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sábado, dezembro 05, 2020

DORA CHEGOU


Dora chegou. O vento sopra forte.
Ataca furioso e derruba o que se oponha ao seu correr veloz
sem consideração nem complacência.
O mar encrespa-se, cresce.
Zangado atira-se sobre praias e arribas.
A luz esfuma-se num emaranhado de nuvens densas 
que escondem o azul.
Lágrimas pesadas caem do céu.
Empurradas pelo vento furioso fustigam vidraças,
árvores, alpendres estradas e caminhos…
Ou então…o céu não tem lágrimas para chorar.
E sobre a terra faz cair flores.
Flores brancas a descerem das nuvens.
Pintam telhados, árvores, arbustos, fráguas, montes,
prados, estradas e caminhos.
Tudo fica lindo. Branquinho.
A paisagem fica bela como uma noiva vestida de branco
a caminho do altar.
Volutas de prata evolem-se das chaminés no cinza do ar.
São as lareiras a respirar. Aquecem os lares.
A paisagem é linda, mas é de tiritar.
É uma paisagem de encantar para quem tenha um lar.
Mas há quem não tenha uma telha para se abrigar…

Dora, mulher zangada, que por cá está a passar,
num golpe d’asa, num rápido piscar d’olho,
transmutou um doce e ameno tempo de primavera,
neste tempo - deste tempo - que nos põe a tiritar.
Mas é tempo deste tempo. É o inverno a chegar.

                                                                            Jeracina Gonçalves
                                                                            Barcelos/Portugal, 04/11/2020

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