Entre o sol-posto e o amanhecer, na hora de descansar, o meu pensamento multiplica-se por caminhos diversos, que se dispersam pelas encruzilhadas do tempo e me afastam da linha de conduta que lhe quero impor e é premente seguir para reconforto de todos os meus órgãos vitais; mas nada me permite fazer. Domina. Toma a diretriz e comanda toda ação. Não me deixa alternativa senão a de segui-lo. Ir atrás. “Se não os consegues vencê-los, junta te a eles.” É o que faço: deixo-me ir. Sigo atrás dele pelos caminhos que me vai abrindo. Talvez assim consiga apanhá-lo, retê-lo, trazê-lo para mim, e guiá-lo de acordo com a minha vontade e as minhas necessidades; dizer-lhe que é tempo de acalmar, dizer-lhe que é tempo de se aconchegar, que é tempo de nos aconchegarmos nos braços de Morfeu e recuperarmos as energias para o dia preste a chegar. Mas nem sempre consigo acordá-lo para as minhas razões. Nem sempre ouve o meu apelo e me liberta do seu poder dominador, e arrasta-me pelos caminhos da sua razão até que a luz penetra pelos interstícios da persiana e me diz que o novo dia acordou.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal, 18/05/2021
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