"EU E OS OUTROS, DAQUI E DALI", será um espaço de reflexão e de registo de imagens e pensamentos colhidos e construídos nas vivências do dia-a-dia, que poderão ser em prosa, em verso, ou imagem.
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quarta-feira, dezembro 30, 2015
terça-feira, dezembro 22, 2015
NATAL
Naquela Noite, lá
longe, em terras da Palestina
num curral, entre
animais, Deus se fez Menino
numa mensagem de Amor, Paz e Fraternidade.
Essa Mensagem Divina
trazida p’lo Deus/Menino
vive na palavra
singela, saída do coração
aos que sofrem, em si, o
peso da solidão
vive num beijo no
rosto, vive num aperto de mão
vive na mão que afaga
a criança mal-amada
vive na mão, que agarra
aquela outra mão
já sem ânimo, sem
alento, para continuar a jornada
vive no gesto que
acarinha e põe um sorriso no olhar
daquela criança
sozinha que da rua faz seu lar
vive no olhar doce,
cordato, do manso coração
vive no abraço aberto ao outro, nosso irmão,
sem nome, sem cor, sem
credo, sem raça
em cada dia que passa, com
a Paz no coração.
Natal é Amor!
É Paz no coração!
Jeracina Gonçalves
sábado, dezembro 19, 2015
sexta-feira, novembro 06, 2015
A SALA VAZIA
A sala está vazia
fria
entre as quatro paredes brancas
desmaiadas
rasgadas por duas janelas quadradas
e uma porta.
Pela porta chegam-me vozes…
Vozes indistintas.
Vozes trazidas do tempo da memória.
Multiplicam-se… Crescem…
Enchem de sons aquela sala vazia
De paredes desmaiadas.
Enchem-na da sã alegria
De risos e gargalhadas
De vozes que se atrapalham…
E todo o encanto d’outrora
Enche aquela sala vazia
De paredes desmaiadas
Tão cheia e aconchegada
Guardada no meu coração
Dos tempos que já não são
Trazidos à minha memória.
E aquela sala vazia
De paredes desmaiadas
Aquece o meu coração.
Jeracina
Gonçalves
segunda-feira, outubro 26, 2015
A INSÓNIA
O dia aproxima-se devagar.
Com seu manto nacarado
Engole a escuridão
E sobe lentamente as escadas do dia.
Cansado da noite sombria
De há tanto esperar o dia
O meu coração
Para o dia estende a mão.
Saúda-o com alegria.
Há longo tempo esperava
Que chegasse a madrugada.
Tenho saudades do tempo
Em que a madrugada
Subia as escadas
Com um sorriso maroto
E trazia ao meu coração
A alegria
De um dia
Carregado de emoção.
Tenho saudades do tempo
Em que a vida era curta.
Liberta das preocupações da vida.
Decorria, dia a dia,
Entre risos, brincadeiras…
E muita, muita Alegria.
E muita, muita Alegria.
Fiolhais
19/10/2015
domingo, outubro 11, 2015
EU QUERIA ESCREVER UM POEMA
O sol não ilumina o caminho dos prados floridos
A água já não banha as veigas da beira do rio
E a Lua nega-se a derramar o seu olhar prateado
Sobre as veigas moribundas do meu coração;
Mas a chuva a cantar de mansinho para lá da janela…
O canto da chuva para lá da janela
Traz-me à lembrança a voz
da criança
E o sonho, e a esperança
Que em mim fervilham e quero alcançar.
Com letras, palavras e frases
começo a manchar
o corpo virgem imaculado
da folha branca, despojada sob o meu olhar.
começo a manchar
o corpo virgem imaculado
da folha branca, despojada sob o meu olhar.
Despejo em seu seio pedaços que doem.
Pedaços, que de mim, quero afastar.
A minha alma veste a folha branca
desnudada sob o meu olhar
desnudada sob o meu olhar
com as lágrimas de cansaço que a prendem ao chão.
Enche-a de letras...
palavras conjugadas em frases que liberta do meu coração.
Enche-a de letras...
palavras conjugadas em frases que liberta do meu coração.
Eu queria escrever um poema.
Nele derramar todas as lágrimas
todo o cansaço que enche a minha alma.
Vestir com ele a folha branca.
Vestir com ele todas folhas brancas...
Eu queria escrever um poema que a minha alma não solta.
Vestir com ele todas folhas brancas...
Eu queria escrever um poema que a minha alma não solta.
Prende-o em si, numa dor que magoa.
Na vontade de ser forte quando a dor assola.
11/10/2015
Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal
domingo, setembro 27, 2015
A VIDA
“A vida é um fluir contínuo como a água de um rio” com
rochedos, levadas, planuras, cachoeiras e os mais variados escolhos ao longo do
percurso, que permitem uma fluência mais célere e permanente ou mais morosa,
por vezes parcialmente descontinuada, conforme a robustez das forças que se lhe
opõem. Conforme a resistência que a torrente tenha de vencer ao longo do trajeto,
para que possa continuar a fluir e a fazer florescer as várzeas das margens. Às
vezes, como num rio, o seu leito torna-se perigoso e apertado, pejado de pedras
de lâminas cortantes entre arribas rochosas, que retalham a pele dos pés, e
deixam úlceras profundas à mercê de infeções oportunistas, sempre à espreita
e à espera da primeira ocasião para se instalarem e dominarem a situação. E a
corrente não flui. Oculta-se e some-se por entre o cascalho do leito.
Regurgita, mas não dimana. Deixa-nos atados de pés e mãos, sem nada que
possamos fazer para reverter o estado de coisas que domina e impõe. Mas é uma
dádiva maravilhosa. Uma dádiva única. Cabe-nos amá-la, protegê-la, lutar por
ela até ao último sopro e empregar todo o nosso esforço em vencer os escolhos
que aparecem no seu leito, e vivê-la de forma positiva e produtiva enquanto o
seu fluxo nos permita fazê-lo. Aproveitá-la em nosso favor e em favor dos que
nos cercam e dos que a nós estão ligados por qualquer elo: profissional, familiar,
de amizade ou outro, dando o nosso contributo para o desenvolvimento da
sociedade em que estamos inseridos.
Jeracina Gonçalves
3/03/2015
domingo, setembro 20, 2015
SAUDADE DOS SONHOS PERDIDOS
No peito guardo saudades dos sonhos que contigo reparti
Dos sonhos perdidos, escangalhados, que contigo não vivi.
Sonhos, tantas vezes sonhados!...
Escangalhados nas encruzilhadas da vida
Escangalhados nas encruzilhadas da vida
Nos passos da vida, cruzados noutros sonhos...
Sonhos, tantas vezes sonhados, levados pela barca da vida.
Sonhos, que para sempre perdi.
Jeracina Gonçalves
20/09/2015
terça-feira, setembro 01, 2015
SOMOS INSTANTES
Somos instantes…
Somos instantes de um poema
a cada instante
construído, (des) construído
em instantes, de versos repetidos
que se fazem, se
(des)fazem, em instantes
escangalhados por
entre o emaranhado do tempo;
somos instantes de sorrisos gargalhados
perdidos em caudais de sonhos infinitos
em instantes destroçados;
somos instantes de luz fulgurante no olhar,
nesse instante que nos arrebata o Ser,
esse olhar que toca o
nosso olhar…
Somos instantes…
Somos instantes de sois fulgurantes
arrebatadores dos
sentidos
em instantes de loucura, vividos na plenitude do Ser;
somos instantes de
sombras bolorentas, invasoras, dominantes
que, em instantes,
cavam poços profundos
onde se enterram nossos sonhos…
Somos instantes…
Somos instantes de água tranquila, remansosa
espelho repousante de
paisagens deslumbrantes;
somos instantes
de risos gargalhados
a evolver em cascatas de flores pelo ar;
somos em instantes semente
que germina, sorve a luz, cresce
abre-se em flor de
versos de mil facetas…
Somos instantes…
Somos instantes de verões escaldantes, irreverentes
senhores da vida e
do mundo;
somos instantes de primaveras vicejantes
forças renovadoras, floridas, prenhes de luz e de amor;
somos instantes de generosos outonos
paletas de cores refinadas que
acarinham o olhar;
somos instantes de
invernos sombrios, tormentosos
sombras paralisantes de dor
e solidão…
Somos instantes…
Somos instantes de um Poema
construído, (des) construído
em instantes de versos sentidos
que, por instantes,
emergem e imergem por
entre o emaranhado do tempo.
Somos instantes…
Somos instantes que veem e que vão a cada instante.
Somos um Poema, de instantes
construído, (des) construído a cada instante.
Nunca terminado.
E a vida, a cada instante,
mostra-nos instantes da Vida.
Da Vida, que é a nossa vida
que é a vida em volta de nós
que é a Vida para lá da Vida.
Instantes da nossa vida:
doces, amargos, luminosos, sombrios…
Instantes da nossa vida.
Às vezes bem troviscosos
envenenadores da Vida.
Instantes da nossa vida.
E a noite vai caindo. Em instantes.
Silenciosamente chegando…
Caminhando…
Para o outro lado da Vida.
Somos instantes…
Somos instantes que veem e que vão a cada instante.
Somos um Poema de instantes construído.
Desconstruído a cada instante.
Somos um Poema em versos de instantes sentidos.
Nunca terminado.
Jeracina Gonçalves
Agosto/2015
sábado, julho 25, 2015
Quando a dor aperta a alma e em nós
cresce um grito surdo, intenso, capaz de nos fazer estilhaçar o coração
em mil pedaços, é
muito bom sentirmos a solidariedade
humana a envolver-nos como uma almofada
de macio veludo. Na dor é uma enorme consolação.
Sentiu-a ontem, no funeral do meu marido, quando, com o coração
angustiado, abracei cada pessoa, cada colega, cada amigo, amigos de há muitos
anos, vindos de longe, alguns com enorme dificuldade de locomoção; senti-a
ontem quando abracei cada amigo de infância, cada pessoa da minha aldeia que,
inteira, foi despedir-se do meu marido, alguns velhinhos e com grande
dificuldade em caminhar; senti-a ontem, quando fui maravilhosamente
surpreendida pela entrada do pároco da minha aldeia (meu primo) paramentado
para celebrar a Missa de Corpo Presente do meu marido. Foi uma surpresa
maravilhosa, que me emocionou ate ao mais profundo da minha alma.
Muito obrigada, Senhor! Muito
obrigada meu Jesus, por me Teres feito sentir tão amparada pela família, pelos
amigos, e por todas as pessoas que, como seu abraço solidário me aqueceram a
alma.
Obrigada a todos.
Jeracina Gonçalves
sexta-feira, junho 26, 2015
APROXIMAM-SE AS FÉRIAS
Aproximam-se
as férias de Verão (Já chegaram para alguns) e, com elas as viagens, os
passeios pelas matas, os piqueniques, as idas à praia, o campismo... Enfim, todas
as maravilhosas e saudáveis actividades que se podem praticar no Verão, em
contacto com a Natureza. A vida ao ar
livre com todos os benefícios que nos traz à saúde do corpo e do espírito, nos
retempera as forças depauperadas por um ano de trabalho para, depois,
recomeçarmos um novo ano em boas
condições físicas e mentais e darmos todo o rendimento possível nas tarefas que
tenhamos de desempenhar.
Todos temos
o "dever" - porque é um dever proporcionarmos ao nosso corpo e ao
nosso espírito as condições para que se mantenham saudáveis - de usufruir dos bens
que a Natureza nos proporciona. Mas há que fazê-lo com responsabilidade, com
civismo, com respeito pelos outros e
pelo ambiente.
"A
minha liberdade termina onde começa a liberdade do outro." Eis a máxima
que cada um de nós deve interiorizar e
dela fazer bandeira. Fazer dela o lema regente
do nosso comportamento no quotidiano da nossa existência.
É tão
agradável saborear uma deliciosa merenda à sombra amiga das árvores frondosas
de qualquer mata, ou sob o abrigo protector de um toldo, olhando o mar, ouvindo,
sentindo, cheirando o mar, o vaivém e o marulhar das suas ondas, na companhia
de amigos e de familiares, num cálido dia de Verão! Porém, esses lugares – campo
ou praia - depois de os deixarmos, que fiquem tão limpos e cuidados como se ali
não tivesse estado ninguém: nem papéis, nem ossos, nem plásticos, nem latas,
nem garrafas... Nada deverá ficar a macular esses espaços, contribuindo
para a deterioração do meio ambiente e, por conseguinte, para a destruição da
Natureza. Todos os detritos deverão ser metidos em sacos plásticos e trazidos
para o contentor do lixo. Custa tão pouco e manteremos esses lugares limpos,
proporcionando aos que os ocupem depois
de nós, o mesmo prazer que nós proporcionaram.
É deprimente
passearmos pela mata ou pela praia e encontrarmos espalhados pelo chão toda a
espécie de resíduos, dando a conhecer o baixo nível, a falta de civismo e de
respeito pelo seu semelhante das pessoas
que utilizaram esses espaços. Um ambiente limpo e saudável é um bem e
um direito que pertence a cada um
de nós, e todos temos o dever de
contribuir para que esse bem se mantenha
em perfeitas condições.
Cuidado com
os incêndios! A ponta de um cigarro mal apagada, um caco de vidro que ficou na
mata exposto aos raios ardentes do sol de Verão, uma fogueira que se fez e que
não se apagou convenientemente… São
“pequenos descuidos” que podem dar início a incêndios de proporções
incalculáveis, com grandes prejuízos tanto para a vida vegetal, como para a
vida animal, proporcionando também enorme
poluição do ar, sem esquecermos o enorme peso que os incêndios têm na
economia do País.
Portugal era
um país maravilhoso, coberto por
extensas florestas muito verdes, de árvores majestosas; e, apesar de continuar um
país muito bonito, perdeu alguns dos
seus encantos e muita da sua riqueza com os inúmeros incêndios que o têm
assolado desde há alguns anos. A serra
do Marão, a do Gerês, a de Sintra... e tantas outras, que foram povoadas por
grandes florestas, são agora cobertas por uma vegetação rasteira, a maior parte
composta de tojos, giesta, carquejas, urzes e, pouco mais. As majestosas
árvores que as vestiam desapareceram devoradas por incêndios devastadores, dos
quais, muitos poderão ter sido provocados por pequenos descuidos.
Cuidado! A
floresta é património da Humanidade. É o
nosso escudo. Determina a nossa
qualidade de vida. Determina a qualidade do ar que respiramos. Se matarmos a
floresta a nossa vida corre perigo. A vida Humana, a vida na Terra corre o
perigo de extinção.
Vivamos as
nossas férias de Verão com alegria e descontracção, mas também com
responsabilidade e respeito por nós, pelos outros e pelo meio ambiente.
Jeracina Gonçalves
PS: Este texto foi escrito há muitos anos e publicado no
jornal da minha escola “RUA DA IMAGINAÇÃO”.
Parece-me um tema sempre actual. Resolvi
publicá-lo de novo. JG
segunda-feira, junho 15, 2015
ROSAS VERMELHAS
A vida trocou-me as voltas.
Bordou o meu caminho de seixos e pedras soltas
entre renques de alecrim, de tojos e de giestas.
Bordou o meu caminho de seixos e pedras soltas
entre renques de alecrim, de tojos e de giestas.
Rosas? Nem sequer vê-las!
Vermelhas, ou amarelas.
Jeracina Gonçalves
28/02/15
quinta-feira, junho 04, 2015
Preciso de luz
A escuridão escorre por entre os dedos das árvores
Cai direta no meu coração desejoso da carícia luminosa da luz.
A luz, que ilumine os cantos escuros
Que, pouco a pouco, tomam espaço do meu coração.
Mas não.
Não vejo réstia de sol, luz de alvorada, luz de luar…
Nada, para o meu coração iluminar.
Só as nuvens crescem
Só nuvens densas teimam em acumular-se sobre o meu horizonte
Só a escuridão se estende e adensa sobre a vastidão do meu mar.
Preciso de uma aragem pura, benfazeja,
Que enxote as nuvens do meu céu e as faça navegar
Quais pétalas de tule branco levadas no vento pelo espaço a vogar.
Preciso de luz! Luz para meu coração
iluminar!
Jeracina Gonçalves
23/05/2015
domingo, maio 24, 2015
…ATÉ QUE O FIO SE PARTA.
Que importa o que eu
quero,
O que eu penso
Ou o que eu sinto?
O que eu penso
Ou o que eu sinto?
A vida não corre em
função do meu pensar,
A vida não corre em função da minha vontade
Do meu querer
A vida não corre em função da minha vontade
Do meu querer
Nada gira sob acção do
meu desejo
Nada gira sob acção da minha decisão
Nada gira sob acção da minha decisão
Posso, às vezes...
Ter a ilusão que comando o meu viver
Que impulsiono a minha acção
Ter a ilusão que comando o meu viver
Que impulsiono a minha acção
Mas… não.
É apenas ilusão
É apenas ilusão
Cedência da Luz
Suprema que a Vida determina
Em algumas
circunstâncias
A minha vontade pode parecer alavanca
Dar-me a ilusão de que comando a minha vida
A minha vontade pode parecer alavanca
Dar-me a ilusão de que comando a minha vida
Que determino o meu
viver
Mas... não.
É apenas ilusão.
É apenas ilusão.
Cedência da Força
Maior
Essa Luz Universal que motiva o meu viver
Essa Luz Universal que motiva o meu viver
Que motiva o teu viver
E toda a Força Vital que preenche o Universo
E toda a Força Vital que preenche o Universo
Cedência dessa Luz
Superior
Dessa Luz Universal que tudo rege e domina
Dessa Luz Universal que tudo rege e domina
Eu aqui sou um pião
Tu, aqui, és um pião…
Tu, aqui, és um pião…
Todos somos piões
rodopiantes nas mãos dessa Força Maior
Dessa Suprema Luz que rege o Universo
Dessa Suprema Luz que rege o Universo
Todos somos piões
rolando...rolando… rolando…
Até que o fio se parta
Até que o fio se parta
Depois...
Que acontecerá depois?
Que acontecerá depois?
Jeracina Gonçalves - Barcelos/Portugal
17/04/2015
segunda-feira, maio 18, 2015
PALAVRAS DE VELUDO
Neste tempo desbotado de portas e janelas cerradas
Só palavras de veludo, luminosas, bem macias,
de ti quero ouvir!
Só palavras de veludo eu a ti quero dizer!
Só palavras de veludo entre nós serão trocadas.
Palavras, com sorrisos nos lábios e doçura no olhar.
Na boca, doce e gostosa, o sabor do verbo amar.
Só palavras de veludo da cor do azul celeste,
Macias, aconchegantes, para nelas nos enroscarmos
E aquecermos este tempo tão desbotado e agreste.
Só palavras de veludo luminosas, perfumadas,
de ti quero hoje ouvir!
Palavras de veludo pra mimar o meu coração
tão cansado, abandonado
neste tempo desbotado e esquecido de sorrir.
Só palavras de veludo quero para ti dizer.
Só
palavras de veludo de ti quero hoje ouvir.
Palavras, com sorrisos nos lábios e doçura no olhar.
Na boca, doce e gostosa, o sabor do verbo amar.
Só palavras de veludo da cor do azul celeste,
Macias, aconchegantes, para nelas nos enroscarmos
E aquecermos este tempo tão desbotado e agreste.
Só palavras de veludo luminosas, perfumadas...
Palavras de veludo pra mimar meu coração
Neste tempo desbotado e esquecido de sorrir.
Só palavras de veludo quero para ti dizer.
Só
palavras de veludo de ti quero hoje ouvir.
Palavras, com sorrisos nos lábios e doçura no olhar.
Na boca, doce e gostosa, o sabor do verbo amar.
Jeracina Gonçalves
05/05/2015
sábado, maio 16, 2015
CAMINHADA
E a vida decorre assim,
entre as muralhas deste tempo
que engole o meu
tempo
sem tempo para mim.
Daqui para ali…
De lá para cá…
A manhã esgotou-se, devagar,
por entre
cadeiras de rodas
e macas estacionadas no corredor.
A tarde esvai-se, também, sem luz e sem cor.
Escorre, lentamente, pelo mesmo circuito da dor.
Daqui para ali…
De lá para cá…
E a vida decorre assim,
entre as muralhas deste tempo
que engole o meu
tempo
sem tempo para mim.
Jeracina Gonçalves
16/05/2015
Gosto de escrever. É uma necessidade, quase um vício. Faz parte de
mim. É intrínseco ao meu Ser.
Utilizando o ecrã do meu computador
ou uma esferográfica e qualquer pedaço de papel em branco, todos os dias tenho de
escrevinhar qualquer coisa, mesmo que seja apenas uma qualquer despretensiosa
frase. Faz-me falta. Faz-me bem. Ajuda-me a despegar os pés da terra, a
evadir-me por entre a dimensão do sonho, esquecendo um pouco a realidade menos
prazerosa que, às vezes, domina o meu quotidiano.
Não há melhor remédio, quando o tempo cansa e se faz comprido, para encurtá-lo e torná-lo apetecível, rápido, alado. Ganha asas como por milagre. Voa e leva-me para lugares amenos que enchem o meu coração e levam de mim o cansaço que me estagnava a alma. Mantinham-na presa, dolente, em circuitos fechados ao ar e à luz da vida. E a própria alma ganha asas e voa para lugares que só ela sabe identificar. E o poema, o texto às vezes está ali, à espera que lhe abra a porta, completamente pronto. Formou-se sem que me tenha apercebido e brota livremente, como nascente a brotar livre e fluida da rocha, mal lhe dou oportunidade. Flui como uma torrente límpida, sem escolhos no caminho. Outras vezes cresce uma barreira no leito, como se qualquer enxurrada entulhe e trave o fluxo espontâneo da torrente. E as palavras empilham-se, sem nexo, contra o muro da barreira à espera que surja uma brecha por onde possam gotejar, uma a uma, e se organizarem em frases. Pouco a pouco o poema ou o texto vão crescendo e agarram o tempo, que, então, escorre como areia seca por entre os dedos.
Não há melhor remédio, quando o tempo cansa e se faz comprido, para encurtá-lo e torná-lo apetecível, rápido, alado. Ganha asas como por milagre. Voa e leva-me para lugares amenos que enchem o meu coração e levam de mim o cansaço que me estagnava a alma. Mantinham-na presa, dolente, em circuitos fechados ao ar e à luz da vida. E a própria alma ganha asas e voa para lugares que só ela sabe identificar. E o poema, o texto às vezes está ali, à espera que lhe abra a porta, completamente pronto. Formou-se sem que me tenha apercebido e brota livremente, como nascente a brotar livre e fluida da rocha, mal lhe dou oportunidade. Flui como uma torrente límpida, sem escolhos no caminho. Outras vezes cresce uma barreira no leito, como se qualquer enxurrada entulhe e trave o fluxo espontâneo da torrente. E as palavras empilham-se, sem nexo, contra o muro da barreira à espera que surja uma brecha por onde possam gotejar, uma a uma, e se organizarem em frases. Pouco a pouco o poema ou o texto vão crescendo e agarram o tempo, que, então, escorre como areia seca por entre os dedos.
Hoje aqui estou tentando
escrever qualquer coisa que transmita uma ideia, ilustre um quadro de Amor, enobreça um pensamento, mas as palavras, as frases ficam presas numa barreira
hermética que não deixa escapar qualquer gota que possa tornar-se a essência de um novo poema, ou de qualquer texto minimamente apetecível. Um vazio me enche, e domina cada
uma das minhas emoções.
Jeracina Gonçalves
Barcelos/Portugal,15/05/2015
sexta-feira, maio 08, 2015
NA PENUMBRA DO
ENTARDECER
“Na penumbra do
entardecer
escondeu-se teu brilho ardente
escondeu-se teu brilho ardente
e o cheiro da terra
quente,
que deixaste em teu lugar”
que deixaste em teu lugar”
em volutas pelo ar
entra-me pelas
narinas
embriaga-me os sentidos
embriaga-me os sentidos
e em mim vem despertar
as radiosas auroras
doutros tempos,
noutros lugares
sob o lençol das
estrelas
nos braços vigorosos do mar.
nos braços vigorosos do mar.
A neblina cresce sobre o mar
E embarga o meu olhar.
E embarga o meu olhar.
Nesse barco da
memória
em que me deixo embarcar
em que me deixo embarcar
nesse barco, a
navegar,
vagueio pelos mares d’outrora
vagueio pelos mares d’outrora
e pelas radiosas
auroras
com cheiro a maresia,
com cheiro a maresia,
iluminadas com
estrelas
a luzir durante o dia
a luzir durante o dia
que me apraz recordar.
Nesse barco da
memória,
nesse barco a navegar
nesse barco a navegar
sulco as vertentes da
serra
sulco as ondas alterosas do mar
sulco as ondas alterosas do mar
bebo a luz límpida
das estrelas
boio na fluidez ondulante do ar.
boio na fluidez ondulante do ar.
Nesse barco da
memória
nesse barco a navegar
nesse barco a navegar
venço as procelas da
vida
venço os baixios deste mar.
venço os baixios deste mar.
Jeracina Gonçalves, Barcelos/Portugal
sexta-feira, maio 01, 2015
SENHOR, NÃO GOSTO DE ISTO VER!
Senhor, eu não sou santa. Demónio também não sou.
Há coisas neste mundo difíceis d’entender
Coisas que me fazem doer
Com as quais eu não me dou:
Com as quais eu não me dou:
Gente que sofre horrores só para sobreviver
Outra, como vampiros, atraiçoa-a no seu crer,
Suga-lhes o sangue, a alma, até a morte ocorrer.
Senhor, não gosto de isto ver!
Quem me dera ter as armas pra isto subverter!
Essas aves predadoras, esses chacais assassinos,
Sem olhar que o outro pisam, que sangra pelo olhar
Rompem a vida, os sonhos, de homens, mulheres e meninos
Depenam-nos ao infinito e abandonam-nos à sua sorte
Até lhes causarem a morte.
Tanta maldade, Senhor, tanta avidez pelo ter
Faz minha alma doer.
Senhor, não gosto de isto ver!
Quem me dera ter as armas pra isto subverter!
A Terra é lugar belo para se amar e viver.
Porém causa-me questões difíceis de entender:
Por que há uns com tanto e outros sem o mínimo?
Nem sequer para comer?
Senhor, Meu Jesus, põe cobro nesta aberração:
Que toda a gente do mundo, dia-a-dia, tenha o pão
Um teto, um abraço, uma mão na sua mão.
A esses “donos do mundo” abre-lhes o coração.
Fá-los olhar para baixo. Que vejam onde põem os pés.
Peguem as mãos dos pisados e caminhem com eles.
Ao lado!
Ao lado!
Tanta maldade, Senhor, tanta avidez pelo ter…
Voracidade tamanha...sem olhar que ao outro dói,
Faz minha alma doer.
Senhor, não gosto de isto ver!
Quem me dera ter as armas pra isto subverter!
Jeracina Gonçalves
21/04/2015
sábado, abril 25, 2015
O SOM DA POESIA...
A poesia é som, é
cheiro, é cor, é sabor
É sensibilidade, é amor, dor, raiva, rancor…
É a expressão do sentir
que toca o coração.
A poesia tem o som da liberdade.
O som que embala a minha alma,
Põe asas em meu pensamento
Põe asas em meu pensamento
Dá-lhe espaço para voar.
O seu canto e o seu encanto
Dão-me ânimo, alegria
Dão-me ânimo, alegria
Preenchem o meu dia-a-dia
E são a minha terapia.
E são a minha terapia.
A poesia tem o som da liberdade.
Tem o som do
pensamento que cresce em volta de ti,
Em volta de cada momento que contigo não vivi;
Tem o som do teu
olhar fitando os olhos meus
Sempre que meu olhar vai ao encontro do teu;
Tem o som da tua
voz, rouca de emoção,
A ciciar ao meu ouvido o som do teu coração;
Tem o som da maresia, do beijo doce do mar;
O som verde e o azul, o som de ir e voltar
Na mansidão das águas, velas brancas a velejar
E gaivotas a navegar nas asas que aseiam o mar;
Tem o som de águas brancas a despegar-se do ar
Do riacho a soluçar
Dos montes que cerram o céu á força do meu olhar
Do sol espelhando o mar
Da lua, que aconchega o casal a
namorar no cantinho do jardim
E se for a beira-mar…
Tem o som verde dos prados matizados de mil cores
Das plantas dos montados com seus deliciosos odores;
Tem o som da alvorada em dias de rouxinol
Dos horizontes raiados opostos ao pôr-do-sol;
Tem o som das avezinhas, em bando, a planar
Das crianças a gargalhar…
Tem o som da brisa leve quando abraça os pinhais
Tem o som das andorinhas que enfeitam os beirais
Tem o som das cachoeiras sobre límpidos cristais…
A Poesia tem o som do meu olhar sentado na berma do mar
Ou no alto de uma montanha com horizonte circular!
A Poesia tem o som da Liberdade.
Dá asas ao meu Pensamento. Dá-lhe espaço para voar!
Jeracina Gonçalves
17/04/2015
Escuto os sorrisos d’aurora
Que me saúdam rasgados,
Belos como a água mais pura
Que me saúdam rasgados,
Da tela, em cinzas pintada,
-Aconchego da Natureza-Belos como a água mais pura
Que brota da rocha mais dura
Da encosta da montanha.
Bebo-os
com sofreguidão.
São o
mais puro elixir.
Nutrem o meu coração.
Nutrem o meu coração.
Madrugada do dia 07/04/ 2015
terça-feira, abril 21, 2015
VENTO FORTE
A Natureza ensolarada, violentamente açoitada
Por Bóreas, enfurecido, vive em grande confusão:
Um Bóreas enraivecido, com ânsias de destruição,
Investe, violentamente, contra balcões e beirais
Telhados, tapumes e taipais…
Os peões, na calçada,
Sem força para susterem a força desse gigante
Sem força para susterem a força desse gigante
Rodopiam, rodopiam, quais frágeis piões de brincar,
Nas mãos hábeis da criança que os saiba dominar;
E as árvores, depenadas, são vergônteas amedrontadas
Nas mãos fortes do gigante nesta linda madrugada.
Bem azul e ensolarada. O que me leva a pensar
Que esta peleja tão dura, esta cobarde ofensiva
Seja inveja. Nua e crua. De Bóreas, enciumado,
Contra Apolo, o luminoso, o querido, o bem-amado.
A Natureza açoitada resiste com altivez
A investida traiçoeira deste Bóreas enraivado.
Janeiro/2015
Jeracina Gonçalves
sábado, abril 18, 2015
Hoje de madrugada, antes do sol acordar,
passei por tua casa e deixei no teu armário
os beijinhos que
as estrelas deixaram ontem no mar,
que roubei para te
dar.
Quando abrires o teu armário não assustes os beijinhos.
Agarra-os bem de mansinho e pede-lhes com jeitinho
que te tragam as estrelas para iluminar teu caminho.
Jeracina Gonçalves
17/04/2015
O AMOR
O Amor é uma flor que nasce no coração.
Como qualquer outra flor
Requer cuidados e atenção.
Requer cuidados e atenção.
Todos os dias regado
Arado
Bem arejado
Arado
Bem arejado
Liberto das ervas
daninhas
Vai em força desabrochar
Vai em força desabrochar
Avivar a sua cor
Libertar o seu odor
Espargir em seu
redorLibertar o seu odor
O odor inebriante
De tão magnifica flor!
Jeracina Gonçalves
18/05/2015
quinta-feira, abril 09, 2015
quinta-feira, abril 02, 2015
sábado, março 28, 2015
UMA ORQUESTRA SEM RIVAL
A
Natureza
com seu canto de sonâncias tão diversas
com seu canto de sonâncias tão diversas
a vibrar em cada instante sob a batuta Divina
resulta em timbre perfeito, melodia sem igual!
Sejam da serra ou do mar
seus acordes têm a força que faz meu coração vibrar
e põem luz no meu olhar.
seus acordes têm a força que faz meu coração vibrar
e põem luz no meu olhar.
A Natureza, com seu canto e seu encanto,
é meu canto, meu encanto, meu estímulo neuronal!
Jeracina Gonçalves - Barcelos/Portugal
sábado, março 21, 2015
UM SOPRO DE PRIMAVERA
Sobre a encosta da terra entorpecida
Da terra vencida
Derrama seu sopro terno e manso
E a terra se abre num sorriso de esperança
E a terra se abre num sorriso de esperança
E em si reforça a chama da vida.
A chama da vida
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Manifesta-se em imagens risonhas e coloridas
Imagens que aconchegam o olhar
Saúdam a VIDA.
Imagens que aconchegam o olhar
Saúdam a VIDA.
E a chama da vida permanece em si
Renovada e forte
Renovada e forte
Espontâneo
Intimo nos olhares...
Inerente do fogo que aquece o coração.
A chama da vida
Renovada e forte,
Feita fluidez e mudança a cada instante
(Re)desenha-se na Natureza em imagens sublimes
Renovada e forte,
Feita fluidez e mudança a cada instante
(Re)desenha-se na Natureza em imagens sublimes
Põe encantamento nos olhares
Põe leveza nos corações que se deixem libertar.
Põe leveza nos corações que se deixem libertar.
A chama da vida
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Manifesta-se na pequena semente
No colo da terra em broto
A espreitar
Em busca do beijo do sol
No colo da terra em broto
A espreitar
Em busca do beijo do sol
Para com ele se acalentar
Ganhar ânimo
Crescer
Ser planta
Florescer
Ser fruto.
Ser de novo semente na terra
Crescer
Ser planta
Florescer
Ser fruto.
Ser de novo semente na terra
Ser nova planta a crescer;
A chama da vida
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Manifesta-se no sorriso franco da generosa flor
À abelha diligente que nela procura o alimento;
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Manifesta-se no sorriso franco da generosa flor
À abelha diligente que nela procura o alimento;
Nas patitas o sedimento
Vai outra flor visitar
Vai outra flor visitar
Outra flor fecundar
Dar o fruto
Aamadurar
Dar o fruto
Aamadurar
De novo semente na terra
E nova planta a crescer;
E nova planta a crescer;
A chama da vida
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Manifesta-se nos alegres passarinhos
Em busca de ervas secas e pauzinhos
Em busca de ervas secas e pauzinhos
Para construírem seus ninhos
Casinha para seus filhinhos...
Casinha para seus filhinhos...
….
Chega a Primavera com seu ar e sua graça
Derrama sobre a encosta da terra entorpecida
Da terra vencida
Seu sopro terno e manso.
A terra abre-se
A terra abre-se
Em si reforça a chama da vida.
A chama da vida
Renovada e forte
Feita fluidez e mudança a cada instante
Manifesta-se em imagens risonhas e coloridas
Imagens que saúdam a VIDA
Nas cascatas em flor que descem pelas encostas
Nos tapetes coloridos que enfeitam bermas e prados
Nos olhos sorridentes da criança bem-amada
No brilho intenso
Espontâneo
Intimo no olhar
Espontâneo
Intimo no olhar
Inerente do fogo que aquece o coração…
E a terra (re) desenha-se em imagens belas em cada
desabrochar
Põe encantamento no olhar e leveza no coração que
se deixe libertar.
Barcelos, 21/03/2015
Jeracina Gonçalves
sábado, março 14, 2015
“Ninguém diga que está bem!”
Estou aborrecidíssima: uma trinca numa ameixa linda, vermelha,
luzidia, a rebentar de madura, fez saltar o chumbo de um dente já
“recauchutado” e deixou-me com este aspeto degradante e desconfortável em que
me encontro.
Custa a crer que uma ameixa bem madura conseguisse causar
tal estrago, mas não há dúvida. Aconteceu. Ainda se fosse um dente molar,
escondido lá para trás, mas um canino!...
Vê-se ao menor descuido. Nem me posso rir.
E logo comigo que gosto tanto de rir abertamente, espontaneamente e sem qualquer constrangimento.
Dá-me força, faz-me sentir leve, saudável... Sei lá... Acende-me qualquer luz interior que me traz entusiasmo e alegria. Dá-me ânimo, é bom, faz bem e adoro fazê-lo. Liberta-me. É espantoso como rir me liberta! Sinto que uma boa gargalhada me afasta dos médicos e das farmácias. Tenho verdadeira convicção de que assim é. Mas ,assim desdentada, como poderei fazê-lo? É um espectáculo deplorável. E logo hoje, que tenho um jantar social a que não poderei faltar!
Vê-se ao menor descuido. Nem me posso rir.
E logo comigo que gosto tanto de rir abertamente, espontaneamente e sem qualquer constrangimento.
Dá-me força, faz-me sentir leve, saudável... Sei lá... Acende-me qualquer luz interior que me traz entusiasmo e alegria. Dá-me ânimo, é bom, faz bem e adoro fazê-lo. Liberta-me. É espantoso como rir me liberta! Sinto que uma boa gargalhada me afasta dos médicos e das farmácias. Tenho verdadeira convicção de que assim é. Mas ,assim desdentada, como poderei fazê-lo? É um espectáculo deplorável. E logo hoje, que tenho um jantar social a que não poderei faltar!
Como farei? Juro que não sei como fazer. O que sei, sem
qualquer dúvida, é que detesto ver pessoas desdentadas. Dá-lhes um ar de
descuido, de abandono, de desleixo… É degradante, e pronto! E é assim que me sinto agora: degradada
e com um aspecto degradante. Preciso de resolver esta situação rapidamente. Mas assim... de repente... não sei.
Não sei mesmo como a resolvê-la. O que me deixa ainda mais deprimida. E há o tal jantar…
Não sei mesmo como a resolvê-la. O que me deixa ainda mais deprimida. E há o tal jantar…
Tenho de decidir como vou fazer, dê por onde der.
O primeiro passo será, sem dúvida, telefonar para o meu
dentista. É o mais inteligente. Só ele me poderá ajudar -me a sair deste impasse e a solucionar-me este problema. E eu que não gosto nada, mas mesmo nada, de sentar-me na cadeira do
dentista. Detesto-a. Dei-lhe até um nome muito especial que, quanto a mim,
assenta-lhe que nem uma luva: “A Cadeira da Santa Inquisição”.
Não acham que foi um momento de sublime inspiração?
Não acham que foi um momento de sublime inspiração?
É horrível estar ali de boca aberta, com a broca a
escarafunchar nos meus dentes e aquele barulho a roer… a roer… nos meus ouvidos.
É terrível! Insuportável! O barulho da broca mexe-me com os nervos e deixa-me
ansiosa. Temo que chegue a um sítio qualquer, que não esteja anestesiado e me
cause dor profunda, dilacerante, insuportável; e essa dor atormenta-me o
pensamento logo que a broca começa a roer, a roer… E quando tal pensamento me
domina, parece que sinto a dor, implacável, a perfurar o meu maxilar.
É medonho!
E também detesto o aspirador na minha boca: deixa-ma seca,
áspera…
E a ansiedade da espera, enquanto o dentista prepara a
broca e a assistente, entretanto, já mandou abrir a boca e colocou o aspirador?
Não, definitivamente detesto ter de ir ao dentista. Abomino-o
profundamente. É terrivelmente desconfortante. Mas, que fazer? A necessidade
obriga. E lá vem o “tem de ser”.
E o “tem de ser” tem
muita força. Assim como “O que não tem remédio...” E
agora não tenho remédio. Preciso de procurar um dentista urgentemente e, de
preferência, que me possa atender já; pois, como disse, tenho um jantar a
que não posso faltar.
Quando é preciso, não há broca, não há aspirador, não há ferro que o impeça. É preciso, e pronto. Está tudo dito. E agora tem mesmo de ser. Não o posso evitar, nem protelar por mais tempo. Quanto mais depressa resolver esta situação, melhor. Recuso-me a dar o espetáculo degradante de aparecer perante, seja quem for (além do dentista, claro), assim desdentada.
Quando é preciso, não há broca, não há aspirador, não há ferro que o impeça. É preciso, e pronto. Está tudo dito. E agora tem mesmo de ser. Não o posso evitar, nem protelar por mais tempo. Quanto mais depressa resolver esta situação, melhor. Recuso-me a dar o espetáculo degradante de aparecer perante, seja quem for (além do dentista, claro), assim desdentada.
Vou ligar-lhe imediatamente. Oxalá tenha disponibilidade
para me atender.
Mas… e se ele não está, ou se não pode atender-me? Como
farei? Como resolverei o problema?
Olha que é bem verdade: “Ninguém
diga que está bem!”.
Esta expressão ouço-a frequentemente em situações menos agradáveis,
tal como esta em que me encontro, e é perfeita para ilustrá-la.
Como é que há dois míseros minutos poderia imaginar que
estaria agora nesta situação deplorável?
Estava tão animada, tão deliciada a antegozar o prazer de
saborear aquela ameixa carnuda, corada, luzidia, apetecível, e à primeira
dentadinha de nada, fico nesta situação desconfortável, aviltante, sem saber se
tenho possibilidade de resolvê-la nas próximas horas!
Bom, tenho de deixar de pensar e agir rapidamente, só assim
poderei sair deste impasse. Esta é daquelas situações que só se podem
solucionar, agindo. E agindo depressa. Vou ligar ao meu dentista.
Deixa ver, tenho por aqui o número no meu telemóvel:
Doutor… doutor…doutor… Ah! Que arrelia! Não tenho aqui o
número dele. E eu que tinha quase a certeza de que o tinha gravado no
telemóvel. Mas não. Deve estar ali, na agenda. Vou ver. Aos anos que lá vou já
tinha obrigação de saber marcá-lo de cor, mas não sei mesmo. Não tenho memória
nenhuma para guardar números. Vou ver na agenda.
Deve estar… Deixa-me ver…, deixa-me ver… Passei-a toda de
novo há pouco tempo. Deve estar por aqui.
Doutor… doutor… doutor…
Não, não está. Aqui também não está. Como é que me escapou! Não o copiei da agenda antiga, está visto! Escapou-me. E agora, que
faço?
Ah! Pois! Há sempre o recurso à Lista Telefónica. Aí não
deve falhar.
Cá está! É este mesmo: Dr. Rui…Já não era sem tempo! Vou
ligar-lhe imediatamente. Espero que esteja e possa atender-me já.
…Oh! Não! Ninguém atende! Será que está de férias?
Não! Não deve estar de férias. Não é tempo de férias. Ou
será que está?...
Não, não pode estar! Tentarei de novo mais tarde. A
empregada saiu para fazer qualquer recado e por isso não atende o telefone. É
isso. Voltarei a ligar mais tarde. Entretanto pedirei aos céus para que não
esteja de férias.
“Ninguém diga que está bem!”
Jeracina Gonçalves
PS: Dando uma volta pelas pastas do meu computador,
encontrei este texto, escrito há uns
anos, que acabei por achar engraçado e resolvi
publicá-lo.
sexta-feira, março 13, 2015
O QUADRO ENCANTADO
Ao escancarar a janela, nesta fresca madrugada,
meu olhar, deliciado, bebe com profundo deleite,
o belo quadro pintado pela mão da natureza
na tela cinza claro, que veste o céu d’alvorada.
O sol não pinta a aurora. O ar é quedo e manso.
Só o alado movimento de passarinhos sem descanso
quebra a paz deste quadro, tão simples e tão belo,
tecido na filigrana fina das belas árvores despidas.
A sua beleza serena, bem simples e bem singela,
mana sobre o meu olhar em ondulações de Paz
ao escancarar a janela nesta fresca madrugada
prá tela cinza claro, que veste o céu d’alvorada.
ao escancarar a janela nesta fresca madrugada
prá tela cinza claro, que veste o céu d’alvorada.
E para maior primor deste quadro encantado
os passarinhos cansados do alado movimento
vão pousar serenamente nos fios do rendilhado
que veste a madrugada, na tela cinza traçado.
que veste a madrugada, na tela cinza traçado.
Barcelos, 10/03/2015
Jeracina Gonçalves
domingo, março 08, 2015
PORQUE SOU MULHER
Sou a terra negra e fértil que acolhe a semente da vida.
Do Amor, eu sou o Templo!
Sou o ninho onde a semente germina.
Em meu ventre um ser se forma. Cresce.
Em meu ventre um ser se forma. Cresce.
Meu ventre guarda-o, suporta-o, transporta-o
Em meu ventre aguarda o tempo de surgir
À vida se mostrar, abrir os olhos, sorrir.
À vida se mostrar, abrir os olhos, sorrir.
Sou a Mãe, porque, na vida, sou Mulher!
Sou Mulher e sou amante
Sou irmã e sou amiga
Sou companheira, inimiga
Sou santa e sou galdéria
Sou a luz e a escuridão
Sou a noite e sou o dia
Sou tristeza e alegria
Sou aço, ouro, lama
Sou o gelo e sou a chama
Sou vulcão em actividade de lava fervente.
Sou também água fresca de fluir permanente.
Minha alma é doce e forte:
Gatinha a ronronar entre os braços do amor
Gatinha a ronronar entre os braços do amor
Nesta duplicidade latente
Da vida, sou o humano suporte
Porque, na vida, eu sou Mulher!
Barcelos, 08/03/2015
Jeracina Gonçalves
quarta-feira, março 04, 2015
terça-feira, março 03, 2015
SILÊNCIOS QUE ME FALAM DE VIDA
Há silêncios cheios de palavras cheias, intensas,
significativas.
Silêncios que falam de esperança, de sonho, de vida
apetecida
Nos olhares enamorados, que se cruzam em flechas ardentes;
Nas mãos que se tocam, se agarram e se apertam frementes...
Há silêncios que cantam a vida na melodia límpida do olhar
A escorrer líquido da chama que arde no coração
A escorrer líquido da chama que arde no coração
Do tamborilar das lágrimas sobre as palmas das folhas abertas
Da melodia da brisa carinhosa a abraçar o corpo da Árvore-Mãe
Do verde matizado dos campos sob o celeste azul diáfano
Do ondulado tranquilo das águas ao ritmo da brisa mansa…
Há silêncios cheios de palavras cheias, intensas,
significativas;
Silêncios, que falam nos olhares, nos gestos, nos encontros,
nas despedidas…
Silêncios que falam de esperança, de sonho, de saudades.
De ânsias de vida apetecida
De ânsias de vida apetecida
Silêncios que me falam da vida!
Jeracina Gonçalves
3/03/2015
domingo, março 01, 2015
sábado, fevereiro 28, 2015
PRECISO DE SONHO
Preciso de flores. Preciso de sonho.
Preciso de campos largos e floridos
por onde corre a vida da planta a florescer
da semente a germinar
da água límpida a correr e a cantar
da semente a germinar
da água límpida a correr e a cantar
que embriaga minha alma e abrilhanta meu olhar!
Preciso de flores. Preciso de sonho
Preciso de evasão desta realidade crua que me tece a vida
neste tempo, que o tempo esquece
e as flores, sem calor, sem ar, sem humidade
que lhes sustentem a vida
adormeceram esquecidas nos vãos da janela do sonho
que lhes sustentem a vida
que façam a seiva circular-lhes ao longo dos vasos
as façam abrir seus sorrisos de luzadormeceram esquecidas nos vãos da janela do sonho
Preciso de flores. Preciso de sonho.
Preciso de sonho que me abra o caminho para o sol
Preciso de sonho que m'ilumine esta noite escura
que me tranca a capacidade de sonhar.
Preciso de sonho que m'ilumine esta noite escura
que me tranca a capacidade de sonhar.
Jeracina Gonçalves
domingo, fevereiro 22, 2015
CORRENTE PARTIDA
O sol bate na janela do meu quarto
Mas o meu coração solitário não sente o seu calor.
Está triste, está sozinho
Sem que possa com outro repartir a sua dor.
A dor desta corrente partida
Que leva da minha alma a vida.
A dor desta corrente partida
Na distância do abismo que me sufoca
E no vedante estanque que corta a
ligação.
O sol bate na janela do meu quarto
Mas o meu coração sente o frio da
solidão
Nesta ausência de ti
Na distância do abismo que corta
a ligação.
Jeracina Gonçalves
22/02/2015
domingo, fevereiro 15, 2015
FLOR DE GEADA
"Ela é tão bonita como rara.
Uma “flor de geada” forma-se no outono ou no início de uma manhã de inverno, quando o gelo, em camadas extremamente finas, é empurrado para fora do caule das plantas ou, ocasionalmente, da madeira. ...."
Uma “flor de geada” forma-se no outono ou no início de uma manhã de inverno, quando o gelo, em camadas extremamente finas, é empurrado para fora do caule das plantas ou, ocasionalmente, da madeira. ...."
CHEGOU-ME AGORA POR MAIL. NÃO CONHECIA, NEM NUNCA TINHA OUVIDO FALAR DESTE FENÓMENO DA NATUREZA. É LINDA!
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