Fui botada ao abandono por Hipnos, reparador e amigo, que tanta falta me faz.
O melhor é levantar-me e ir até ao computador. Quem sabe se aí me surgirá qualquer ideia que consiga desenvolver com algum sentido, me envolva e me torne menos pesada e dolorosa esta pena imposta por Hipnos & Companhia. Ou talvez fique comovido com este meu desassossego e me levante esta pena tão dura, e me abra caminho para o seu regaço acolhedor e reconfortante.
Vou para o escritório. Vou centralizar todos os meus sentidos num único objectivo: ouvir o silêncio inerente a um compartimento, sem ninguém, além mim. Gosto de ouvir o silêncio.
Se soubermos escutá-lo, verificaremos que são inúmeros os sons que o enchem.
Sons que geralmente nos passam despercebidos, mas estão presentes em qualquer ambiente, por mais silencioso que pareça, se nos concentrarmos e nos predispusermos a ouvi-los e a entendê-los. E podem até comunicar-nos e dar-nos a conhecer saberes importantes.
E, muitas vezes, permitem-nos a evasão, o sonho, e levam-nos a viver situações fantásticas, criadas pela nossa imaginação.
Neste momento preciso dessa evasão; preciso dessa fuga providencial que dê algum calor e conforto ao meu coração, fazendo-o viver momentos especiais, que o façam vibrar e o ajudem desprender-se desta corrente sufocante que o aprisiona e me atemoriza.
Centro a minha
atenção neste espaço do escritório e um zunir impressionante, como se um grupo
de abelhas - não digo enxame, porque o zunido seria muito mais intenso -
andasse por aqui na colheita do pólen, voando de flor em flor, fere o meu
ouvido atento. E quanto mais me concentro neste espaço, mais intenso se torna o
zunido em meu redor. Julgo que vem do próprio computador obedientemente ao meu
serviço; mas a consciência exacta de onde me chega, não a tenho. Está por aqui....à
minha volta, e derruba os muros que me enclausuravam e leva-me até às margens
verdejantes e floridas de um lago muito azul, onde esvoaçam passarinhos coloridos
e abelhinhas atarefadas pousam de flor em flor na recolha do pólen, que carregam
nas patitas até à colmeia. E essas imagens começam a colorir a minha alma e a
dar energia ao meu corpo cansado pela insónia.
Mas o espaço
do meu escritório já não é suficiente ao meu exercício de concentração. Preciso
de alargar o espaço de concentração para lá da janela fechada, com vidros e vidraças duplas.
Fecho os olhos. Concentro-me no espaço que fica para lá de janela, e chega-me então
a mistura de muitos outros sons. Mas o chilreio dos pássaros é sem duvida o mais
dominante: um… outro… e outro…
Acabaram de acordar e ocupam-se em cuidar de si, da sua higiene matinal e do seu desjejum.
Não são porém os únicos sons que me chegam do lado de lá da janela fechada; outros se destacam também. E o som da brisa matutina a ressoar nos ramos, que dançam ao ritmo do seu desejo, chega também aos meus ouvidos e à minha mente atenta; um galo canta…
Acabaram de acordar e ocupam-se em cuidar de si, da sua higiene matinal e do seu desjejum.
Não são porém os únicos sons que me chegam do lado de lá da janela fechada; outros se destacam também. E o som da brisa matutina a ressoar nos ramos, que dançam ao ritmo do seu desejo, chega também aos meus ouvidos e à minha mente atenta; um galo canta…
São os sons do
amanhecer. Os sons do despertar para mais uma jornada que chegam até mim: uns mais agudos, mais graves outros; uns mais audíveis, outros mais surdos, todos
fazendo parte da maravilhosa sinfonia de um dia ao acordar.
O som forte do
motor de um automóvel predomina agora. É o carro do vizinho com o motor a
trabalhar. Começa a rodar e desaparece pouco a pouco na distância, como um
fumo intenso, que sai da chaminé e logo se espalha e desaparece levado pelo
vento, deixando de novo o ar limpo e o céu azul.
Um toque
estridente da campainha da minha porta fere agora os meus ouvidos.
É, certamente,
a empregada que chega. Vou abrir.
Jeracina Gonçalves
Sem comentários:
Enviar um comentário