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segunda-feira, junho 07, 2021

Sete de Junho, Dia Mundial da Segurança Alimentar

  Embora este texto, que me chegou através da Newsletter da Universidade do Porto, não tenha por título  "Segurança Alimentar", parece-me implícito na reflexão da Exma. Senhora  Vice-Reitora para a Cultura, Museus e Editora da mesma, que aqui vos deixo.                                                                                                                                                                                                 Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal

ALIMENTAÇÃO E CULTURA

No início da década de 60 do século passado, Roland Barthes foi dos primeiros teóricos a chamar a atenção para o assunto: a alimentação é um signo, um sistema de comunicação de situações e comportamentos. O café que combinamos tomar com os nossos amigos vale mais pela função que cumpre do que enquanto substância. A alimentação é um ato cultural.
 Massimo Montanari explica bem a situação: a comida é cultura quando é produzida, pois não nos limitamos a ingerir os elementos que encontramos na natureza; a comida é cultura quando a preparamos, pois transformamo-la através das artes culinárias; e é cultura quando é consumida, pois comemos sempre em função de critérios económicos, nutricionais ou até mesmo religiosos.
 Vivemos numa sociedade que se caracteriza, como sublinha Michael Pollan, por uma “ansiedade por comida”. Não é que este problema seja novo: o que é novo é que já não estamos nas mãos das mulheres, que tradicionalmente cozinhavam as refeições para as famílias e produziam muitos dos produtos ou os escolhiam criteriosamente nos mercados locais; estamos, antes, nas mãos dos cientistas da alimentação que manipulam geneticamente animais e plantas para que possam ser preparados e processados ao longo do ano – e estamos nas mãos das grandes empresas que distribuem os produtos e que são, na verdade, quem decide o que comemos.
A alimentação que, no tempo em que as mulheres tinham autoridade na cozinha, era um ato de confiança, tornou-se hoje, para muita gente, um ato de desconfiança. Ir às compras é um ato político. Mas a escolha é apenas possível em função do poder económico do comprador.
 Enquanto ato cultural, a alimentação conta histórias de migração, de assimilação e de resistência; enquanto ato económico, a alimentação conta muitas vezes histórias de resignação; enquanto ato político traduz princípios éticos e de justiça – e comporta a ideia de que, individualmente, podemos contribuir para fazer a diferença.
 Estas reflexões vêm a propósito da sessão “Pela boca morre o planeta: a salvação à distância de uma dentada”, promovida pelo Museu de História Natural e da Ciência da Universidade do Porto no âmbito de “Diversidades: Ciclo de Conversas sobre Biodiversidade e Sustentabilidade Ambiental”. Sim, esta é também a missão dos museus universitários: identificar problemas, apontar caminhos – e mostrar que, muitas vezes, as soluções passam por nós.
 
Fátima Vieira
Vice-Reitora para a Cultura, Museus e Editora
Da Newsletter da Universidade do Porto

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