bonitos barcos/restaurante, é ampla e fervilha de gente cruzando-se nos diferentes sentidos; turistas, na maioria, pois a em finais de Julho já quase todos os noruegueses gozaram as férias e estão de volta aos seus locais de trabalho.
Jeracina Gonçalves/ Barcelos Portugal
Este texto publicado na Revista BARCELLANO do Lions Clube de Barcelos, na época. Posteriormente foi englobado na narrativa do meu livro “A VIAGEM”)
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