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domingo, maio 01, 2022

ANJOS

Andam por aí sem barulho, silenciosos, sem se fazerem notados. Atentos, caminham connosco, amparam-nos nas quedas e ajudam-nos a seguir a nossa caminhada pela vida. Encontrei-os ao longo da minha vida em várias ocasiões. E deram-me a sua força, a sua proteção, a sua coragem, o exemplo da sua bondade, da sua dedicação aos outros, do seu amor à humanidade. 
Era ainda uma menina quando travei conhecimento com eles. Uma menina de dez anos. Deixava pela primeira vez a minha bonita aldeia serrana na serra do Marão e partia para a bela cidade minhota - a Princesa do Lima - para casa de um tio para estudar. Tímida, saudosa dos meus pais, dos meus irmãos e do meu pequeno mundo (o torrão onde nasci), chorava todos os dias e clamava pela pequena aldeia onde tinham ficado os meus afetos: o grande tesouro que guardava ciosamente no meu coração. E foi então que travei conhecimento com o primeiro anjo bom da minha vida (fora do meu reduto habitual), na forma de uma velhinha - a mãe da minha tia -, que me acarinhou com bondade e Amor, e me mimou durante o pouco tempo que lá passei: agora era uma laranja que descascava e ia levar-me, depois era uma bolacha, um copo de leite, um rebuçado…
Tinha sempre um miminho para me acarinhar, para me fazer sentir querida. Mas a menina que eu era, não superou as saudades dos seus afetos. O meu pai teve de ir buscar-me e levou-me para estudar em Vila Real. Porém, aquela velhinha, aquele primeiro anjo bom que entrou na minha vida, nunca mais se apagou do meu coração. E, neste preciso momento em que escrevo, sinto ainda seu perfume benfazejo em meu redor. Ao longo da caminhada fui encontrando outros. Guardo-os a todos no meu coração.
Mas também encontrei anjos negros e perversos, que fizeram sangrar o meu coração e correr pelas minhas faces rios de fel. A esses limpei-os da minha memória, arranquei-os do meu coração e da minha vida. Não guardo nenhum. Nunca permiti que nele marcassem lugar e o corroessem com a sua malignidade.
Andam por aí, anjos da luz e anjos das trevas. Uns e outros vão cruzando, ao longo da caminhada, as linhas das nossas vidas.

Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal

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