Gosto de animais. E magoa-me vê-los maltratados ou
abandonados; especialmente animais de companhia: sejam cães, sejam gatos, sejam
pássaros… ou outros. Quem se propõe a ter animais consigo deve
consciencializar-se das suas responsabilidades para com eles.
Mas os animais não podem “expulsar” os seres humanos
das suas áreas de residência. E agora estou a referir-me aos animais selvagens;
ao repovoamento (ou povoamento) que está a fazer-se em muitas regiões rurais do
país, com animais selvagens.
Quer-se expulsar as populações que ainda aí
habitam? Quem paga os prejuízos que muitos deles causam nas suas sementeiras; no cultivo dos produtos que granjeiam para a sua sobrevivência? E é o javali,
que destrói as sementeiras, as videiras, come as castanhas, deita muros abaixo… E, se algum lavrador, revoltado
com a destruição que encontra na sua plantação (resultado do seu trabalho de
muitas horas e muitos dias ou até meses), de onde esperava tirar o necessário
para alimentar-se e a sua família, tenta apanhar algum, vê-se confrontado com uma multa que terá de pagar
sem saber onde há de ir buscar o dinheiro; e são os esquilos, uns animaizinhos muito
bonitos, mas que gostam muito de castanhas e nozes; e é a raposa que ataca as
capoeiras, mata, come, leva…; e é o lince ibérico, que começou por ser visto um,
mas agora parece que já são trinta…
Sou natural de uma aldeia transmontana, na encosta
nascente do Marão. Na minha meninice nunca ouvi falar esquilos ou
sequer javalis. Ouvia falar de lobos e de raposas. Hoje os javalis destroem por
lá qualquer sementeira. E, sempre que lá vou, oiço falar dos prejuízos que o
javali dá. E não podem fazer nada contra ele. Não podem defender-se dele, dos seus ataques aos campos que trabalham com amor. Não podem apanhá-los, não podem caçá-los…
Não podem fazer nada contra quem lhes destruiu o trabalho, a vida, que criaram com amor e sacrifício.
Não podem fazer nada contra quem lhes destruiu o trabalho, a vida, que criaram com amor e sacrifício.
Já pensaram na revolta desta gente, que dedica a
sua vida a criar coisas, que dá a sua vida e o seu amor para criar vida (porque
o lavrador cria vida! É assim que consome a sua vida: a criar vida, para
alimentar a vida.) e, da noite para o dia, encontra todo o seu trabalho, todo o seu tempo, toda a
sua dedicação, todo o seu amor, e o dinheiro gasto, destruídos e pisoteados pelas patas do javali?
E,
ao que parece, também as raposas andam agora muito assanhadas por lá. Nos últimos
tempos parece que quase todas as capoeiras da aldeia tiveram a sua visita assassina.
É muito romântico defender os direitos dos animais. Antes, porém, é necessários defender os direitos desses homens e mulheres, que
estão a ser expulsos dos locais habitados pelos seus antepassado há centenas de anos e, agora, por si.
Se continuarmos por este caminho, o Homem acabará em cidades de cimento prisioneiro dos animais. Os animais multiplicam-se naturalmente e normalmente. Ao passo que os homens e as mulheres cada vez se multiplicam menos.
Se continuarmos por este caminho, o Homem acabará em cidades de cimento prisioneiro dos animais. Os animais multiplicam-se naturalmente e normalmente. Ao passo que os homens e as mulheres cada vez se multiplicam menos.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal
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