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segunda-feira, dezembro 21, 2020

 “O que vires com os olhos da alma será eterno em teu coração”


Li esta frase algures, não sei quando nem onde, mas é uma frase feliz. Registei-a porque sinto-a como verdadeira e de grande afinidade comigo. Traduz uma realidade que sinto em mim e define bem o meu sentir, a minha forma de olhar e ver, particularmente no que se relaciona com a natureza, especialmente no referente à paisagem. E tenho algumas experiências ilustradoras dessa realidade.

Neste momento ocorre-me particularmente uma, por volta dos meus quinze anos, que se mantém viva como se tivesse acontecido hoje:

Numa tarde de outono, regressava de uns terrenos dos meus pais num lugar chamado “Aveleira”, que fica a uns vinte ou trinta minutos para lá da aldeia. A dada altura, num local sobranceiro da encosta, voltei-me para trás e, nesse momento, fui atingida por uma seta direta ao meu coração. A imagem com que deparei gravou-se indelevelmente na minha alma: uma enorme aguarela policromada, com uma harmonia e combinação de cores inesquecível, olhava para mim. Fiquei irremediável e indefinidamente rendida ao seu encanto. Continha o avermelhado da ramagem das cerejeiras, sabiamente misturado com o amarelo-matizado dos castanheiros, o verde-escuro dos pinheiros, o verde-cinza das oliveiras, a policromada ramagem das videiras, o verde tenro dos campos... E toda esta mistura de cores distribuída por entre as pregas e contra pregas da orografia que caracteriza a minha região criava uma imagem que, para mim, ficou inesquecível.

Hoje a minha terra já não é assim. Um incêndio, bastantes anos mais tarde, devorou esse meu bosque colorido e encantado, que me subjugou nesse tempo longínquo da minha adolescência. As giestas vieram substituir parte dele. Mas, também, há muitos, muitos anos, que não percorro os seus caminhos para lá da aldeia. Não sei as transformações que sofreram esses lugares. Porém esta imagem da adolescência foi gravada a tinta indelével no meu coração. Por mais transformações que possam ter acontecido, ninguém ma pode tirar.

Jeracina Gonçalves 
Barcelos/Portugal, 21/12/2020

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